Em plena “reação”, produção da indústria passa a crescer menos

fatores associados ainda a certa desorganização ainda presente em cadeias de suprimento importantes para a indústria, levaram o setor a experimentar em agosto uma desaceleração relevante na produção. - Foto: Reprodução

Postado em: 03-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Em plena “reação”, produção da indústria passa a crescer menos
fatores associados ainda a certa desorganização ainda presente em cadeias de suprimento importantes para a indústria, levaram o setor a experimentar em agosto uma desaceleração relevante na produção. - Foto: Reprodução

A
demanda ainda muito debilitada, as incertezas geradas pela equipe econômica na
gestão dos programas de auxílio emergencial às famílias e aos setores
empresariais mais vulneráveis à crise, fatores associados ainda a certa desorganização ainda presente em cadeias de suprimento importantes para a indústria, levaram o setor a experimentar em agosto uma desaceleração relevante na produção. O desaquecimento, que ocorre antes mesmo que o setor reunisse
condições para voltar aos níveis de fevereiro deste ano, anteriores à pandemia,
afetou especialmente setores que haviam conseguido manter-se em crescimento
mesmo durante a crise sanitária (e, nestes casos, provavelmente por causa da
própria pandemia). 

A
produção industrial, aponta pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), cresceu 8,7% em maio e 9,7% em junho, depois de
ter despencado 9,3% e 19,5% em março e abril, respectivamente. Em julho e
agosto, o ritmo de avanço em relação aos meses imediatamente anteriores recuou
para 8,3% e em seguida para 3,2%. Na comparação com igual período de 2019, a
produção caiu há 10 meses seguidos, o que mais uma vez sinaliza que os
problemas do setor industrial são anteriores mesmo à pandemia, que veio agravar
a tendência de perdas.Considerando a média móvel trimestral, a produção
encolheu algo em torno de 6,5% entre novembro de 2019 e agosto deste ano.

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Na
passagem de julho para agosto, a velocidade de queda manteve-se praticamente
inalterada, com baixas de 2,8% e de 2,7% respectivamente. O cenário continua
negativo, entre outros motivos, porque naqueles mesmos dois meses do ano
passado, a produção já havia encolhido 2,4% e 2,0% em relação a idênticos meses
de 2018. No acumulado entre janeiro e agosto deste ano, comparado os mesmos
oito meses de 2019, a produção caiu 8,6% e encontrava-se, em agosto, 2,6%
abaixo dos níveis registrados em fevereiro. Naquele mês, a produção mantinha-se
em estagnação virtual, ao recuar 0,3% na comparação com fevereiro do ano
passado. A vida da indústria já não era nada fácil antes do Sars-CoV-2.

Apenas
como nota adicional, a redução na velocidade de crescimento pode ser notada
ainda nos dados da média móvel trimestral. Assim, nos três meses terminados em
julho, a produção havia crescido 8,9% em relação ao trimestre finalizado em
junho. No trimestre até agosto, a taxa recuou para 6,9%. Na aparência, uma taxa
ainda vigorosa, mas que se compara a um período de perdas substantivas para o
setor e toda a economia.

Desaquecimento

Na
comparação entre julho e agosto, setores que vinham em forte queda registraram
melhora, a exemplo das indústrias de veículos, reboques e carrocerias, que
experimentou alta de 19,2% (mas em queda de 25,7% em relação a agosto de 2019)
e fabricação de couro, artigos de viagem e calçados, com aumento de 14,9% (mas
num tombo de 23,6% frente a agosto de 2019). Alguns dentre os setores que
haviam se saído melhor nos piores meses da pandemia passaram a anotar fortes
baixas. Este foi o caso das indústrias de perfumaria e produtos de limpeza e de
medicamentos, ambas com retração de 9,7% entre julho e agosto. Tomando agosto
de 2019 como base, a fabricação de produtos de limpeza e farmacêuticos caiu
3,3% e 5,9% respectivamente.

Balanço

·  
Na
avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi),
essa acomodação aparente registrada em agosto parece refletir não apenas “bases
maiores de comparação”, embora o crescimento recente tenha se dado a partir de
níveis historicamente baixos registrados em abril e maio.

·  
Para
o instituto, essa desaceleração seria resultado ainda da “demanda fraca,
necessidade de protocolos de segurança sanitária, dificuldade de obtenção de
insumos em certos setores, incertezas elevadas com a continuidade de programas
emergenciais”, entre outros fatores.

·  
Todos
os grandes setores da indústria apresentaram forte desaceleração na saída de
julho para agosto, conforme detalha a pesquisa do IBGE. A produção de bens de
capital (máquinas, equipamentos, caminhões e ônibus, instalações industriais e
outros), que havia experimentado salto de 16,0% em julho, avançou apenas 2,4%
no mês seguinte. Detalhe: na comparação com os mesmos
meses de 2019, a produção de bens de capital ampliou as taxas negativas, caindo
15,9% e 16,9% em julho e agosto, respectivamente.

·  
Na
indústria de bens intermediários, considerada uma espécie de “coração” de todo
o setor industrial, já responde pelo suprimento de insumos a todos os
segmentos, a produção saiu de um incremento próximo a 10,4% em julho para a
variação de 2,3% registrada em agosto. O mesmo ocorreu com a produção de bens
duráveis e de semi e não duráveis. Pela ordem, as taxas saíram de 37,0% e 5,2%
para 18,5% e apenas 0,6%.

·  
Para
uma referência de prazo mais longo, a produção da indústria chegou a agosto
deste ano ainda 18,4% mais baixo do que em seu melhor momento, registrado no já
longínquo mês de maio de 2011. Quer dizer, nove mais tarde, o setor industrial
sequer conseguiu voltar ao seu pico. Claro, no período, o País atravessou uma
recessão (2015/16) e agora enfrenta uma pandemia. Mas, antes da recessão e no
intervalo entre aqueles dois eventos, o setor não demonstrou capacidade para
crescer de forma sustentada, o que sugere problemas de fundo e mais sérios.

·  
A
situação do setor de bens de capital, um sinalizador decisivo para o
investimento privado, é ainda pior, com retração de 43,8% frente a setembro de
2013. Neste ano, entre janeiro e agosto, a produção no setor desaba a uma taxa
de 20,2% frente ao mesmo período de 2019.

·  
A
indústria de fabricação de veículos, que sofreu baixa de 25,7% frente a agosto
de 2019, foi responsável por quase 89,0% da redução registrava por toda a
produção industrial no mês (-2,7%). Mas, excluído o setor e ainda as indústrias
de alimentos e de petróleo e de biocombustíveis, que cresceram pela ordem 6,0%
e 5,7%, o restante da indústria encolheu 1,9%.

 

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