Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Com emissões de moeda, governo poderia dobrar socorro à economia

Economistas defendem que o mais indicado poderia ser a distribuição direta de recursos aos menos favorecidos - Foto: Divulgação

Postado em: 25-03-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Com emissões de moeda, governo poderia dobrar socorro à economia
Economistas defendem que o mais indicado poderia ser a distribuição direta de recursos aos menos favorecidos - Foto: Divulgação

Crise
fiscal e alegada falta de recursos não podem servir de pretexto para postergar
ou evitar a adoção de medidas estratégicas para evitar que a crise seja ainda
mais severa do que a já antecipada pelas projeções em cena. Os mercados tentam
manter certo otimismo, irrealista a esta altura, ainda apostando, na média das
previsões apuradas pelo Banco Central (BC), num crescimento de 0,89% para o
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano, muito acima da variação
praticamente nula esperada pela equipe econômica do superministro. Em 20 de
fevereiro, essa previsão chegava a 2,20%. O ajuste ocorrido indica a percepção
de problemas à frente pelos mercados, mas sugere muito mais a expressão de um
desejo do que realismo nas estimativas.

O
governo poderá reforçar de forma importante o volume de recursos já anunciados
para socorrer a economia se decidir aumentar as emissões de moeda, o que não
deverá trazer qualquer pressão inflacionária diante da perspectiva de
encolhimento da demanda. O saldo das emissões primárias de moeda tem sido
mantido em níveis baixos pelo BC, proporcionalmente ao total de riquezas
produzidas num intervalo de 12 meses, variando entre 3,50% e 3,74% do PIB entre
janeiro de 2019 e o mesmo mês deste ano. Em valores nominais, o saldo das emissões
cresceu 6,6% no período, passando de R$ 241,502 bilhões para aproximadamente R$
257,445 bilhões.

Ao
dobrar as emissões para algo próximo a R$ 514,9 bilhões (perto de 7,5% do PIB),
o governo poderia mais do que dobrar o pacote de ajuda já divulgado, considerando
os recursos anunciados na segunda-feira para Estados e municípios. Isso
ajudaria a irrigar a economia, desde que uma parcela relevante dos recursos
venha a ser destinada aos mais pobres. A forma mais indicada, no caso, como têm
defendido alguns economistas e analistas, poderia ser a distribuição direta de
recursos aos menos favorecidos, aos excluídos do mercado formal de trabalho e
àqueles que não são atendidos nem mesmo pelos programas públicos de
transferência de renda.

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Projeções

Economista
chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, em relatório produzido ainda na
semana passada, sugere que o impacto da pandemia do novo coronavírus (Covid-19)
sobre a economia mundial pode não ser tão severo e revisava suas projeções para
o PIB global, àquela altura, para um crescimento entre 0,5% e 2,0% neste ano,
saindo de uma variação de 3,1% em 2019. Mas ressalvava: a confirmação desses
números dependeria da “hipótese de intensidade da paralisação em outros lugares
do mundo”, com a crise configurando-se, até ali, “essencialmente como um choque
de demanda”. Para que as projeções pudessem vir a se confirmar, Barbosa
considera que não poderia ocorrer uma “interrupção de cadeias essenciais de
serviços e produção e que as paralisações sejam temporárias. Por isso, são
estimativas bastante imprecisas a essa altura, a julgar pelas ações tardias
vistas em outros países, como na Itália”. Embora não tenha sido mencionada, a
reação dos Estados Unidos poderia muito bem ser comparada com a italiana, o que
pressupõe problemas idênticos, senão maiores.

Balanço

·  
Barbosa
inclui em suas ponderações uma “dimensão financeira” da crise, com a queda no
preço dos ativos em todo o mundo afetando a “riqueza financeira de empresas e
famílias, levando a menor consumo”. O risco central aqui é de uma paralisação
nos fluxos de receitas para as empresas e para as famílias. “Essa interrupção
precisa ser evitada a todo custo, sob o risco de uma piora econômica mais
severa. Mas é justamente nessa dimensão que os governos podem agir mais”, diz
ele, comparando com as “dimensões” clínica (saúde pública) e econômica, que,
por sua vez, está interligada com a velocidade e intensidade da contaminação
das populações.

·  
O
economista ainda demonstrava certo otimismo relativo em relação ao PIB
brasileiro, que, nesta sua avaliação, deveria crescer menos do que os 2,0% que
o banco projetava anteriormente.

·  
Publicadas
ontem, as projeções mais recentes do Itaú BBA apontam recuo de 0,7% para o PIB
brasileiro neste ano, saindo de 1,8% de crescimento na previsão anterior. A
economia mundial, na perspectiva do banco, tenderia a sofrer perda de 0,4%.

·  
Em
ambos os casos, as estimativas para o PIB global diferem em muito daquelas
agora revisadas (mais uma vez) pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF).
Nas últimas duas semanas, conforme já registrado neste espaço, a instituição já
havia reduzido sua previsão de crescimento de 2,6% para apenas 0,4%. Na
segunda, 23, voltou a rebaixar seus números e anunciou que agora espera uma
retração de 1,5%, “aproximando-se da contratação de 2,1% de 2009”, ano da crise
global mais recente.

·  
As
incertezas continuam a se avolumar em velocidade próxima ao ritmo de avanço do
coronavírus e ao sabor da atuação dos governos e de sua visão mais realista ou
mais fantasiosa da pandemia (o que determina o tamanho do socorro necessário ao
lado real da economia).

·  
Em
Goiás, ainda antes da crise, a receita bruta do Estado vinha oscilando,
chegando a recuar 4,47% entre janeiro e fevereiro, embora tenha crescido 8,61%
em relação ao segundo mês de 2019. Na comparação anual, o aumento da
contribuição ao fundo Protege e o incremento das transferências da União
responderam por perto de 58% do avanço registrado.

·  
No
acumulado do primeiro bimestre, a receita atingiu R$ 4,170 bilhões neste ano,
em alta de 8,03% frente aos primeiros dois meses de 2019 (R$ 3,860 bilhões). Em
valores, metade da alta deu-se em função do incremento de R$ 152,116 milhões na
arrecadação do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS),
para R$ 2,958 bilhões. Proporcionalmente, no entanto, a variação ficou limitada
a 5,42%.

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