Com ajuda da China e da soja, superávit comercial de Goiás salta 48%

A diferença entre exportações e importações atingiram, no primeiro semestre, o maior valor para o período em toda a série histórica - Foto: Reprodução.

Postado em: 04-07-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A diferença entre exportações e importações atingiram, no primeiro semestre, o maior valor para o período em toda a série histórica - Foto: Reprodução.

Lauro Veiga

A
contribuição da soja em grão e da China tem sido decisiva para ajudar a balança
comercial de Goiás a quebrar recordes neste ano. A diferença entre exportações
e importações atingiram, no primeiro semestre, o maior valor para o período em
toda a série histórica de dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex),
seguindo tendência já observada nos meses anteriores. As exportações
registraram nova aceleração e passaram a acumular variação de 20,0% em relação
ao primeiro semestre do ano passado, avançando de US$ 3,328 bilhões para quase
US$ 3,995 bilhões, dos quais praticamente 52,0% tiveram o mercado chinês como
destino.

As
importações sofreram baixa de 11,6% e registraram o nível mais baixo em quatro
anos, saindo de US$ 1,716 bilhão nos seis meses iniciais de 2019 para US$ 1,603
bilhão, num reflexo da queda brusca da atividade econômica. Como resultado
desses movimentos díspares, o superávit comercial experimentou um salto de
48,13% naquela mesma comparação, elevando-se de US$ 1,612 bilhão para US$ 2,391
bilhões. A cada US$ 100 de saldo acumulado pelo Estado, pouco mais de US$ 85,0
tiveram a China como origem, demonstrando uma dependência crescente da balança
comercial do Estado em relação àquele mercado. Uma melhor distribuição das
vendas externas ajudaria a amenizar riscos comerciais e geopolíticos, trazendo
maior equilíbrio no longo prazo para a balança comercial.

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As
exportações goianas para o mercado chinês saltaram 49,0% no primeiro semestre,
atingindo US$ 2,076 bilhões neste ano, frente a US$ 1,393 bilhão no mesmo
intervalo de 2019. Naquele ano, a China respondeu por 41,9% do total exportado
por Goiás, fatia elevada neste ano para aqueles 52,0% já mencionados acima. O
país oriental foi responsável, ainda, por todo o crescimento das exportações
goianas, graças à soja em grão, que somaram algo como 72,9% de tudo o que o
Goiás vendeu aos chineses no semestre passado. Excluído o mercado chinês dessa
conta, as exportações do Estado para os demais mercados praticamente não saíram
do lugar, variando de US$ 1,935 bilhão para US$ 1,919 bilhão (na verdade, houve
ligeiro recuo de 0,83%).

Dependência da
soja

Além
da concentração geográfica, a tendência observada tem sido de um aumento na
dependência das exportações goianas em relação à soja em grão, que elevou sua
participação no total das vendas externas do Estado de 33,4% em 2019 para 43,3%
neste ano, sempre considerando o primeiro semestre de cada ano. Os embarques do
grão renderam uma receita cambial de US$ 1,728 bilhão neste ano, saltando
55,28% frente a US$ 1,113 bilhão vendidos em 2019. Olhando isoladamente para o
grão, o aumento observado correspondeu a praticamente 92,3% do crescimento
gerado pelo total das exportações. Vale dizer, sem a ajuda da soja, o restante
exportado por Goiás cresceu apenas 2,32% (de US$ 2,215 bilhões para US$ 2,267
bilhões).

Balanço

Novamente, quase todo o incremento
registrado pelas vendas de soja deveu-se ao apetite chinês, reforçado pela
crescente necessidade de alimentar seus plantéis de aves e suínos (este último
ainda não recomposto desde a razia promovida pela febre suína africana), mas
também em função da estratégia de segurança alimentar adotada pela China, que
tem reforçado seus estoques de alimentos para fazer frente à demanda futura e
para enfrentar com alguma folga eventuais ciclos de alta no mercado
internacional de commodities agrícolas.

De volta ao ponto, as vendas goianas de
soja para a China saltaram 57,3% em valor e 62,1% em volume. No primeiro caso,
passaram de US$ 962,523 milhões para US$ 1,514 bilhão, representando 87,6% de
toda a exportação goiana nesta área. No segundo, foram embarcadas 4,458 milhões
de toneladas nos seis primeiros meses deste ano, o que se compara com 2,750
milhões de toneladas no mesmo período de 2019.

Também o aumento nas exportações de carne
bovina congelada deveu-se quase totalmente à China. Enquanto as vendas totais
do Estado neste segmento avançaram 34,52%, saindo de US$ 337,776 milhões para
US$ 454,387 milhões, as exportações para o mercado chinês
saltaram 91,04%, aumentando de US$ 156,343 milhões para US$ 298,674 milhões – o
que correspondeu a 65,7% de toda a carne bovina congelada vendida lá fora pelos
frigoríficos goianos.

Além da soja e da carne bovina,
registraram avanços as exportações goianas de ferro-ligas (ferro-níquel e
ferro-nióbio), carne de aves e açúcar, empurrado pelas previsões de déficit
entre demanda e oferta no mercado mundial, pela alta do dólar e valorização das
cotações internacionais.

As vendas externas de ferro-ligas
cresceram 29,4%, de US$ 293,322 milhões para US$ 379,432 milhões. Os embarques
de carnes de aves resfriadas e congeladas subiram de US$ 102,728 milhões para
US$ 170,644 milhões, em alta de 66,1%. O Estado registrou ainda US$ 125,748
milhões nas vendas de açúcar ao exterior, com salto de 72,3% frente ao primeiro
semestre de 2019 (US$ 72,981 milhões). Os volumes embarcados pouco mais que
dobraram, de 191,345 mil para 385,440 mil toneladas (101,4% a mais).

As possiblidades mais alvissareiras no
mercado de açúcar explicam em parte o salto. Outra parte diz respeito à
estratégia a que as usinas foram forçadas a aderir neste ano, respondendo à
queda vertical na demanda e nos preços do etanol e à retração do consumo de
açúcar no mercado doméstico. Espera-se uma safra ligeiramente mais “açucareira”
no ciclo 2020/21, embora a flexibilidade para adequar o parque de moagem seja
limitada.

 

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