“Coração” da indústria, bens intermediários registram oitavo mês consecutivo de perdas

Lauro Veiga

Postado em: 04-06-2019 às 15h40
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

O
desempenho recente da indústria de bens intermediários, que engloba os setores
fabricantes de insumos, matérias-primas elaboradas e embalagens para toda a
indústria, reflete mais diretamente o momento pouco animador vivido pelo setor
industrial desde meados do ano passado. A produção industrial foi afetada
primeiramente pela crise no abastecimento gerada pela paralisação dos
caminheiros em maio de 2018 e, na sequência, pela incapacidade de uma reação
mais vigorosa em função da demanda doméstica em desaquecimento e, ainda, pela
dificuldade de exportação motivada pela retração econômica na Argentina, um dos
principais destinos dos manufaturados produzidos aqui dentro, e pelo
esfriamento relativo do comércio global de forma mais ampla.

A
pesquisa mensal da produção industrial relativa a abril, divulgada ontem pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresenta o setor de bens
intermediários como um dos destaques negativos, o que contribui para agravar as
incertezas em relação à capacidade da indústria como um todo de esboçar uma
recuperação mais vigorosa nos próximos meses. A produção de bens intermediários
atingiu em abril o oitavo mês consecutivo de perdas na comparação com igual mês
do ano anterior e a quarta queda quando se considera o mês imediatamente
anterior.

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Nos
meses mais recentes, o cenário parece indicar um agravamento, já que a produção
de bens intermediários sofreu baixas de 4,4% em março e de 6,1% em abril, frente
aos mesmos meses de 2018, acumulando retração de 3,1% no primeiro quadrimestre.
Em abril, a produção de insumos para a indústria de produtos alimentícios
finais desabou 12,9%, com redução de 2,0% na produção de derivados de petróleo
e biocombustíveis e recuo de 0,8% para bens intermediários destinados ao setor
de celulose. Ao longo do primeiro quadrimestre, comparado aos quatro meses
iniciais de 2018, a produção de bens alimentícios intermediários encolheu 7,4%,
com baixas de 5,2% para a celulose e de 0,4% no setor têxtil.

Falta
consistência

Mais
claramente, quando o setor de bens intermediários não consegue crescer e, pior,
mantém trajetória constante de baixa, tem-se um sinal muito claro de que a
demanda no restante da indústria mantém-se enfraquecida, embora um ou outro
setor possa, eventualmente, apresentar números mais sólidos. Para que esse
processo tivesse consistência, no entanto, seria de se esperar outro tipo de
comportamento no amplo setor de bens intermediários, o que nitidamente não vem ocorrendo.

Balanço

·  
O
modesto avanço de 0,3% na produção do setor como um todo na passagem de março
para abril tem significado relativo, porque veio na sequência de uma redução de
1,4%. Na comparação com abril do ano passado, registrou-se um tombo de 3,9%.

·  
Neste
caso, a retração ficou concentrada na indústria extrativa, que contribuiu com
76,4% para o resultado negativo da produção geral, em função do desastre em
Brumadinho e da paralisação na produção de minério de ferro.Perto de 29% da
redução vieram das indústrias de alimentos e de petróleo e derivados.

·  
O
indicador utilizado pelo IBGE para aferir a difusão, ou seja, o percentual de
produtos com taxas de crescimento na comparação entre abril deste ano e o mesmo
mês de 2018 saiu de 68,2% para 46,0% – ou seja, menos da metade dos produtos
alcançaram taxas positivas quando comparado o nível de produção realizado em
abril deste ano frente a igual intervalo do ano passado, superando apenas os
períodos em que a crise foi mais aguda na indústria.

·  
Indicador
do comportamento do investimento na economia, a produção de bens de capital
(máquinas, equipamentos, incluindo caminhões) tem crescido na ponta, com
variações de 5,5% em fevereiro, de 0,5% em março e de 2,9% em abril, frente aos
meses imediatamente anteriores. Mas tem se mantido muito abaixo dos números de
2018.

·  
De
fato, a produção desabou 11,1% em março e sofreu novo
recuo em abril, agora de 0,6%, e encerrou o quadrimestre em baixa de 3,1%. Nos
últimos seis meses, foram quatro baixas e dois meses positivos.

As perdas foram mais severas na produção de bens
de capital para os setores de energia (-7,9%) e agricultura (-5,1%).  

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