Dados do governo mostram que (quase) tudo continua na mesma no mercado de trabalho

Emprego continua reagindo timidamente, num ritmo muito inferior ao desejável para as pretensões de uma recuperação mais acentuada da economia

Postado em: 31-05-2019 às 22h45
Por: Sheyla Sousa
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Emprego continua reagindo timidamente, num ritmo muito inferior ao desejável para as pretensões de uma recuperação mais acentuada da economia

Se
você esperava uma melhoria mais substancial no mercado de trabalho em abril,
fiando-se nos dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), que apontou a abertura de 129,6 mil empregos formais em
abril, a edição mais recente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
mostra que tudo continua como antes no setor. Mais claramente, o emprego
continua reagindo timidamente, num ritmo muito inferior ao desejável para as
pretensões de uma recuperação mais acentuada da economia, com alguma evolução
do emprego com carteira, mas ainda com avanços para a informalidade e para a subutilização
da força de trabalho e um desalento ainda em níveis históricos.

Aliás,
os dados do Caged, embora alardeados como uma vantagem, vieram em abril deste
ano abaixo dos números de igual mês do ano passado, quando o mercado havia
aberto 131,46 mil vagas com registro em carteira. A recuperação tem se mantido
em banho-maria também nesta área. Tanto que, quatro anos e cinco meses depois
de atingir seu nível mais elevado, o número total de trabalhadores com registro
em carteira mantinha-se, em abril deste ano, 6,3% abaixo do saldo anotado em
novembro de 2014. Isso significa que seria precisa criar 2,603 milhões de novos
empregos para retomar os níveis daquele mês de novembro.

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Impacto
temporário

A
valores de 2017, dado mais recente divulgado pela Relação Anual de Informações
Sociais (Rais), considerando o rendimento médio real do período, a perda de
empregos corresponde a alguma coisa em torno de R$ 7,740 bilhões (algo como
3,7% da massa total de rendimentos anotada pela PNADC para o trimestre
encerrado em abril deste ano). Seria possível mais do que dobrar o ritmo de
elevação da massa de rendimentos apenas com a incorporação daquele contingente
ainda alijado do setor formal. Isso significaria uma injeção de recursos
diretamente no consumo, em 12 meses, duas vezes maior do que a liberação em
estudo de recursos do PIS/Pasep e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) – “socorro” que teria efeito apenas temporário sobre a demanda, como a
coluna já anotou. O aumento na contratação, ao contrário, asseguraria ganhos
mais duradouros, abrindo, portanto, uma janela mais ampla para uma retomada de
maior fôlego da atividade econômica.

Balanço

·  
Para
que isso ocorra, a equipe econômica precisaria pensar em políticas de geração
de emprego, criação de frentes de trabalho, investimentos em obras de
infraestrutura e de apoio à construção civil, que tem potencial para absorver
rapidamente o contingente de desempregados, amenizando a crise.

·  
Mas
o projeto de reforma da Previdência, a despeito de sua relevância, concentra
todas as atenções e esforços da equipe (ainda que sua aprovação não venha a ter
o menor impacto sobre a atividade econômica no curto e médio prazo).

·  
A
PNADC, conforme já anotado, confirma que o mercado de trabalho mantém o padrão
anterior. Na passagem do trimestre encerrado em março para o trimestre
terminado em abril, o total de ocupados passou de 91,863 milhões para 92,365
milhões, correspondendo à criação de 502,0 mil empregos (mais 0,55%).

·  
O
total de trabalhadores com carteira assinada de fato avançou, saindo de 35,910
milhões para 36,146 milhões (mais 236,0 mil), respondendo por 47% do aumento
registrado pelo total de ocupados.

·  
Mas
as ocupações sem carteira e por conta própria continuaram concentrando o
incremento do emprego em geral. Os dois segmentos responderam por quase oito
entre cada 10 novas ocupações criadas. O número de empregados sem carteira,
aliás, registrou alta de 1,43%, crescendo mais fortemente do que as
contratações com registro (que variaram 0,66%).

O número de pessoas incluídas entre os
“subutilizados” manteve-se elevado, girando próximo a 28,4 milhões (levemente
acima do dado de março). Adicionalmente, outras 4,875 milhões de pessoas
continuavam em situação de desalento, em alta de 4,2% frente ao trimestre
fevereiro-abril de 2018. 

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