Projeções para a economia mundial sugerem recessão no primeiro semestre

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Postado em: 20-03-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Assim
como os principais países vêm acelerando a implantação de medidas para conter a
crise gerada na economia pelo coronavírus (Covid-19) e pelo desmanche dos
preços internacionais do petróleo, as revisões das projeções para o ritmo da
atividade econômica global nos próximos meses assumem dinâmica igualmente,
senão ainda mais rápida. Há duas semanas, o Instituto Internacional de Finanças
(IIF), que reúne mais de 450 instituições do setor financeiro em operação em
mais de 70 países ao redor do mundo, já havia reduzido sua previsão para o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global em 2020 de 2,6% para 1,6% (o
que, na prática, indicava um ano recessivo). Ontem, o instituto anunciou uma
estimativa de variação de apenas 0,4%. Se confirmada, será a taxa mais baixa
desde a crise no início dos anos 1980 (excluído o ano de 2009, quando o PIB
mundial desabou pouco mais de 2%).

A
guerra de preços entre a Arábia Saudita, que decidiu ampliar a oferta de
petróleo num cenário de baixa demanda, e a Rússia e a severidade da pandemia do
Covid-19, no entanto, fizeram o cenário mudar dramaticamente, na expressão por
Robin Brooks, diretor e economista chefe do IIF, e Jonathan Fortun, economista
da instituição. Na prática, ocorreu uma parada súbita em todos os negócios
globalmente, empurrando a economia para uma paralisação não antevista até 15
dias atrás. Embora a instituição aposte numa recuperação ao longo do segundo
semestre, a depender da contenção da pandemia, a expectativa é de uma recessão
neste primeiro semestre, com retração sobretudo para as economias da Área do
Euro, para os Estados Unidos e para o Japão.

Até
junho, o IIF espera que o “fator medo”, que tem segurado a demanda global a
esta altura, com a maioria dos países decretando o confinamento de seus
cidadãos em casa, comece a se dissipar por volta de junho, no verão do
Hemisfério Norte, na expectativa de que, até lá, o vírus tenha sido contido.
Mas, adverte o mesmo IIF, os riscos de novas revisões para baixo das previsões
econômicas permanecem, já que os “nossos números têm evoluído quase
diariamente” e as incertezas em relação às projeções atuais são igualmente
elevadas.

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Previsões, previsões

Para
uma economia que vinha crescendo a um ritmo anual de 2,1% (dado do último
quadrimestre de 2019), os Estados Unidos devem ensaiar um recuo de 0,8% no
primeiro trimestre deste ano, na comparação com igual período do ano passado, o
que significa um tombo de praticamente 3,0% a se considerar a velocidade de
alta indicada pelos números mais recentes. A piora durante o segundo trimestre
tende a ser ainda pior, com retração de nada menos do que 8,9% nas estimativas
do instituto, o que determinaria um recuo de 0,4% para todo o ano de 2020. OS
EUA não estarão sozinhos: a Área do Euro tende a encolher drásticos 2,8% neste
ano, com retração ainda de 1,5% para o Japão. Para a China, as previsões
anteriores sugeriam alta de 5,9% para este ano, ainda no final de 2019, mas
foram revisadas, há duas semanas, para menos de 4,0%. Agora, a projeção mais
recente indica variação de apenas 3,5% (taxa que configura uma crise de
proporções nada desprezíveis para uma economia que vinha crescendo a taxas de
dois dígitos e que, mais recentemente, viu esse crescimento reduzido para a
faixa de 6% ao ano).

Balanço

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A
chave para todas essas projeções, reforça o IIF, está na suposição de que a
pandemia deverá ser contida por volta de junho e ainda que o estresse no setor
de crédito não se mostre tão “destrutivo”. Parece um tanto óbvio que, se essas
premissas não se confirmarem, o desastre em termos de vidas e de crise na
economia poderá ser muito mais severo.

·  
O
governo brasileiro anunciou ontem mais uma medida para tentar conter os
impactos causados pela virtual paralisação da economia por conta do
coronavírus, ao divulgar sua decisão de reservar em torno de R$ 10,0 bilhões
para socorrer trabalhadores que sofram redução de salário em função do corte no
número de horas trabalhadas.

·  
A
medida deve atingir, nos números da equipe econômica, em torno de 11,0 milhões
de pessoas, que poderão receber o equivalente a um quarto do seguro desemprego
a que teriam direito se fossem demitidos. Isso eleva o tamanho do pacote para
qualquer coisa próxima a R$ 179,6 bilhões (perto de 2,46% do PIB).

·  
As
medidas parecem ainda insuficientes diante das dimensões que a crise poderá
alcançar. Não bastasse o cenário por si já bastante ameaçador, o presidente,
seus rebentos e, novamente, o ministro de Relações Exteriores têm se esmerado
para lançar o Brasil numa crise diplomática exatamente com a China, maior
mercado de destino das exportações brasileiras. Quem precisa do coronavírus
para enfrentar turbulências?

·  
Ainda
antes da paralisia quase completa dos negócios, detonada pela necessidade de
isolamento social como forma de conter o avanço do vírus, os primeiros números
na economia já sugeriam a repetição, neste ano, do mesmo padrão observado em
2017, 2018 e 2019. Pode-se aguardar, daqui em diante, a piora desses
indicadores.

·  
Segundo
o Instituto Aço Brasil, a produção de aço bruto em todo o País acumulou
retração de 6,4% no primeiro bimestre, saindo de 5,755 milhões para 5,384
milhões de toneladas. Uma queda influenciada pelo tombo de 25,1% nas
exportações, já que as vendas domésticas haviam crescido em torno de 5,0%. As
importações recuaram 0,8%. No balanço final de bimestre, o consumo aparente
(vendas internas mais importações, descontadas as exportações) chegou a avançar
5,1%.

 

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