Serviços respondem por sete em cada 10 pessoas ocupadas, um novo recorde

Pesquisas apontam que economia brasileira caminha para a consolidação de um perfil de baixa especialização - Foto Divulgação

Postado em: 01-02-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Pesquisas apontam que economia brasileira caminha para a consolidação de um perfil de baixa especialização - Foto Divulgação

Os
números finais de 2019 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua
(PNADC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), mostram mais uma vez que a economia brasileira caminha para consolidar
um perfil de baixa especialização e reduzida sofisticação em sua estrutura
produtiva. A pesquisa confirma o avanço do emprego nos setores mais
relacionados aos serviços e a perda de espaço e relevância para a indústria em
geral (destacadamente, no caso, para a indústria de transformação, que tem dado
mostras seguidas de certa incapacidade para retomar taxas de crescimento mais alentadas).

Na
média do ano passado, a economia gerou mais 1,819 milhão de empregos em relação
a 2018, já que o total de pessoas ocupadas (sempre considerando dados médios
para cada um dos períodos analisados) avançou de 91,571 milhões para 93,390
milhões, numa variação próxima 2,0%. O setor de serviços, incluindo os
segmentos de comércio e reparação de veículos e motos, foi responsável por
87,4% dos novos empregos surgidos entre um ano e o seguinte. No comércio e nas
oficinas, surgiram apenas 190,0 mil novas vagas, com o total de empregados
variando em torno de 1,1% (de 17,489 milhões para 17,679 milhões). Nos demais
serviços, no entanto, o crescimento aproximou-se de 3,0%, acima do ritmo médio
de avanço indicado para o total de ocupados. Nesta área, o número de empregados
passou de 47,128 milhões para 48,527 milhões, com abertura de 1,399 milhão de
empregos adicionais (ou seja, 76,9% de todas as novas oportunidades de trabalho
surgidas no período).

Somados,
outros serviços, comércio e reparação de veículos e motos passaram a
representar 70,9% do total de pessoas com algum tipo de ocupação em todo o
mercado, relação que havia sido de 65,45% em 2012. Em sete anos, os serviços
abriram 7,906 milhões de empregos, o que significa dizer que todos os demais
setores dispensaram 3,580 milhões de trabalhadores, já que o número total de
ocupados registrou um acréscimo de 4,326 milhões no mesmo intervalo, crescendo
4,86%. Apenas para registro, o setor de serviços (comércio incluído) passou a
empregar, na média de 2019, em torno de 66,206 milhões de pessoas, o que se
compara com 58,3 milhões em 2012, correspondendo a um aumento e 13,56%.

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Na contramão

A
indústria, que oferece melhor remuneração e empregos que supostamente exigem
melhor qualificação, viu sua participação no total de ocupados recuar de 14,62%
em 2012, quando empregava 13,020 milhões de pessoas, para 12,82% no ano
passado. O total de empregados encolheu 8,08% nessa comparação, para 11,968
milhões (apenas modestamente melhor do que as 11,768 milhões de ocupações
geradas em 2018). As empresas do setor chegaram a empregar 13,183 milhões de
trabalhadores em 2014, o número mais elevado na curta série histórica da PNADC,
indiciada em 2012. Nos cinco anos seguintes, no entanto, a indústria liquidou
1,215 milhão de empregos (em baixa de 9,22%). Diante da nova composição que vem
ganhando forma no mercado de trabalho, não chega a surpreender que o rendimento
real médio do total de ocupados tenha apresentado virtual estagnação entre 2014
e 2019, numa variação de apenas 0,1% (R$ 2.327 para R$ 2.330).

Balanço

·  
Entre
2014 e 2019, o número de pessoas desempregadas aumentou exponencialmente,
saltando 87,7% (de 6,699 milhões para 12,575 milhões). Olhando em perspectiva,
o ligeiro recuo (-1,7%) observado entre 2018 e 2019 parece mesmo bastante
modesto, uma “recuperação” equivalente a 215,0 mil pessoas, ou seja, um pouco
menos do que 3,7% do número de pessoas que passaram a engrossar o desemprego
desde 2014 (já que o total de desocupados registrou acréscimo de mais 5,876
milhões de pessoas).

·  
A
subutilização de trabalhadores, incluindo desempregados, aqueles que estão fora
do mercado, mas gostariam de trabalhar, e os desalentados (que deixaram de
procurar emprego por falta de opção), apresentou um salto de 79,3% desde 2014,
saindo de 15,385 milhões para 27,585 milhões de pessoas (quer dizer, 12,2
milhões a mais).

·  
Pouco
mais de um quarto desse aumento veio do avanço no total de pessoas em situação
de desalento, que mais do que triplicou desde 2014, passando de 1,518 milhão
para 4,761 milhões no ano passado (3,243 milhões a mais, representando um aumento de 213,6%).

·  
Analisando
apenas os dados do último trimestre do ano passado, a ocupação aumentou 2,0% em
relação ao mesmo período de 2018, com abertura de 1,816 milhão de empregos. O
total de pessoas com alguma ocupação saiu de 92,736 milhões para 94,552
milhões. Na comparação com o terceiro trimestre de 2019, o avanço foi de 0,8%
(mais 751,0 mil vagas).

·  
O
número de desempregados baixou de 12,152 milhões de pessoas no final de 2018
para 11,632 milhões no quarto trimestre de 2019, em queda de 4,3% (520,0 mil a
menos). Em relação ao trimestre imediatamente anterior, a redução chegou a 7,1%
(883,0 mil desempregados a menos). Uma parte dessa redução deveu-se à saída de
587,0 mil pessoas da força de trabalho (pessoas de desistiram de buscar emprego
por alguma razão). Mas houve igualmente um avanço de 1,5% no total de ocupados
com carteira assinada, no primeiro avanço em meses. Esse número passou de
36,083 milhões para 36,629 milhões de pessoas entre o terceiro e quarto
trimestres de 2019.

·  
O
baixo crescimento dos rendimentos médios (0,34% na comparação com o trimestre
final de 2018) limitou o avanço da massa total de rendimentos a 2,47% (de R$
211,057 bilhões para R$ 216,262 bilhões, num acréscimo de R$ 5,205 bilhões).
Foi a menor variação real para o período desde 2016, quando houve recuo de 1,1%
e perda de R$ 2,120 bilhões na soma de todos os rendimentos pagos aos
trabalhadores. Em 2018, na mesma comparação, a alta havia sido de 2,75%,
refletindo um ganho real de R$ 5,642 bilhões.

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