Sem outras medidas, economia brasileira tende a se manter em estado vegetativo

Parece estar claro que não bastará aprovar reformas ditas “estruturais” para que a economia retome o crescimento.

Postado em: 24-07-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Parece estar claro que não bastará aprovar reformas ditas “estruturais” para que a economia retome o crescimento.

A
esta altura, quando mesmo os escalões mais identificados com um pensamento
econômico mais conservador reconhecem que a situação se aproxima da
insustentabilidade, dada a longa convivência com taxas de desemprego nas
alturas, parece tornar-se mais claro que não bastará aprovar reformas ditas
“estruturais” para que a economia retome o crescimento. A depender de seu corte
e orientação (mais “pró-mercados” ou menos “pró-mercados”, mais “regressivas”
ou mais “redistributivas”), essas reformas até poderão lançar as bases para
algum crescimento no longo prazo, quando todos já teremos sido engolidos pela
história (para parafrasear o mais famoso economista da escola
desenvolvimentista).

A
decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que vai se reunir nos dias 30
e 31 deste mês, dará uma visão do que a equipe econômica pretende daqui em
diante (e a sugestão da coluna é para que não se espere grandes mudanças). Um
corte tímido, algo como 0,25 pontos de porcentagem, o que reduziria os juros
básicos para 6,25% ao ano, certamente não mudará nada no cenário adiante.
Perseverar nas taxas atuais seria ainda mais grave, indicando uma incapacidade
do Banco Central (BC) para antever o futuro imediato e, mais grave ainda, para
perceber o estado atual da economia.

Uma
redução de meio ponto de porcentagem pode até vir, mas seria de certa forma
surpreendente, diante da retórica adotada pela equipe econômica desde a posse,
com viés nitidamente ideológico e a favor dos mercados (e quando se fala “a
favor dos mercados”, entenda-se a favor daquela fatia instalada entre os mais
ricos e que se beneficiam da política de juro altos).

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O fator político

Para
alguns economistas, como o pesquisador associado do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Bráulio Borges, caso os juros
não caíam para pelo menos 5% até o final do ano, não será possível contar com
taxas de crescimento muito maiores do que as atuais no curto prazo, o que
significa dizer que o desemprego ainda continuará massacrando praticamente 13,0
milhões de brasileiros, com todos os seus efeitos sociais e políticos. Em seus
exercícios, Borges trabalha com uma perspectiva de um crescimento na faixa de
2,0% para 2020, ainda muito modesto, mas bem superior às taxas atuais – desde
que os juros básicos recuem para 5,0% antes do final deste ano. Uma redução
mais moderada significaria condenar o País a mais um ano de estagnação
econômica. Resta saber qual será o preço político a ser pago pelo atual
governo.

Balanço

·  
As
taxas de inflação continuam a emitir sinais de uma economia ainda gelada, à
beira de uma estagnação. No mundo real, os preços caminham muito abaixo da meta
inflacionária estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) pelo terceiro
ano consecutivo e tendem a se manter assim pelo quarto ano, caso se confirmem
as expectativas do mercado para 2020.

·  
Esse
comportamento reforça, muito evidentemente, a existência de espaço de sobra
para reduções mais substanciais das taxas de juros, o que teria ainda o efeito
de reduzir pressões sobre as contas do setor público e segurar o avanço da
dívida pública, contribuindo para diminuir as incertezas em relação à saúde
financeira do governo.

·  
O
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do IBGE, ficou
limitado a 0,09% nos 30 dias encerrados na segunda semana de julho. Claro,
houve alta frente ao IPCA de junho (0,01%), mas explicada quase integralmente
por fatores sem qualquer relação com “pressões de demanda”.

·  
Nas
contas do Itaú Unibanco, as altas nos preços das passagens aéreas (18%) e na
tarifa da energia elétrica (1,1%), resultado da adoção da bandeira amarela na
conta de luz das famílias, foram responsáveis por uma contribuição de 0,12
pontos de porcentagem na formação do IPCA-15.

·  
Dito
de outra forma, a exclusão daqueles dois itens levaria o IPCA-15 para terreno
negativo, com deflação (queda nos demais preços na economia, na média) de
0,03%.

Além disso, praticamente metade dos produtos e
itens acompanhados pelo IBGE (50,1%) sofreram altas, o que significa dizer que
praticamente metade não subiu ou sofreu queda. E a inflação veio abaixo do que
esperava o mercado. 

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