Preços perdem força no atacado e reduzem inflação

Os indicadores de preços ao consumidor ainda tenderão a mostrar aceleração, seja por efeito dos aumentos ainda em curso no varejo, seja como resultado da própria metodologia adotada para “medir” a inflação mês a mês | Foto: Reprodução

Postado em: 18-12-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Preços perdem força no atacado e reduzem inflação
Os indicadores de preços ao consumidor ainda tenderão a mostrar aceleração, seja por efeito dos aumentos ainda em curso no varejo, seja como resultado da própria metodologia adotada para “medir” a inflação mês a mês | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

As
expectativas de esvaziamento de focos inflacionários no curto prazo foram
reforçadas nesta semana pela divulgação de indicadores que mostram uma
desaceleração de certa forma acentuada para o ritmo de alta dos preços nos
mercados atacadistas, o que sugere futura acomodação igualmente para os preços
finais cobrados do consumidor – o que, por sua vez, permite antecipar taxas
mensais de inflação relativamente mais baixas do que as observadas desde
setembro passado.

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Ao
longo das próximas semanas, os indicadores de preços ao consumidor ainda
tenderão a mostrar aceleração, seja por efeito dos aumentos ainda em curso no
varejo, seja como resultado da própria metodologia adotada para “medir” a
inflação mês a mês, baseada na comparação entre preços médios captados em
quatro semanas e comparados com os preços médios dos mesmos itens e produtos
registrados nas quatro semanas imediatamente anteriores. Esse “efeito média”
pode ser entendido a partir de um exercício meramente ilustrativo.

Para
simplificar a conta, suponham, raras leitoras e raros leitores, que a inflação
seja determinada por um único produto e que o preço desse produto tenha saltado
de R$ 10 para R$ 13 entre o começo e o final do mês. A alta foi de 30%, muito
obviamente e o preço médio da mercadoria chegou a R$ 11,50 (R$ 10 mais R$ 13
divido por 2, numa conta simples). Nas quatro semanas seguintes, imaginem que o
produto tenha recuado para R$ 12. Isso significaria uma redução de 7,7% se
comparado ao valor de R$ 13 registrado na semana final do mês anterior.

No
cálculo da inflação, no entanto, são considerados os preços médios dos
produtos, como já mencionado. Neste exemplo, assim, o valor médio do bem ao
longo do mês de referência teria sido de R$ 12,50 (R$ 13 mais R$ 12 dividido
por dois). Comparado ao valor médio encontrado um mês antes, persistiria uma
alta de quase 9,0% (ainda que o produto tenha efetivamente baixado de preço no
período). Assim, quando os preços iniciam uma tendência de queda após semanas
de altas, o impacto integral dessa mudança somente será registrado pelos índices
de inflação mais à frente.

Menor
ritmo

A
escalada dos preços no atacado, que correspondeu a um aumento de custo para as
empresas em função do encarecimento de matérias-primas e insumos em geral,
respondeu por parte da aceleração observada para a inflação ao consumidor no
País nos últimos meses. A contribuição foi parcial exatamente porque as
empresas enfrentavam (e ainda enfrentam) dificuldades para repassar a alta de
custos ao consumidor diante de uma demanda muito debilitada pela crise e pelo
desemprego (a despeito do auxílio emergencial). Neste mês, os aumentos no
atacado perderam fôlego, com variações muito mais comedidas, conforme registra
o acompanhamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Balanço

·  
O
Ibrecalcula, entre outros indicadores, o Índice Geral de Preços (IGP), composto
pelo Índice de Preços no Atacado (IPA), que responde por 60% do IGP, e ainda
pelos índices de Preços ao Consumidor (IPC) e Nacional dos Custos da Construção
(INCC), que entram no cálculo com pesos de 30% e de 10%, respectivamente. No
começo da semana, o Ibre divulgou os resultados do IGP-10, com base nos preços
apurados entre os dias 11 de novembro a 10 de dezembro e comparados com os 30
dias imediatamente anteriores.

·  
O
IGP-10 retrocedeu de 3,51% em novembro para 1,97% neste mês (numa queda de 1,54
pontos de porcentagem). A retração foi determinada pelo tombo registrado para o
IPA, que saiu de 4,59% para 2,27% (redução de 2,32 pontos de porcentagem). As
maiores baixas foram registradas para os índices de preços de matérias primas
brutas (alta de 6,19% até 10 de novembro para elevação de 1,80% nos 30 dias
encerrados em 10 de dezembro) e de produtos agropecuários (de 9,49% para
2,88%).

·  
Para
comparação, o IPC, que afeta diretamente as famílias, ainda apresentou
elevação, saindo de 0,55% para 1,27%, refletindo os aumentos nos preços dos alimentos,
nas tarifas de energia e nas passagens aéreas.

·  
Ainda
sobre o comportamento dos preços no atacado, o Banco Central (BC) já havia
anotado alguma desaceleração nos preços médios das commodities (incluindo bens
agrícolas, metais, petróleo e outros). No segundo trimestre deste ano, aqueles
produtos haviam saltado 14,93%, passando a subir 6,81% no terceiro trimestre.
Trata-se, por óbvio, de uma variação ainda vigorosa, mas, de qualquer forma,
inferior ao salto registrado no trimestre anterior.

·  
O
desgoverno brasileiro continua colecionado atraso e retrocesso na área de
relações internacionais, desmantelando um árduo e custoso trabalho desenvolvido
ao longo de décadas pelo Itamaraty e que ajudou a colocar o Brasil em uma
posição de destaque no cenário externo. A diplomacia brasileira conseguiu
assegurar postos de comando para o País em instituições como a Organização
Mundial do Comércio), na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO) e outros fóruns globais, além do protagonismo exercido pelo
País no debate global de questões ambientais nos últimos anos. Tudo perdido.

·  
A
estupidez, o terraplanismo e o alinhamento burro e automático, não com uma
nação, mas com um presidente agora derrotado nas recentes eleições dos Estados
Unidos, levaram à mais recente perda. O Brasil abriu mão de assumir a
diretoria-geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI),
recusou-se a apoiar os candidatos indicados pela Colômbia e pelo Peru apenas
para apoiar o representante apontado por Cingapura, Daren Tang, a pedido dos
EUA. Em troca, teria a vaga de diretor-geral-assistente da organização. Depois
da posse, Tang preteriu o Brasil, que não tem mais a quem reclamar, porque o
preferido Donald Trump não conseguiu ser reeleito.

 

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