Melhora (enganosa) em maio, na comparação com o mergulho de igual mês do ano passado

Lauro Veiga

Postado em: 07-06-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

Não
se deixem surpreender, prezados e raros leitor e leitora, se os números da
economia em maio, que já começam a ser divulgados, vierem com sinais de
melhorias visíveis na comparação com igual período do ano passado. Serão
melhorias nitidamente enganosas, porque comparadas a uma base achatada pelo
mergulho observado pela atividade econômica em maio do ano passado em decorrência
direta da greve dos caminhoneiros, que paralisou a distribuição de
matérias-primas, insumos e de produtos finais em diversos setores da economia,
ajudando a afundar ainda mais as expectativas já minguadas de uma recuperação
mais alentada da economia.

Saudados
em certas áreas como um sinal de que, afinal, nem tudo vai mal (com o perdão
pela rima pobre), os números da produção de veículos divulgados na semana que
passou pela Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores
(Anfavea) trazem um bom exemplo do que se pretende demonstrar aqui. Na
comparação com maio do ano passado, a produção do setor saltou quase 30%,
saindo de 212,33 mil para 275,75 mil unidades. Um “estrondo”, não é? Nem tanto.
Apenas para recordar, a produção havia desabado pouco mais de 20% na passagem
de abril para maio do ano passado, ficando ainda em torno de 16% inferior ao
número de veículos produzido em maio de 2017. Na média de março e abril de
2018, a indústria vinha produzindo algo próximo a 267,0 mil unidades mensais.
Comparada a esse número, o resultado de maio representaria uma variação mais
próxima de 3%.

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Algo
semelhante poderá ocorrer com as estatísticas da produção industrial e da
atividade no setor de serviços, duas áreas muito afetadas pela greve de maio de
2018. A pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) mostrou, naquele mês, uma retração de 10,9% na produção industrial
frente a abril e de 6,3% em relação a maio de 2017, enquanto o setor de
serviços apresentava baixas de 4,7% e de 3,8% em cada um daqueles períodos. O
mais provável é que a atividade naqueles setores, a despeito do esfriamento
geral observado desde o final de 2018, registre alguma reação nos dados de maio
deste ano, o que não deverá ser confundido com uma reviravolta na economia em
direção a uma retomada mais relevante daqui em diante.

Queda anunciada

Assim
como a atividade econômica, os índices de preços foram influenciados pela greve
dos caminhoneiros e, agora, tendem a experimentar desaceleração rápida na taxa acumulada
em 12 meses, retomando níveis bem abaixo do centro da meta inflacionária – o
que, na teoria, deveria levar a cortes adicionais nas taxas de juros. Mas a
teoria, neste caso, só parece ser aplicada nas fases de alta dos juros básicos.
Como até mesmo os mercados já antecipavam, as taxas de inflação de maio e muito
provavelmente de junho virão bem mais baixas, depois de absorvidos os “choques”
causados pelas altas nos preços dos alimentos, tarifas e preços públicos.

Balanço

·  
A
variação acumulada em 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), do IBGE, caiu de 4,93% até a primeira quinzena de maio para 4,66%
no fechamento do mês, refletindo a rápida desaceleração do indicador nas duas
semanas finais do mês passado.

·  
Para
comparar, o IPCA-15 de maio, medido entre as duas últimas semanas de abril e as
duas primeiras do mês seguinte, havia alcançado 0,35% (frente a 0,57% nos 30
dias de abril) e baixou ainda mais, para apenas 0,13% nas quatro semanas de
maio (comparado a igual período de abril).

·  
Os
mercados já antecipavam alguma desaceleração em maio, para algo ao redor de
0,20%. Claramente, ela veio mais intensa do que o esperado, em grande parte
porque o custo da alimentação ficou mais barato do que o previsto.

·  
Em
outras áreas, a falta de demanda contribuiu para refrear os preços, como no
caso dos artigos para residência (recuo de 0,10%).

·  
A
redução do IPCA acumulado em 12 meses deveu-se a esse ritmo muito menos intenso
de alta nos preços em maio, mas também porque a taxa de 0,40% observada em maio
do ano passado saiu da série, substituída pela inflação menor em idêntico mês
deste ano.

·  
O
mesmo tende a ocorrer agora em junho. Algumas instituições apostam numa
inflação de 0,02%, que “entraria no lugar” do índice de
1,26% registrado em junho de 2018, derrubando o IPCA para 3,4% em 12 meses (lembrando
que a meta para o ano é de 4,5%).

Ainda sobre o IPCA de maio, o percentual de
itens em alta caiu para 49,3% (frente a 59% em abril). Como a taxa foi muito
mais baixa, a hipótese é de que mais itens subiram, mas em ritmo bastante
moderado. 

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