Falta dinheiro para famílias de renda mais baixa complementar aposentadoria

Famílias com rendimento total médio de até seis salários mínimos não teriam sobra suficiente de recursos para financiar uma poupança para o futuro

Postado em: 23-11-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Famílias com rendimento total médio de até seis salários mínimos não teriam sobra suficiente de recursos para financiar uma poupança para o futuro

As famílias com rendimento total médio de até seis salários mínimos (R$ 5.724 a valores de 2018) não teriam sobra suficiente de recursos para financiar uma poupança para o futuro e assim complementar o valor de sua aposentadoria depois da entrada em vigor da reforma Previdência. Com base nos dados da mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essas famílias acumularam em 2018 rendimentos totais próximos a R$ 134,85 bilhões, em valores aproximados, já incluindo ganhos alcançados com a “valorização” de seu patrimônio, para enfrentar uma despesa total de R$ 134,04 bilhões.

Em tese, haveria uma “sobra” equivalente a R$ 803,84 milhões, correspondendo a menos de 0,6% do total dos rendimentos familiares para um total de 50,917 milhões de famílias (73,77% do total, algo próximo a 147,8 milhões de brasileiros).Mas há situações de desigualdade mesmo nessa escala, já que somente a faixa com rendimentos médios entre mais de três e até seis salários mínimos (mais de R$ 2.862 a R$ 5.724 mensais), que abriga 30,6% do total de famílias, conseguiria realizar alguma poupança depois de descontadas todas as despesas.Para estes, os rendimentos somaram qualquer coisa ao redor de R$ 83,2 bilhões no ano passado, para uma despesa total de R$ 78,2 bilhões, deixando uma “sobra” em torno de R$ 5,0 bilhões. Ou seja, como todo esforço, teria sido possível poupar apenas 6% da renda total.

Para as famílias com renda de até três salários mínimos, os ganhos não cobrem integralmente as despesas. Aquelas com rendimentos até dois salários, os rendimentos seriam R$ 4,13 bilhões inferiores aos gastos totais, o que representa praticamente um quinto da renda. Considerando-se de uma outra forma, os rendimentos totais permitem pagar pouco mais de quatro quintos das despesas. Na faixa seguinte, que inclui famílias com rendimentos entre mais de dois e até três salários, as despesas somaram R$ 30,75 bilhões diante de receitas de R$ 30,67 bilhões.

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Muito para poucos

Confirmando a extrema desigualdade de renda (e de oportunidades) no País, a POF mostra que apenas 12,45% das famílias, entre aquelas com rendimentos acima de 10 salários mínimos, acumulavam 44,83% dos rendimentos totais e tinham fôlego para poupar em torno de um quarto de sua renda. Traduzido em números, perto de 8,592 milhões de famílias (em torno de 26,3 milhões de pessoas, considerando famílias em média com 3,09 pessoas) receberam R$ 167,91 bilhões, gastaram R$ 126,66 bilhões e puderam “poupar” R$ 41,25 bilhões (24,57% de seus rendimentos). O valor teoricamente poupado por essas famílias representou 76,86% de toda a “poupança” realizada por 69,018 milhões de famílias (pouco mais de 207,0 milhões de brasileiros).

Balanço 

– No balanço final entre ganhos e gastos apontado pela POF, as famílias brasileiras tiveram rendimentos de R$ 374,54 bilhões, dos quais 85,7% (R$ 320,87 bilhões) foram utilizados para fazer frente a despesas em geral. Registrou-se, assim, uma diferença de R$ 53,7 bilhões, qualquer coisa ao redor de 14,3% de toda a renda.

– O problema está no detalhamento desses números. Quase 77% das “sobras” ficaram concentradas entre as famílias com rendimentos acima de 10 salários mínimos (mais de R$ 9.540), que, como visto, representam menos de 12,5% do total de famílias.

– Mais grave ainda: em torno de 45% daquela “poupança” estavam nas mãos de menos de 2,5% do total de famílias (1,706 milhão de famílias, perto de 5,24 milhões de pessoas). Com rendimentos totais de R$ 71,65 bilhões (19,1% do total), essas famílias assumiram dispêndios de R$ 47,53 bilhões, o que lhes permitiu construir um colchão de segurança de pouco mais de R$ 24,1 bilhões.

– Em contraposição, mesmo representando 73,77% do total de famílias, aquelas com rendimentos de até seis salários mínimos tiveram acesso a 36,0% da renda familiar total no País e o volume de dinheiro que conseguiram poupar representou 1,5% das sobras totais depois de pagas todas as despesas.

– Numa estimativa realizada pela consultoria Mercer, com base em estudos anteriores do Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo reportagem do portal UOL (16.11.19), ao reduzir o valor médio das aposentadorias, a reforma da Previdência obrigará os brasileiros a reduzir suas despesas e poupar algo como R$ 480,0 bilhões nos próximos 10 anos.

– Dinheiro que deverá ser direcionado para fundos de previdência complementar e outras instituições de poupança e investimento, algo como 6,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Esses bilhões que as famílias serão obrigadas a economizar, se quiserem ter acesso a aposentadorias decentes, correspondem a 14,4% da massa salarial ampliada disponível, no conceito desenvolvido pelo Banco Central (BC), que inclui rendimentos do trabalho e transferências de renda do governo (aposentadorias e pensões, Bolsa Família e benefícios de prestação continuada). 

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