No “PIB sem surpresas”, investimentos e indústria entram em “recessão” de novo

Lauro Veiga

Postado em: 30-05-2019 às 18h25
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

Como
diz o ministro dos mercados, o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro
trimestre não trouxe surpresas. E Paulo Guedes está corretíssimo. De fato, os
dados das contas nacionais divulgados ontem peloInstituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) não trouxeram surpresa alguma, já que a queda
anunciada já era dada como “favas contadas” até pelos mais otimistas. Mas o ministro
dos mercados se equivoca quando minimiza o problema e, mais grave, quando
menospreza a necessidade de adoção de políticas para corrigir os rumos da
economia.

A
esta altura, a bola de cristal dos mercados perdeu as esperanças em um
crescimento mais robusto e já há quem espere um desempenho até mais frágil do
que o avanço de 1,1% colhido nos últimos dois anos, com consultores de renome e
um ex-presidente do Banco Central (BC) já descrevendo um cenário de depressão
econômica, a despeito das regras habitualmente aceitas para definir o estágio
do crescimento nas economias em geral. Com base nessas normas, a economia
brasileira ainda não estaria em recessão, pois “avançou” 0,1% no quatro
trimestre de 2018 antes de cair 0,2% no primeiro deste ano, sempre na
comparação com o trimestre imediatamente anterior.Enquanto os dados iniciais do
segundo trimestre sugerem igualmente uma atividade econômica ainda em
desaquecimento.

Com
base nesse conceito, internacionalmente aceito, dois trimestres consecutivos de
baixa caracterizam uma recessão. Assim, a indústria, pelo lado da oferta, e os
investimentos, no lado da demanda, estariam em “recessão técnica”. O PIB
industrial encolheu 0,3% e mais 0,7% no quatro trimestre de 2018 e no primeiro
deste ano, em relação aos trimestres anteriores. Os resultados negativos não
estão relacionados apenas ao impacto da paralisação virtual da indústria de
minério de ferro, com o desastre de Brumadinho.

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Retrocessos

De
fato, a indústria extrativa, que havia avançado 2,0% no quarto trimestre do ano
passado, desabou 6,3% nos três primeiros meses deste ano (caindo ainda 3,0%
frente ao primeiro trimestre de 2018). Mas o setor de transformação anotou
baixas de 0,9% e 0,5% nos dois últimos trimestres, enquanto a construção perdeu
mais 2,0% no trimestre inicial de 2019. De acordo com o IBGE, as quedas no PIB
da indústria de transformação foram influenciadas pelos tombos nos setores de
máquinas e equipamentos (como já demonstram os dados do investimento
doméstico), outros equipamentos de transporte (também relacionados ao
investimento) e nas indústrias farmacêutica e de bens alimentícios (ambos
diretamente ligados ao consumo das famílias, que tem andado de lado, no jargão
dos mercados).

Balanço

·  
Nesse
contexto, parece estranho que a taxa de investimentos tenha avançado de 15,2%
no primeiro trimestre de 2018 para 15,5% no mesmo período deste ano. Essa
variação, no entanto, apenas mostra que o PIB em geral apresentou desempenho
mais fraco.

·  
Como
o investimento chegou a avançar nos primeiros trimestres de 2018, antes de
também entrar em desaceleração, a variação acumulada em 12 meses desse
indicador atingiu 3,7% diante de uma elevação de 0,9% para o PIB total.

·  
O
desempenho da indústria pode trazer reflexos para frente no comportamento da
atividade econômica como um todo, conforme analisa o Instituto de Estudos para
o Desenvolvimento Industrial (IEDI).

·  
“Como
a indústria, notadamente a manufatura, é o setor que mais estabelece
encadeamentos com o restante da economia, sua nova etapa recessiva tem grande
possibilidade de se espalhar e atingir a evolução futura do PIB total. Em
outros termos, sem crescimento na indústria, dificilmente a recuperação
econômica irá deslanchar”, avalia o instituto.

·  
A
ausência de medidas contra o desemprego e de estímulo ao mercado de trabalho,
da mesma forma, reduz a possibilidade de uma retomada nos próximos trimestres,
mas poderiam ter poder decisivo para a economia engrenar marcha mais forte.

Se fosse possível reduzir o total de
desempregados em um terço, empregando mais 4,5 milhões de pessoas, considerando
o rendimento médio de todas as ocupações, o consumo receberia uma injeção de R$
10,2 bilhões por trimestre, com ganhos mais duradouros do que a liberação de
recursos do FGTS ou do PIS/Pasep (que trariam resultados
passageiros sobre o consumo das famílias). 

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