Indústria confirma desaceleração da produção em meio à pandemia

Produção avança, mas em velocidade reduzida; Iedi sugere uma possível acomodação do setor após a "arrancada" proporcionada pelo fim da fase mais dura de isolamento - Foto: Reprodução

Postado em: 03-12-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Indústria confirma desaceleração da produção em meio à pandemia
Produção avança, mas em velocidade reduzida; Iedi sugere uma possível acomodação do setor após a "arrancada" proporcionada pelo fim da fase mais dura de isolamento - Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

A
produção industrial passou a avançar em velocidade mais reduzida, num
comportamento que tem sido observado desde a virada do semestre, o que sugere,
na visão do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), uma
possível acomodação do setor depois da “arrancada” propiciada pelo religamento
de máquinas e linhas de produção paralisadas durante a vigência das medidas
mais duras de afastamento social. A demanda muito debilitada parece se sobrepor
às expectativas mais animadas de uma retomada duradoura – e estas podem sofrer
ainda outro baque diante do crescimento recente no número de casos de Covid-19,
com alta nas internações e mortes, o que pode levar governos a endurecerem as
medidas para conter o novo avanço da pandemia.

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Ainda
antes de confirmado o aumento dos casos, os indicadores da indústria mostravam
um cenário de evidente desaquecimento. Na saída de agosto para setembro deste
ano, a pesquisa mensal sobre a produção industrial, conduzida pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrava resultados negativos
para apenas quatro entre os 26 setores pesquisados. Na edição seguinte,
referente a outubro, 11 setores passaram a indicar queda da produção frente a
setembro, restando ainda 15 com números positivos (diante de 22 um mês antes).

Na
comparação com o mesmo mês do ano passado, o número de setores em crescimento
passou de 17 em setembro para 16 no mês seguinte. Dez segmentos tiveram perdas
em outubro, somente um a mais do que no mês imediatamente anterior.Uma
flutuação aparentemente pouco expressiva, até por se referir a um único mês.
Mas o chamado “índice de difusão”, que afere o percentual de produtos
industriais em crescimento em relação ao mesmo mês de 2019, baixou de 59,4% em
setembro para 50,8% em outubro.

Tendência
de queda

Os
indicadores apurados pelo IBGE mostram que a produção industrial, que havia
crescido 9,6% em junho diante de maio deste ano, passou a crescer em ordem
decrescente desde então (+8,6% em julho: +3,4% em agosto: +2,8% em setembro: e
apenas +1,1% em outubro). Se comparada ao mesmo mês do ano passado, a produção
avançou 3,7% em setembro e apenas 0,3% em outubro. Embora o nível da produção
industrial tenha avançado 1,4% em outubro, diante de fevereiro deste ano, no
acumulado entre janeiro e outubro persistia uma retração de 6,3% (em relação
agora aos mesmos 10 meses de 2019). A tendência de queda observada para o nível
da atividade da indústria, na leitura do economista José Francisco de Lima
Gonçalves, do Banco Fator, deve-se a duas razões. “De um lado, parte da
recuperação se deveu à recomposição de estoques nas cadeias industriais e entre
ela, o atacado e o varejo. De outro, a inevitável queda da demanda das
famílias, fruto do corte de renda que já começa a ser percebido, limitará a
manutenção do ritmo”.

Balanço

·  
A
produção de bens intermediários e de produtos semi e não elaborados, categoria
que inclui alimentos e bebidas, por exemplo, registrou recuos de 0,2% e de 0,1%
na passagem de setembro para outubro, o que ajudou a puxar o nível geral da
atividade industrial para baixo.

·  
As
indústrias de bens de capital (máquinas e equipamentos em geral, incluindo
equipamentos de informática, caminhões e ônibus) e de bens duráveis anotaram
avanços de 7,0% e 1,4% naquela mesma comparação, com forte desaceleração para
este último setor (que havia experimentado alta de 9,1% de agosto para
setembro). No primeiro setor, a desaceleração foi menos intensa, já que a
produção havia crescido 8,3% em setembro e chegou a registrar salto de 15,6% em
julho.

·  
A
queda na produção no segmento de bens de capital foi tão severa que a produção
ainda acumula retração de 15,6% nos 10 meses iniciais deste ano. O setor tem colecionado
perdas ao longo dos últimos sete anos, intercaladas por episódios de
crescimento pouco duradouros.Comparada ao seu nível mais elevado, registrado em
setembro de 2013, a atividade no setor registra um tombo de 32,8%.

·  
Os
resultados da indústria em meio à pandemia têm sido desiguais e 11 setores
ainda não conseguiram retomar aos níveis anteriores à crise sanitária, representando
por mais de 42,0% da indústria – “uma proporção não negligenciável”, na
anotação do Iedi.

·  
De
acordo com o instituto, a indústria parece deixar “para trás as perdas
provocadas pela pandemia, em um processo ainda parcial, pois não contempla
todos os setores na mesma intensidade”. Ainda conforme o Iedi, a indústria
estaria já se preparando para “uma nova fase, cujo dinamismo ainda é incerto”.
A incerteza está relacionada a um “aumento de casos de Covid-19 em algumas
regiões, redução do auxílio emergencial e de sua possível renovação em 2021
(possibilidade que a equipe econômica tem se recusado a aceitar), de pressões
inflacionárias”, entre outros fatores.

·  
No
acumulado deste ano, até outubro, a indústria de veículos foi responsável pouco
mais da metade da retração observada ao sofrer perdas de 34,4%. A produção de
autoveículos em outubro, de acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea), atingiu seu nível mais baixo para o mês desde
outubro de 2016.

·  
Mais
do que isto, as estatísticas da associação mostram uma queda ainda mais
acentuada em outubro, quando a produção caiu 18,0%. Em setembro, na comparação
com o mesmo mês de 2019, a queda havia sido de 11,0%, o que antecipa uma piora
nas perspectivas para o setor. Nos primeiros 10 meses deste ano, a produção
encolheu 38,5%, atingindo pouco menos de 1,567 milhão de veículos, resultado
que supera apenas o distante ano de 2003, quando as montadoras haviam fabricado
1,376 milhão de unidades.

 

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