Mulheres, negros, pardos e jovens, as “vítimas” preferenciais do desemprego

Rojões ouvidos lá pelos lados de Brasília em celebração pela “retomada” do mercado de trabalho , parecem precipitados, já que os dados retratados pela versão trimestral mostra cenário totalmente diferente | Foto: reprodução

Postado em: 28-11-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Mulheres, negros, pardos e jovens, as “vítimas” preferenciais do desemprego
Rojões ouvidos lá pelos lados de Brasília em celebração pela “retomada” do mercado de trabalho , parecem precipitados, já que os dados retratados pela versão trimestral mostra cenário totalmente diferente | Foto: reprodução

Lauro Veiga

Os
rojões ouvidos lá pelos lados de Brasília em celebração pela “retomada” do
mercado de trabalho, supostamente atestada pelos números do Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged), parecem precipitados, já que os dados
retratados pela versão trimestral da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), muito mais completos e precisos, mostram um cenário totalmente
diferente. O emprego, neste caso, continua encolhendo, ao mesmo tempo em que o
desemprego bate novos recordes de alta, atingindo preferencialmente – mas não
com exclusividade – mulheres, jovens, negros e pardos.

A
pesquisa desmonta as teses mais caras alardeadas pelo “desgoverno” federal ao
mostrar que o mercado de trabalho continua sustentando indicadores muito
negativos. Os mesmos dados sugerem ainda que a tendência de piora nos próximos
meses ainda não pode ser descartada diante do número crescente de pessoas
desalentadas por não conseguirem alguma forma de ocupação, vale dizer, de
sustento para suas famílias em meio à pandemia.

A
taxa de desemprego em todo o País atingiu 14,6% no terceiro trimestre deste
ano, recorde na série trimestral, atingindo 14,092 milhões de trabalhadores – da
mesma forma, o númeromais elevado desde que a pesquisa ganhou o formato atual,
em 2012, com alta de 12,6% frente ao mesmo período do ano passado. No terceiro
trimestre de 2019 e no segundo deste ano, a taxa havia sido de 11,8% e 13,3%,
respectivamente, em inequívoca tendência de alta. Em Goiás, a taxa de
desocupação saiu de 10,8% no terceiro trimestre do ano passado para 13,2% em
igual período deste ano, depois de alcançar 12,8% no trimestre imediatamente
anterior. Em números absolutos, a pesquisa mostra 461,0 mil pessoas desocupadas
no terceiro trimestre deste ano, frente a 414,0 mil em idêntico período de
2019, em alta de 11,5%.

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Cores
dramáticas

O
cenário surge muito mais dramático quando o desemprego é decomposto com base na
idade, gênero e raça dos trabalhadores. Para as mulheres, a taxa de desemprego
chegou a 16,8%, frente a 12,8% para os homens. A taxa de desocupação alcançou
níveis históricos entre jovens de 18 a 24 anos, batendo em 31,4% no terceiro
trimestre deste ano, o que se compara com 14,2% para a faixa entre 25 a 39 anos
e 9,9% para aqueles trabalhadores com idade entre 40 a 59 anos. Em todas as
faixas etárias, no entanto, os números foram os maiores da série, superando até
mesmo a recessão de 2015/16. Negros e pardos registraram taxas de 19,1% e
16,5%, saindo de 17,8% e 15,4% no segundo trimestre, pela ordem. Entre os
brancos, a taxa avançou de 10,4% para 11,8%. O indicador superou a taxa média
de desemprego para trabalhadores com ensino médio incompleto (24,3%) e mesmo
para os que haviam concluído o ensino médio (17,0%), batendo em 17,1% para
trabalhadores com educação superior incompleta.

Balanço

·  
Claramente,
o avanço do desemprego agravará as disparidades e injustiças no País, ao
castigar de forma expressivamente mais dura trabalhadores menos favorecidos e
suas famílias, como mostram os dados concretos.

·  
Para
complicar, o emprego não tem reagido, o que poderia sinalizar algum alívio mais
adiante para a desocupação. No conjunto do País, o total de pessoas ocupadas,
que havia somado 93,801 milhões no terceiro trimestre de 2019, baixou para
83,347 milhões no segundo trimestre deste ano e voltou a recuar no trimestre
seguinte, para 82,464 milhões, com fechamento de 11,337 milhões de vagas desde
o mesmo trimestre do ano passado (queda de 12,1%).

·  
Vale
anotar ainda que o total de pessoas ocupadas no trimestre passado foi o mais
baixo desde que a PNADC começou a ser realizada, situando-se abaixo até mesmo
dos níveis registrados durante a recessão mais recente.

·  
Em
Goiás, a pesquisa registra um total de 3,038 milhões de pessoas ocupadas no
terceiro trimestre deste ano, significando virtual estabilidade diante do
segundo trimestre, mas em baixa de 10,8% na comparação com o trimestre
julho-setembro de 2019 (369,0 mil empregos a menos).

·  
Em
mais um fator para complicar a equação da retomada pretendida, os empregos
formais não estão avançando, como sugere o saldo positivo entre admissões e
demissões indicado pelo Caged. Ao contrário, a PNADC mostra uma nova redução no
contingente de trabalhadores formais e empregadores com registro no Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), saindo de 52,579 milhões no segundo
trimestre deste ano para 50,826 milhões no seguinte – ou seja, 1,753 milhão a
menos (-3,3%). Se comparados aos 54,995 milhões computados no terceiro
trimestre de 2019, a queda chega a 7,6%, com encerramento de 4,169 milhões de
vagas.

·  
A
liberação das atividades econômicas parece ter embalado um avanço relativo no
total de ocupados na informalidade, que variou de 30,768 milhões para 31,638
milhões na passagem do segundo para o terceiro trimestre (870,0 mil a mais ou
2,8% de alta). Mas o número ainda representou 7,168 milhões de informais a
menos do que no terceiro trimestre de 2019 (38,806 milhões), num tombo de
18,5%.

·  
Para
Goiás, o número de trabalhadores informais neste ano saiu de 1,139 milhão no
segundo para 1,160 milhão no terceiro trimestre (mais 21,0 mil, o que, na
sinalização do IBGE, deve ser lido como estabilidade). Se considerado o total
de 1,414 milhão de pessoas na informalidade no terceiro trimestre do ano passado,
persiste um tombo de 18,0% nesta área, com encerramento de 254,0 mil ocupações.

·  
A
pesquisa anotou ainda um total de 5,866 milhões de pessoas desalentadas no
terceiro trimestre deste ano, dos quais 110,0 mil em Goiás. Em um ano, esse
número saltou 24,7% no País (1,163 milhão a mais) e 49,1% em Goiás (36,0 mil a
mais). Se esse contingente for acrescido ao total de desempregados, a taxa de
desocupação subiria para 19,5% na média brasileira, alcançando 15,8% no Estado.
Para comparação, no terceiro trimestre de 2019, a taxa de desempregados e
desalentados variava entre 15,5% na média do País e 12,5% em Goiás.

 

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