Anúncios de novos investimentos desabam mais de 84% em abril

Nos primeiros 19 dias de abril deste ano, os anúncios somaram R$ 1,267 bilhão, diante de R$ 8,057 bilhões no mesmo período de 2019| Foto: Divulgação

Postado em: 23-04-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Anúncios de novos investimentos desabam mais de 84% em abril
Nos primeiros 19 dias de abril deste ano, os anúncios somaram R$ 1,267 bilhão, diante de R$ 8,057 bilhões no mesmo período de 2019| Foto: Divulgação

O
valor dos investimentos anunciados por empresas da indústria, comércio e
serviços em geral, conforme esperado, vem desabando desde o começo de março,
antes mesmo que os efeitos da pandemia pudessem começar a ser percebidos na
economia brasileira. Nos primeiros 19 dias de abril deste ano, segundo
levantamento feito pela coluna com base no acompanhamento periódico realizado
pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco (Depec), os
anúncios somaram R$ 1,267 bilhão, diante de R$ 8,057 bilhões no mesmo período
de 2019, num tombo de 84,3%.

Mas
o investimento já vinha desmanchando em março, numa tendência ampliada
vigorosamente nas semanas seguintes, quando a economia literalmente parou para
enfrentar a coronavírus. Nas duas primeiras semanas de março passado, o Depec
havia registrado projetos de investimento no valor de R$ 7,771 bilhões, o que
se compara com R$ 21,080 bilhões na quinzena inicial de março de 2019,
demonstrando uma retração de 63,1%. No encerramento do mês, os anúncios haviam
alcançado R$ 14,546 bilhões, em valores arredondados, o que se compara com R$
68,924 bilhões em março do ano passado, numa baixa de 78,9%. Na comparação com
fevereiro, quando o valor previsto pelas empresas para novos projetos havia
somado R$ 54,674 bilhões, a queda chegou a 73,4%.

Como
fica evidente, a evolução tem sido extremamente negativa e, diante da queda já
registrada, pode ser que os números alcancem algum equilíbrio mais à frente,
mas muitos degraus abaixo dos níveis observados até fevereiro e mesmo em
relação ao ano passado. Considerando o mesmo intervalo em março e abril (ou
seja, até o dia 19 de cada mês), observa-se um tombo de 87,2% (de R$ 9,927
bilhões para R$ 1,267 bilhão, conforme anotado mais acima).

Continua após a publicidade

Considerando
o número de anúncios de investimento mês a mês, março parece ter registrado o
menor valor em nove meses e o índice de difusão, que indica o percentual de
empresas que anunciaram algum tipo de investimento, caiu muito abaixo da média
histórica, próxima a 60%. O indicador recuou de quase 60% para qualquer coisa
acima de 40%, também em março deste ano. No acumulado entre janeiro e 19 de
abril, o valor dos anúncios sofreu baixa em torno de 6,7% ao recuar de R$
142,656 bilhões para R$ 133,166 bilhões.

Compilação

Não
se trata de um levantamento extensivo, envolvendo pesquisas de campo e ouvindo
empresas. Os anúncios são compilados pela equipe do Depec a partir de
informações públicas divulgadas pela imprensa. Embora sujeitas a chuvas e
trovoadas, essas informações são um primeiro indício de como os investimentos
tem reagido nesse momento inicial da crise. Diante do cenário observado, não se
poderia esperar mesmo tendências muito diferentes. A amplitude e intensidade da
queda podem variar, mas a tendência de retração é bastante nítida. O mero
acompanhamento do noticiário econômico já permitia vislumbrar um comportamento
muito negativo nesta área, que será estratégica mais à frente, quando a
pandemia for enfim contida e a economia estiver pronta para voltar a operar.
Aqui, mais uma vez, a equipe econômica deverá deixar suas “convicções” e dogmas
fiscalistas de lado para entender que a economia ainda necessitará de suporte,
desta vez, por meio de um incremento satisfatório dos investimentos públicos.

Balanço

·  
Desde
16 de março, o transporte de cargas no País apresentou retração de 45,2%
segundo acompanhamento semanal realizado pelo Departamento de Custos Operacionais
(Decope) da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística
(NTC&Logística).

·  
Na
quinta semana da pesquisa, ou seja, entre 13 e 19 de março, 89% das empresas de
transporte de cargas informaram ter sofrido queda no faturamento, o que se compara
com um percentual de 66% registrado na semana entre 16 a 23 de março, quando o
levantamento começou a ser realizado.

·  
A
NTC&Logística registra perto de 4,0 mil transportadoras associadas, direta
e indiretamente, e representa ao redor de 10,5 mil fornecedores e embarcadores,
com frota superior a 1,0 milhão de caminhões (praticamente metade da frota
total no País, que chegava a 1,965 milhão de veículos em 2019, nos
dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores).

·  
O
transporte de cargas fracionadas (pequenos volumes entregues a pessoas físicas,
distribuidores, lojas de rua e de shoppings, além de supermercados e outros
estabelecimentos) anotou redução de 47,6%, indicando que aqueles setores têm
sido mais afetados pela retração geral dos negócios.

·  
As
entregas para lojas de rua têm sofrido mais, com queda de 59,6%, seguidas pelos
shoppings, que anotam baixa de 57,7%, e pelas distribuidoras (menos 42,8%).

·  
A
chamada carga lotação (ou fechada), que envolve a entrega de produtos
específicos a uma única empresa (combustíveis e veículos, por exemplo), teve
baixa de 43,3% e, neste caso, as perdas mais importantes foram registradas pela
linha branca (geladeiras, fogões e outros eletrodomésticos), num tombo de
66,4%, seguida pela indústria automobilística (-65,6%), produtos eletrônicos
(-50,8%) e combustíveis (-48,6%). Os indicadores apurados pela pesquisa
antecipam quedas igualmente relevantes para a produção em setores estratégicos
da indústria.

·  
A
indústria de alimentos registrou quedas de 40,6% e de 39,4% na movimentação de
cargas refrigeradas e não refrigeradas, respectivamente. No agronegócio, a
movimentação sofreu baixa de 33,7%.

·  
Entre
os Estados, Maranhão registrou redução de 75,0%, seguido pelo Mato Grosso
(-52,8%), Mato Grosso do Sul (-51,2%), Distrito Federal (-49,0%) e Ceará
(-48,3%). Amazonas, Goiás e Rio Grande do Norte sofreram perdas relativamente
menores, ainda assim as quedas foram, pela ordem, de 25,0%, 31,0% e 31,8%.

 

Veja Também