Pesquisa sugere desaceleração dos preços no atacado

Preços no atacado se tornaram um dos focos de pressão sobre custos das empresas - Foto: Reprodução

Postado em: 10-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Pesquisa sugere desaceleração dos preços no atacado
Preços no atacado se tornaram um dos focos de pressão sobre custos das empresas - Foto: Reprodução

Lauro Veiga Filho  

A
primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), apurada pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV) entre os dias 21 e 30 de setembro, sugere uma
desaceleração dos preços no atacado em relação aos valores médios aferidos nos
30 dias imediatamente anteriores (21 de agosto a 20 de setembro). A perda de
vigor na alta esteve concentrada, até ali, entre os custos dos produtos industriais,
enquanto mantinha-se, em igual período, pressão mais acentuada no grupo de
produtos agropecuários. Os preços no atacado tornaram-se, mais recentemente, um
dos focos de pressão sobre custos das empresas, com reflexos até aqui limitados
sobre os preços cobrados dos consumidores, que têm subido, mas numa intensidade
muito menor.

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Esse
comportamento tem sido associado, por economistas, analistas e consultores mais
identificados com os meios de pensar e os propósitos do mercado financeiro –
numa forma muito polida de classificar essa “identificação” de meios e
propósitos –, majoritariamente aos desequilíbrios crescentes nas contas do
setor público e ao consequente aumento da dívida interna pública. Os déficits
históricos acumulados neste ano, gerados principalmente pela necessidade de
prover recursos para a saúde e assegurar minimamente a sobrevivência das
famílias mais vulneráveis, além de dar suporte a pequenas e médias empresas,
segundo a visão que predomina nos mercados, tenderia a acirrar as incertezas,
levando a uma escalada inflacionária.

Claro
que a turma da grana não considera que a alternativa seria muitas vezes mais
desastrosa, por seus custos em vidas, literalmente. Assim como parecem
desconsiderar que todos os demais países estarão na mesma situação que o
Brasil, ou seja, terão que enfrentar déficits elevados e dívidas cavalares. Na
média das economias consideradas “maduras”, o que corresponde aos países mais
desenvolvidos, a dívida dos governos já havia alcançado 112,7% do Produto
Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o Instituto
Internacional de Finanças (IIF) e deverá superar essa marca de longe até o
final do ano.

Nem eles…

A
inflação brasileira tem sido pressionada, no curto prazo, por erros na condução
da política econômica, pela alta do dólar e pelo aumento nos preços
internacionais das commodities. A expectativa de uma alta generalizada de
preços, o que configuraria um cenário de risco de descontrole inflacionário, no
entanto, parece não ser levada a sério nem mesmo pelo setor financeiro. Segundo
o relatório Focus do Banco Central (BC), até o começo deste mês, o mercado continuava
a apostar numa taxa de inflação em torno de 2,12%, com estimativa de 3,0% para
2021. Mais claramente, o mercado parecia entender que as pressões atuais sobre
os preços tenderão a ser dissipadas mais adiante, considerando-se a grande
ociosidade nas fábricas e o desemprego recorde.

Balanço

·  
Como
esta coluna tem buscado demonstrar, os números do desemprego “real” são, na
prática, muito mais elevados do que aqueles registrados oficialmente. Não que
esses dados tenham sido “manipulados”, muito pelo contrário. Na verdade, a real
situação do desemprego tem sido camuflada pelo número elevado de trabalhadores
que desistiram ou não puderamcontinuar buscando emprego, seja por conta da
pandemia, seja em razão de outros fatores.

·  
No
dado do segundo trimestre deste ano, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registra
uma taxa de desocupação de 13,3%, representando 12,791 milhões de
desempregados. Mas se a esse número foram somados mais 5,683 milhões de pessoas
em desalento (porque não conseguiram encontrar uma ocupação) e outras 13,542
milhões que estão fora do mercado, mas continuam dispostos a trabalhar, o
número “real” de desempregados subiria para 32,016 milhões (ou seja, duas vezes
e meia a mais). A taxa de desemprego saltaria para algo em torno de 27,8%.

·  
Este
é um sério motivo para se considerar que, sim, a alta da inflação neste momento
tende a ter vida curta. O Índice de Preços no Atacado (IPA), um dos componentes
do IGP-M, com peso de 60% no cálculo do indicador final, caiu de 6,14% na
primeira prévia de setembro para 2,45% em igual período de outubro. Os preços
dos produtos industriais, que chegaram a saltar 5,76% na medição feita em
setembro, variaram 1,01% neste mês. A pesquisa registrou baixas para os preços
do minério de ferro (-7,25%), óleo diesel (-10,09%) e gasolina (-4,21%), sempre
nos mercados atacadistas.

·  
Houve
discreta desaceleração entre os preços de produtos agropecuários, com a alta
saindo de 7,16% para 6,12%. Os preços do café em grão e da carne suína sofreram
quedas de 7,78% e de 12,14% respectivamente. A soja em grão, que havia subido
11,48%, ainda anotou alta expressiva, mas um pouco menos intensa, numa elevação
de 9,64%.

·  

outros indicadores sugerindo acomodação ou menores altas nos mercados atacadistas.
O indicador de preços de commodities do Banco Central (BC), que havia
experimentado saltos de 7,1% e de 9,4% em julho e agosto, passou a anotar
variação de 0,54% em setembro.

·  
No
mercado internacional, na média dos preços das commodities agrícolas, metálicas
e no setor de energia (basicamente petróleo), o indicador calculado pelo Commodity
Research Bureau (CRB) apresentou variação de 3,7% em setembro, depois de subir
7,7% em agosto.

·  
O
dólar, no entanto, voltou a subir neste começo de mês, o que poderá colocar
alguma pressão sobre os preços. Sempre em valores médios, a cotação da moeda,
convertida em reais, chegou a recuar 1,14% em setembro, mas apresentava
elevação de 3,7% na comparação entre os preços médios registrados nos nove dias
iniciais de outubro e a cotação média registrada nos 30 dias de setembro.

 

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