Com desemprego recorde, renda efetiva despenca 18% em Goiás

No segundo trimestre deste ano, como indica a PNAD Contínua, o número de pessoas ocupadas em todo o Estado atingiu o menor nível desde o início no levantamento, encolhendo 8,4% | Foto: Reprodução.

Postado em: 29-08-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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No segundo trimestre deste ano, como indica a PNAD Contínua, o número de pessoas ocupadas em todo o Estado atingiu o menor nível desde o início no levantamento, encolhendo 8,4% | Foto: Reprodução.

Lauro Veiga 

Diferentes
na concepção, na base pesquisada e na metodologia, as duas versões da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) atualmente elaboradas pelas equipes
de pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
apontam tendências equivalentes para o emprego e o desemprego em Goiás. Mas
apresentam divergências quando se trata de aferir o impacto da crise
humanitária sobre a renda das famílias. A pesquisa trimestral, divulgada ontem,
registra uma queda real (descontada a inflação) de 18,4% para a massa de
rendimentos reais efetivamente recebidos pelos trabalhadores entre o primeiro e
o segundo trimestres deste ano. Na pesquisa semanal, elaborada para aferir os
impactos imediatos da pandemia sobre o setor, a tendência tem sido de alta, com
ajuda do auxílio emergencial pago às famílias.

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No
segundo trimestre deste ano, como indica a PNAD Contínua, realizada desde 2012,
o número de pessoas ocupadas em todo o Estado atingiu o menor nível desde o
início no levantamento, encolhendo 8,4% em relação ao trimestre imediatamente
anterior e 9,4% na comparação com os três primeiros meses de 2019. Em um ano,
em torno de 314,0 mil goianos perderam sua vaga no mercado, e pouco mais de
88,0% dessa perda ocorreu na passagem do primeiro para o segundo trimestre
deste ano (277,0 mil a menos).

Dessa
forma, o total de ocupados saiu de 3,348 milhões no segundo trimestre do ano
passado para 3,311 milhões nos três meses iniciais de 2020, baixando uma vez
mais, já em plena crise sanitária, para 3,034 milhões. Esse número só foi mais
elevado do que aquele registrado pelo IBGE no primeiro trimestre de 2012 (3,004
milhões). A chamada PNAD Covid-19, realizada semanalmente a partir de maio
deste ano, chegou a apontar um total de 3,088 milhões de ocupados em junho e
igualmente em tendência de baixa – mas, adverte o IBGE, os dados de ambas
pesquisas não são comparáveis. De qualquer maneira, a tendência apontada ao
longo dos meses de afastamento social é coincidente.

O
desemprego cresce nas duas medições e, conforme a PNAD Contínua, havia quebrado
novo recorde no segundo trimestre deste ano, deixando 446,0 mil sem emprego.
Comparado ao trimestre inicial de 2020, quando 423,0 mil estavam desocupados, o
aumento foi de 5,3%. Mas avançou 13,5% frente ao segundo trimestre de 2019
(393,0 mil desempregados). A taxa de desemprego, que na PNAD Covid-19 já supera
13,4%, na versão trimestral da pesquisa, atinge 12,8%, saindo de 11,3% no
primeiro trimestre e de 10,5% na média entre abril e junho de 2019. Outro
indicador histórico, até aqui não registrado pela PNAD Contínua.

Desemprego
camuflado

Mesmo
esse dado, já preocupante, veio camuflado pelo salto no número de pessoas que
desistiram de procurar emprego, mas que poderiam ou gostariam de continuar
trabalhando, desde que houvesse a oferta de empregos dignos, com salários idem.
A categoria está incluída no que o IBGE classifica como “força de trabalho
potencial”. O número de trabalhadores naquela situação saltou simplesmente de
183,0 mil no segundo trimestre do ano passado para 345,0 mil neste ano, em alta
de quase 89,0%. Quase todo o aumento ocorreu na saída do primeiro trimestre de
2020 para o seguinte (mais 158,0 mil, ou 84,0% a mais). Seja por conta das
medidas de isolamento ou de afastamento social, seja porque a crise tem
sacrificado vigorosamente o mercado de trabalho, destruindo empresas e
empregos, o crescimento expressivo dessa força potencial acabou evitando, como
se poderá ver a seguir, um aumento ainda mais dramático na estatística de desocupação. Na vida real, no entanto, o efeito sobre vidas e sobre a
economia é praticamente o mesmo daquele trazido pela escalada do desemprego.

Balanço

·  
No
ano passado, entre abril e junho, a força de trabalho (soma de trabalhadores
ocupados e desempregados) representava 65,8% da população com 14 anos ou mais.
O percentual encolheu para 59,8% no segundo trimestre deste ano, o mais baixo
de toda a série histórica. Caso a participação de 65,8% tivesse sido mantida,
isso significaria que a força de trabalho teria alcançado algo como 3,829
milhões de pessoas (perto de 10% acima do número efetivamente registrado pela
pesquisa, em torno de 3,480 milhões).

·  
Mas
a economia goiana gerou apenas 3,034 milhões de empregos, o que significaria
dizer que 795,0 mil teriam ficado sem uma ocupação – um número 78,3% maior do
que o desemprego anotado pelo IBGE. Nessas condições, a taxa de desocupação
teria sido quase dois terços mais alta, aproximando-se de 20,7% (7,9 pontos de
porcentagem acima da taxa de 12,8% indicada pela PNAD Contínua).

·  
Entre
aqueles trabalhadores na força potencial, pouco mais de um terço ou 34,2%
estavam em situação de desalento (ou seja, teriam perdido a esperança de
conseguir alguma forma de ocupação que pudesse assegurar o seu sustento e de
sua família). O total de pessoas desalentadas – e que por isso desistiram de
procurar emprego – havia recuado de 93,0 mil no segundo trimestre de 2019 para
90,0 mil no primeiro trimestre deste ano, voltando a subir para 118,0 mil no
trimestre abril-junho – um salto de 31,1%.

·  
O
aumento no número de trabalhadores em desalento explica em grande parte o avanço
de 22,3% no total de pessoas subutilizadas entre o primeiro e o segundo
trimestre deste ano. O número avançou de 768,0 mil para 940,0 mil, elevando a
taxa de subutilização de 19,6% para 24,6%. Mais um recorde negativo na
pesquisa.

·  
O
rendimento real médio habitual chegou a avançar 2,2% entre o primeiro e o
segundo trimestres (de R$ 2.207 para R$ 2.254), o que ajudou a limitar a
redução da massa real de rendimentos habituais a 6,4% (ainda assim, um recuo
expressivo). A soma de todos os rendimentos habituais baixou de R$ 7,238
bilhões para R$ 6,771 bilhões.

·  
Mas
o rendimento efetivamente recebido caiu 10,9% entre um trimestre e o seguinte,
de R$ 2.378 para R$ 2.119. Como o emprego também encolheu, a massa de
rendimentos brutos efetivamente recebidos pelas famílias desabou 18,4% (de R$
7,80 bilhões para R$ 6,363 bilhões, numa perda de R$ 1,437 bilhão em apenas um
trimestre).

·  
Na
PNAD Covid-19, a massa efetivamente anotou elevação de 3,1% entre maio e junho,
de R$ 5,181 bilhões para R$ 5,340 bilhões. O pagamento do auxílio emergencial
parece ter respondido por 87,8% daquele incremento, subindo, na soma total, de
R$ 730,94 milhões para R$ 870,97 milhões (mais 19,2%).

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