Vendas aceleram em outubro, turbinadas pela alta do crédito

A elevação das vendas no comércio varejista em outubro parece relacionada quase que exclusivamente ao aumento do crédito para as pessoas físicas | Foto: Reprodução

Postado em: 11-12-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Vendas aceleram em outubro, turbinadas pela alta do crédito
A elevação das vendas no comércio varejista em outubro parece relacionada quase que exclusivamente ao aumento do crédito para as pessoas físicas | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

Com
desemprego elevado, renda das famílias em baixa e redução do auxílio
emergencial, a elevação das vendas no comércio varejista em outubro parece
relacionada quase que exclusivamente ao aumento do crédito para as pessoas
físicas, o que traz certo alento, mas igualmente desperta preocupações –
principalmente se o mercado de trabalho continuar enviando sinais muito
negativos, enquanto a equipe econômica não consegue colocar de pé uma proposta
para preservar a política de apoio aos trabalhadores mais vulneráveis aprovada
pelo Congresso no início da pandemia.

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Mantida
a tendência atual, sem reação do emprego e com perdas continuadas na renda
familiar, o risco de formação de uma “bolha de endividamento” deveria desde já merecer
alguma atenção. O cenário reforça mais uma vez, como se ainda fossem
necessárias mais indicações na mesma direção, a necessidade de manter alguma
forma de socorro às famílias mais afetadas pela crise. Até aqui, o varejo em
geral tem sido beneficiado pela retomada das atividades, interrompidas durante
a vigência das medidas mais duras de afastamento social no começo da crise
sanitária, e pelo auxílio emergencial, que contribuiu para compensar ou evitar
perdas nos rendimentos recebidos pelas famílias de renda mais baixa, além da
maior oferta de crédito.

Esse
movimento, no entanto, não deverá se sustentar sem uma recuperação do mercado
de trabalho, que não parece nítido no horizonte visível até aqui. Para
recordar, no trimestre julho a setembro deste ano, a população ocupada
(trabalhadores formais e informais) atingiu 82,464 milhões de pessoas, número
mais baixo na série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, foram
perdidos 11,337 milhões de empregos, enquanto o número de desocupados aumentou
12,6%, para 14,092 milhões. A massa de rendimentos efetivamente recebidos pelas
famílias de trabalhadores encolheu R$ 22,442 bilhões desde o trimestre
julho-setembro de 2019, chegando a R$ 194,758 bilhões (10,3% a menos). Em
Goiás, na mesma comparação, o total de ocupados caiu 10,8%, para 3,038 milhões,
com encerramento de 369,0 mil empregos. A massa salarial efetiva caiu 7,54%, o
que significou perdas de R$ 542,0 milhões.

As
alternativas possíveis

Diante
daqueles dados, restaram o auxílio emergencial, que vem encolhendo desde setembro,
e o crédito para justificar o avanço nas vendas do varejo. Segundo o IBGE, o
volume de vendas do varejo tradicional anotou variação de 0,9% de setembro para
outubro em todo o País e de 0,3% em Goiás. No chamado “comércio varejista
ampliado” (que inclui concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças e
de materiais de construção, que também realizam vendas no segmento de atacado),
a alta chegou a 2,1% na média do País e a 2,4% no Estado. Comparadas a outubro
do ano passado, Goiás registrou variações de 5,1% para o varejo convencional e
5,0% no comércio ampliado, diante de elevações de 8,3% e de 6,0%,
respectivamente, na média do Brasil.

Balanço

·  
O
crescimento foi mais relevante nos setores que mais dependem do crédito, a
exemplo das lojas de móveis e eletrodomésticos, materiais de construção e
equipamentos de informática e comunicação (neste último caso, em crescimento no
Estado, mas em baixa na média de todo o País).

·  
Goiás
destacou-se, no campo negativo, pelo tombo nas vendas dos supermercados, numa
queda de 7,0% em comparação a outubro do ano passado. A perda só não foi pior
do que aquela experimentada pelas papelarias, livrarias e bancas de jornais e
revistas, que viram as vendas despencarem 22,7% no Estado, acumulando retração
de 31,5% em dez meses. As concessionárias de motos e veículos venderam 2,2% a
mais, enquanto as lojas de materiais de construção observaram ampliação de
13,6%.

·  
No
Brasil, as vendas dos supermercados avançaram 7,3% frente a outubro de 2019,
com saltos de 30,7% nas vendas de móveis e de 18,9% para eletrodomésticos. No
varejo amplo, as vendas de veículos, motos e peças baixaram 5,9%, com salto de
20,9% para o setor de material de construção (que já acumula alta de 9,4% no ano).

·  
Nos
dados do Banco Central (BC), as concessões de novos créditos pelo setor
financeiro a pessoas físicas registraram elevação de 10,1% entre fevereiro e
outubro, saindo de R$ 153,292 bilhões para R$ 160,709 bilhões. O crescimento
foi puxado, pela ordem, pelo aumento das novas contrações realizadas pelo
consumidor por meio de seu cartão de crédito (a custos médios de 61,2% ao ano,
quer dizer, 15 vezes mais a inflação esperada para este ano), pelo crédito
pessoal e pelos financiamentos de veículos.

·  
As
concessões de crédito via cartão avançaram 5,4% desde fevereiro, para R$
111,609 bilhões, mas saltaram 30,3% para aquisição de veículo e 17,7% no
crédito pessoal. Proporcionalmente, o incremento mais vigoroso deu-se nas
concessões para financiamento de outros bens, que aumentaram 60,4%, para R$
749,0 milhões.

·  
A
inadimplência média no crédito para pessoas físicas continuava bem comportada
em outubro, na faixa de 6,0%, o que se compara com 7,8% em maio, percentual
mais elevado no ano, até aqui. A taxa é ligeiramente mais baixa do que os 6,2%
registrados em outubro do ano passado.

·  
Ficará
mais complicado manter os compromissos relacionados aos empréstimos e
financiamentos contratados nos últimos meses pelas famílias se a renda não
apresentar alguma reação. Segundo o Banco Central (BC), a massa total de
rendimentos disponíveis para as famílias encolheu 14,2% entre o trimestre
finalizado em fevereiro deste ano e os três meses encerrados em setembro,
saindo de R$ 305,718 bilhões para R$ 262,458 bilhões, num recuo de R$ 43,260
bilhões.

 

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