Desemprego entre pessoas negras e pardas salta 30% entre maio e agosto

Para comparação, considerando todas as raças, o total de desempregados aumentou 27,6% entre maio e agosto, saindo de 10,129 milhões para 12,926 milhões - Foto: Divulgação

Postado em: 25-09-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Para comparação, considerando todas as raças, o total de desempregados aumentou 27,6% entre maio e agosto, saindo de 10,129 milhões para 12,926 milhões - Foto: Divulgação

Lauro Veiga

Embora
representem 54,4% da força de trabalho no País, as pessoas pretas e pardas
passaram a somar praticamente 60,5% de todos os desempregados em agosto deste
ano, de acordo com a edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD), também conhecida como PNAD Covid-19. Realizado desde maio
deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para
aferir os impactos da pandemia sobre o mercado de trabalho, o levantamento
mostra que o número de trabalhadores negros e pardos sem ocupação saltou de
6,008 milhões naquele mês, quando havia representado
59,3% do total de desocupados, para 7,814 milhões em agosto, crescendo 30,1% no
período.

Para
comparação, considerando todas as raças, o total de desempregados aumentou
27,6% entre maio e agosto, saindo de 10,129 milhões para 12,926 milhões. Entre
julho e agosto, esse número continuava avançando, em alta de 5,5% – o que
representou 673,327 mil desempregados a mais. Dois terços desse avanço podem
ser explicados, mais uma vez, pelo aumento no total de negros e pardos
desempregados. Na mesma comparação mensal, esse número saiu de 7,365 milhões
para aqueles 7,814 milhões já anotados, em alta de 6,1% (ou seja, mais 448,864
mil). A taxa de desemprego entre as pessoas negras e pardas, em consequência,
saiu de quase 12,0% em maio para 15,4% em agosto. Em igual intervalo, o índice
geral de desocupação no País passou de 10,7% para 13,6%.

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Deve-se
ter claro que esses indicadores não se comparam com as estatísticas aferidas
pela tradicional PNAD Contínua, que afere o comportamento do mercado de
trabalho em base trimestral, e dizem respeito especificamente a tendências
eventualmente observadas durante a pandemia. Uma eventual melhoria nesses
números, o que evidentemente não tem sido o caso, significaria nada mais, nada
menos do que um avanço relativo, a ser considerado num cenário econômico
excessivamente atribulado e volátil por conta da crise sanitária.

Futuro
sacrificado

Os
números do desemprego refletem mais uma vez a extrema desigualdade ao longo de
toda a história brasileira, gerada pela discriminação e pelo racismo
estruturais, jamais abolidos neste País. A crise sanitária traz outros
agravantes, além das doses extremas de sofrimento impostas à população pelo
avanço descoordenado dos casos de contaminação e das mortes, sem merecer sequer
o reconhecimento do desgoverno que tomou conta de Brasília. Como se fora um
rolo compressor, o avanço do desemprego trata de sacrificar o próprio futuro,
ao condenar faixas crescentes entre os mais jovens à falta de oportunidades.
Jovens de 14 a 29 anos já correspondem a quase metade do total de desempregados
(49,1%) e a taxa de desocupação nesta faixa é a mais elevada entre todas, atingindo
23,3% em agosto (diante de 18,4% em maio).

Balanço

·  
O
total de desempregados com 14 a 29 anos cresceu nada menos do que 30,9% desde
maio, subindo de pouco menos do que 4,586 milhões para praticamente 6,344
milhões em agosto, significando que mais 1,498 milhão de jovens perderam o
emprego em apenas quatro meses.

·  
Cruzando
as estatísticas, o desempregado brasileiro é jovem, negro ou pardo e majoritariamente
do sexo feminino, gênero que responde por 51% dos desocupados, somando 6,591
milhões de desempregadas, embora sua participação na força de trabalho esteja
limitada a 46,3%. Comparando a maio, aquele número sofreu aumento de 31,5%,
saindo de 5,013 milhões desde o primeiro mês da PNAD Covid-19. A taxa de
desemprego entre as mulheres cresceu de 12,2% para 16,2%.

·  
Ainda
em agosto, o total de jovens (14 a 29 anos) desempregos ou que haviam desistido
de buscar emprego, mas gostariam de trabalhar, aproximava-se de 19,112 milhões
em todo o País, o que correspondia a 36,2% da população na mesma faixa etária e
ainda a uma taxa de desocupação efetiva de 47,8%. Em maio, esse contingente
somava 17,789 milhões, demonstrando um crescimento de 7,4% até agosto. A taxa
de desemprego “real”, até ali, girava em torno de 45,3% – o que já parecia
excessivo.

·  
Essa
taxa compara do total de desempregos e de trabalhadores fora da força, mas que
preferiam estar empregados, com o número de pessoas na força de trabalho
(ocupados e desocupados que continuavam a buscar colocação no mercado)
acrescidas daquelas que haviam parado de procurar emprego e ainda não haviam
desistido de voltar ao mercado.

·  
Para
comparação, quando considerado todo o universo da pesquisa, a taxa efetiva de
desocupação havia alcançado em agosto 32,8%, saindo de 30,1% em maio, passando
a atingir 40,112 milhões de pessoas (das quais 47,7% estavam na faixa etária de
14 a 29 anos). Comparada a maio, portanto, o número geral aumentou 10,1%.

·  
A
discriminação torna-se também evidente na estrutura de salários no mercado. O
rendimento real médio efetivo dos ocupados entre 14 a 29 anos somava, em
agosto, R$ 1.412, correspondendo a 66,1% do rendimento médio do total de
ocupados (ou seja, 33,9% a menos). Para as pessoas negras e pardas, o
rendimento médio de R$ 1.651 estava 22,7% abaixo da média. Entre as mulheres, o
rendimento médio mensal indicava redução de 15,5% se comparado o salário médio
dos homens.

 

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