Avança qualificação do trabalhador, mas rendimento dos mais qualificados cai mais

Lauro Veiga

Postado em: 29-05-2019 às 18h10
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

A
melhora sensível na formação e capacitação dos trabalhadores desde o começo da
década não veio acompanhada de ganhos proporcionais na renda do trabalho. Pelo
contrário, num paradoxo, foram aqueles com mais anos de ensino que sofreram as
maiores perdas salariais entre o primeiro trimestre de 2012 e igual período
deste ano, numa distorção certamente agravada pela recessão de 2014/16. Os
dados fazem parte de um estudo elaborado pelo pesquisador Daniel Duque, do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE) e divulgado na
semana passada (e explorado em suas principais conclusões na edição do último
final de semana deste jornal).

No
material distribuído e entrevistas à imprensa, o pesquisador menciona
lateralmente o fenômeno da qualificação, mas relaciona a tendência a uma
melhoria eventual do mercado de trabalho ao longo do período analisado. Os microdados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), utilizados por Duque para mostrar
a desigualdade recorde na renda do trabalho no País no começo deste ano,
mostram também que o rendimento médio caiu mais para aqueles trabalhadores com
ensino médio e superior completo.

Na
verdade, todas as faixas sofreram perdas, a questão é que estas foram mais
severas exatamente para aqueles com melhor qualificação, o que sugere que o
ajuste de custos feito pelas empresas, ao sacrificar trabalhadores com mais
anos de estudo, pode ter ainda contribuído de certa forma para agravar o
problema de baixa produtividade observado mais dramaticamente no setor
industrial. Colocado de outra forma, a queda no rendimento real pode ter
desestimulado esse contingente de trabalhadores, dificultando seu engajamento
em práticas e processos que poderiam melhorar a produtividade no chão de
fábrica.

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Mais estudo

Atualmente,
praticamente um terço dos trabalhadores têm ensino médio e/ou superior
completo. A participação desses segmentos no total avançou de 50% no começo de
2012 para 60,4% no trimestre inicial deste ano, com maior concentração entre
aqueles com formação média integral. Se 36,9% dos trabalhadores haviam
concluído o ensino médio no primeiro trimestre de 2012, esse percentual subiu
para 42,1% neste ano. No ensino superior, os trabalhadores com diploma
representavam 13,1% do total e, no início deste ano, passaram a corresponder a
18,3%. A renda real média, no entanto, caminhou em sentido inverso.

Balanço

·  
Aqueles
que concluíram o ensino médio tiveram a maior perda, com o rendimento médio
real baixando de R$ 1.857 (em valores arredondados) para R$ 1.608, numa redução
de 13,4%.

·  
Para
os trabalhadores com diploma superior, a queda chegou a 10,2%, pois o
rendimento real médio recuou de R$ 5.354 para R$ 4.809. No primeiro caso, uma
perda de R$ 249 por mês. No segundo, uma queda correspondente a R$ 545.

·  
Para
os demais estratos, como já anotado, os rendimentos ficaram igualmente mais
curtos, muito embora a redução tenha sido de outra intensidade, um tanto mais
moderada, em proporção.

·  
Aqueles
trabalhadores que não chegaram a concluir sequer a primeira fase do ensino
fundamental passaram a representar apenas 7,6% do total, diante de 12,4% no
primeiro trimestre de 2012. Sua renda encolheu perto de 6,1% até o começo deste
ano, saindo de R$ 917,17 para R$ 861,31.

·  
O
rendimento médio dos trabalhadores que completaram a segunda fase do ensino
fundamental sofreu retração de 7,5% no período, caindo de R$ 1.271 para R$
1.175. Sua participação no total de trabalhadores foi reduzida de 17,6% para
15,1%.

·  
As
disparidades continuam em níveis escandalosos e a distância entre os
rendimentos nos dois extremos da classificação ficou ligeiramente mais baixa. O
rendimento médio daqueles com ensino superior completo era 583,8% mais elevado
no primeiro trimestre de 2012, diferença “reduzida” para 458,4%.

A melhoria na formação pode ser observada em
outra comparação. Somadas, as duas fases do ensino fundamental (completo e
incompleto) representavam 49,9% do total de trabalhadores, fatia reduzida para
39,5%, ou seja, 10,4 pontos a menos. 

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