Peso do agronegócio evita perdas maiores na região Centro-Oeste

Região norte teve uma perda ainda menor por conta do peso do auxílio emergencial, mais presente na região - Foto: Reprodução

Postado em: 05-11-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Peso do agronegócio evita perdas maiores na região Centro-Oeste
Região norte teve uma perda ainda menor por conta do peso do auxílio emergencial, mais presente na região - Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

Analisadas
em conjunto, as regiões Norte e Centro-Oeste deverão encerrar este ano com
perdas menos intensas do que o restante do País, influenciadas, no primeiro
caso, pelo peso mais relevante do auxílio emergencial distribuído pelo governo
para compensar os efeitos da pandemia sobre a renda e, no segundo, pela
resiliência do agronegócio, principalmente. O grande temor é que a redução do benefício
desde setembro e sua provável extinção no próximo ano, ao que tudo indica,
venham a gerar, especialmente em 2021, pressões ainda mais severas sobre o
nível da atividade econômica numa região já duramente castigada pela pandemia
(e ainda não totalmente livre de uma recaída no número de casos e de mortes
pela Covid-19).

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Com
60% das famílias beneficiadas pelo auxílio, a massa ampliada de rendimentos do
Norte, classificação que inclui rendimentos do trabalho, pensões e
aposentadorias, transferências de renda do Bolsa Família, alugueis, seguro
desemprego, doações, o auxílio emergencial e outros, deverá experimentar um
salto de 16,7% neste ano, superando o desempenho das demais regiões nesta área
e beneficiando o setor de consumo, mais especialmente o segmento de bens
essenciais.

O
Produto Interno Bruto (PIB) no Norte ainda assim sofrerá baixa de 3,1% neste
ano, projeta a economista Camila Saito, da Tendências Consultoria. Segundo ela,
o consumo das famílias tem apresentado comportamento menos negativo do que nas
demais regiões, o que explica o avanço das vendas no varejo em alguns Estados,
a exemplo de Tocantins e Pará. Pela ordem, as vendas haviam crescido quase 5,0%
e 1,5% no acumulado dos primeiros sete meses deste ano frente ao mesmo
intervalo de 2019.

A
indústria deverá sofrer menos do que em outras regiões, mas igualmente não
deverá apresentar crescimento neste ano, prevendo-se um recuo de 3,3%. Apenas
para comparação, lembra Camila, a estimativa para o PIB industrial em todo o
país sugere redução de 5,6%. No Pará, a produção da indústria extrativa vinha
em melhor situação que o resto do setor, com recuo de 1,0% nos primeiros oito
meses deste ano, diante do tombo de 7,8% registrado pela indústria de
transformação.

Mas
o desempenho tem sido desigual entre os diversos setores da indústria. Enquanto
a indústria de alimentos no Estado desabava 31,3% naquela comparação, as
indústrias de papel e celulose e de metalurgia experimentavam saltos de 11,9% e
de 35,9%. A indústria metalúrgica, no entanto, recupera-se dos números muito
baixos anotados em 2019 em função da paralisação da planta da Albrás por conta
de um vazamento.

Estrago
contido

O
avanço da massa ampliada de rendimentos no Centro-Oesteficará limitado a 2,0%,
segundo estimativas da Tendências Consultoria. Mas ali, lembram Sílvia Matos,
coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getúlio Vargas (Ibre/FGV), e o economista chefe do Banco Fator, José Francisco
de Lima Gonçalves, o agronegócio tem conseguido limitar os danos causados pela
crise pandêmica. Gonçalves acrescenta ainda que o setor de serviços tem peso
menos relevante na composição do PIB regional, o que ajuda a conter os
estragos. “Olhando os dados do Centro-Oeste, percebe-se uma variação muito
menor da atividade do que no País como um todo. O PIB local cai menos do que a
média e, em compensação, também cresce menos nos períodos de alta”, pondera o
economista.

Balanço

·  
A
estimativa da Tendências leva em conta a perspectiva de uma queda de 3,8% para
o PIB do Centro-Oeste, com recuo de 1,0% para a indústria e um “desempenho
importante” para o produto agropecuário, que tende a avançar 4,7%,
contrabalançando perdas em outros setores de atividade, afirma Camila.

·  
A
produção de grãos, nos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab),
foi recorde na safra 2019/20, atingindo quase 123,9 milhões de toneladas, perto
de 10,2 milhões de toneladas a mais do que o volume colhido no ciclo 2018/19,
numa alta de 8,9%.

·  
Nas duas
regiões, os números poderiam ser piores não fosse a contribuição positiva das
exportações, que crescem apenas ali, turbinadas principalmente pelas vendas do
agronegócio. O Norte exportou perto de US$ 17,410 bilhões entre janeiro e
setembro deste ano, num avanço de 8,3% em relação ao mesmo período de 2019. As
exportações do agronegócio cresceram 21,2% em igual intervalo, saindo de US$
3,847 bilhões para US$ 4,237 bilhões. Embora a participação do setor nas vendas
externas totais tenha se limitado a 24,3% neste ano, sua contribuição para o
aumento geral das exportações superou 56,0%.

·  
No
Centro-Oeste, as exportações totais aumentaram 12,9%, para US$ 25,374 bilhões,
com participação de 93,3% do agronegócio (US$ 23,677 bilhões).

·  
A reação
prenunciada para 2021, no entanto, não significará a superação de todos os
desafios. O fim do auxílio e o esperado congelamento dos salários de servidores
públicos, que respondem por 31,0% da massa de renda do trabalho no Norte e por
quase 29,0% no Centro-Oeste, vão impor limites à variação do PIB, estimada em
2,7% no Norte e em apenas 2,0% para o Centro-Oeste. A participação da folha de
salários do serviço público sobre a renda total do trabalho atinge níveis mais
elevados no Distrito Federal, com 47,0%, seguido por Roraima (46,6%), Amapá
(42,0%) e Acre (41,0%). O resultado combinado daqueles dois fatores deverá ser
uma redução de 10,8% na massa ampliada de rendimentos para os Estados do Norte
e um tropeço de 3,2% no Centro-Oeste, que deverá atravessar ainda uma fase de
desaceleração na agropecuária.

·  
“Depois
de anos seguidos de safras recordes, é esperada uma acomodação, com avanço mais
modesto, na faixa de 0,7%, para o PIB do setor”, prevê Camila. A primeira
estimativa para a safra 2020/21, divulgada pena Conab, embute uma variação de
apenas 1,5% para a produção de grãos no Centro-Oeste, para alguma coisa em
torno de 125,74 milhões de toneladas, perto de 1,873 milhão de toneladas a
mais.

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