Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Vendas em Goiás desaceleram e ainda estão 24,7% abaixo do pico

O varejo no estado continua distante de seu melhor momento na série histórica desse indicador, iniciada em 2000 - Foto: Reprodução

Postado em: 12-11-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Vendas em Goiás desaceleram e ainda estão 24,7% abaixo do pico
O varejo no estado continua distante de seu melhor momento na série histórica desse indicador, iniciada em 2000 - Foto: Reprodução

Lauro Veiga Filho  

As
vendas do comércio varejista no Brasil e em Goiás entraram em desaceleração em
setembro, segundo a pesquisa mensal do comércio realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O varejo no Estado, em seu
conceito mais convencional, sem incluir concessionárias de veículos e motos e
lojas de material de construção, continua distante de seu melhor momento na
série histórica desse indicador, iniciada em 2000. Em setembro deste ano, o
volume vendido pelos varejistas goianos ainda se encontrava 24,7% abaixo do
pico registrado em maio de 2014, considerando o índice ajustado sazonalmente
(quer dizer, excluídos fatores que ocorrem sempre nos mesmos períodos do ano e
que poderiam distorcer a avaliação mês a mês).

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Para
comparação, o índice alcançado pelo varejo mais tradicional em todo o País
estabeleceu novo recorde em setembro, atingindo 103,4 pontos. Parece muito
animador, mas nem tanto, quando se observa que o indicador mostra que o varejo
conseguiu vender apenas 3,4% a mais do que os volumes médios vendidos ao longo
de 2014. Numa outra leitura possível, foram necessários seis anos para que as
vendas registrassem um “estupendo” avanço de 3,4%. Parte desse crescimento, de
toda forma, deveu-se ao pagamento do auxílio emergencial pelo governo, que vinha
estimulando as vendas nos setores mais diretamente dependentes da renda das
famílias (vestuário, calçados, alimentos, bebidas).

O
desaquecimento agora anotado, como consequência, pode estar relacionado à
redução no valor médio do auxílio recebido pelas famílias mais necessitadas
exatamente a partir de setembro e, ainda, ao encarecimento de alimentos básicos
a partir de agosto. O Brasil e Goiás compartilham, aqui, tendências
semelhantes. Emrelação com o mês imediatamente anterior, as vendas no varejo
restrito registram variação de 0,6% na média do País e apenas 0,1% em Goiás, o
que se compara com avanços de 3,1% e de 3,2% em agosto, respectivamente.

Igual,
mas diferente

As
trajetórias das vendas a partir de novembro do ano passado são de certa forma
divergentes. No Brasil como um todo, entre novembro e abril, pior mês até o
momento, no principal momento das medidas de distanciamento adotadas contra a
Covid-19, o volume vendido pelo varejo havia caído 19,6%. Mas, de abril para
setembro, com a liberação crescente das atividades e o pagamento do auxílio,
que chegou a ser a única fonte de renda para pouco mais de 6,0% das famílias, o
IBGE anota um avanço de 32,4%. Se comparadas a fevereiro, antes da pandemia, as
vendas avançaram 7,7%. Em Goiás, o varejo desabou 25,5% de novembro do ano
passado a abril deste ano e cresceu 33,4% desde então até setembro último,
mantendo-se ainda 0,6% abaixo dos níveis de novembro de 2019, mas 3,3% acima
daquele registrado em fevereiro deste ano.

Balanço

·  
O
setor de super e hipermercados, incluindo alimentos, bebidas e cigarro,
acumulou três meses de baixas no País, com retrocessos de 0,3% em julho, de
2,1% em agosto e de 0,4% em setembro, sempre em relação aos meses imediatamente
anteriores. Em relação aos mesmos meses de 2019, o setor anotou avanços, pela
ordem, de 9,8%, 3,0% e 4,4%.

·  
Em
Goiás, as vendas em super e hipermercados haviam crescido 6,7% em julho, em
relação a igual mês de 2019, recuaram 0,9% em agosto e desabaram 6,2% em
setembro. Esse comportamento explica em grande parte o desaquecimento observado
neste tipo de comparação: as vendas do varejo restrito no Estado avançaram 3,5%
em setembro, mas haviam crescido 5,2% no mês anterior.

·  
O
volume vendido pelas lojas de roupas, calçados e tecidos baixaram 2,4% entre
agosto e setembro e 7,2% diante de setembro de 2019 em todo o País. E mantêm-se
em forte queda em Goiás, com quedas de 10,1% e de 10,6% em agosto e setembro
(novamente em relação a igual período do ano passado).

·  
Como
destaques positivos, as vendas de móveis e eletrodomésticos e medicamentos
sustentam, em Goiás, fortes altas diante dos mesmos períodos de 2019, saltando
36,4% e 13,4% em setembro, pela ordem. Na média do País, as altas foram de
28,7% e de 13,7% na sequência daqueles dois setores.

·  
No
chamado varejo amplo, que inclui automóveis, motos, peças e materiais de
construção, na média do País, as vendas saíram de um avanço de 4,1% em agosto para
1,2% em setembro, em relação ao mês imediatamente anterior. Mas avançaram 3,8%
diante de setembro do ano passado.

·  
Para
Goiás, houve alguma melhoria em setembro, com o avanço de 3,6% frente ao mesmo
mês de 2019, depois da elevação de 2,0% em agosto. A melhoria deveu-se mais ao
ritmo menor de retração das vendas de automóveis e motos, que haviam despencado
14,8% e 9,9% em julho e agosto, passando a experimentar recuo de 0,6% em
setembro.

·  
Na
média brasileira, as vendas de veículos e peças sofreu baixa de 1,5% em
setembro (em relação ao mesmo mês de 2019), mas os materiais de construção
observaram vendas 31,3% maiores. Quase 65,0% do crescimento das vendas do
varejo amplo em setembro podem ser explicados pelo avanço dos setores de
materiais de construção e móveis e eletrodomésticos.

·  
“À
medida que o governo reduz e, eventualmente, elimina as transferências
extraordinárias de renda para a população feitas este ano, acreditamos que as
vendas sensíveis à renda (como supermercados) devam recuar, enquanto as vendas
sensíveis ao crédito (móveis e eletrodomésticos, material de construção,
veículos) tendem a se sustentar em patamares elevados. Esta desaceleração nas
vendas no varejo sensíveis à renda deve se tornar mais clara no final do ano e
no início de 2021”, analisam os economistas Luka Barbosa e Matheus Felipe Fuck,
do Itaú Unibanco.

 

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