Emprego de baixa qualificação avança e renda das famílias para de crescer

Corte no auxilio emergencial passou a afetar o desempenho do rendimento das famílias. - Foto: Reprodução

Postado em: 24-12-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Emprego de baixa qualificação avança e renda das famílias para de crescer
Corte no auxilio emergencial passou a afetar o desempenho do rendimento das famílias. - Foto: Reprodução

Lauro Veiga

O
corte no valor médio do auxílio emergencial destinado às famílias de renda mais
baixa, que registrou perda de 39,5% entre agosto e novembro últimos, passou a
afetar o desempenho do rendimento das famílias, considerando-se apenas os
salários recebidos pelos trabalhadores no período. Ao mesmo tempo, a reação
observada no mercado de trabalho, com crescimento do total de ocupações, além
de insuficiente para deter a marcha do desemprego, tem sido sustentada
principalmente por empregos de baixa qualificação, o que pode explicar em parte
a queda persistente no rendimento médio real habitualmente recebido pelos
trabalhadores.

Os
dados estão na edição de novembro da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD Covid-19), uma versão experimental da PNAD, desenvolvida pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para acompanhar os impactos da
pandemia sobre o mercado de trabalho e sobre a saúde dos brasileiros. O valor
médio real do auxílio emergencial recebido por domicílio, segundo a pesquisa,
despencou de R$ 923 em agosto, quando atingiu seu pico, para R$ 558 em
novembro, já que o governo reduziu praticamente pela metade o auxílio pago às
famílias mais vulneráveis a partir de setembro. Na comparação com outubro,
quando havia alcançado R$ 694, o auxílio encolheu 19,6%.

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O
impacto sobre o valor médio ainda não foi integralmente percebido porque
algumas famílias ainda receberam parcelas retroativas do auxílio integral, que
não havia sido pago nos meses anteriores. Isso significa que o tombo deve se agravar
em dezembro, quando se encerra o programa, o que levará milhões de pessoas de
volta à miséria a partir de janeiro, caso não seja aprovada uma extensão do
benefício ou alguma outra política de transferência de renda para os mais
pobres.

Os
cortes já aplicados têm reduzido o crescimento real médio da massa de rendimentos
efetivamente recebidos pelos trabalhadores e suas famílias (que dizer, a soma
de todos os rendimentos recebidos pelas pessoas ocupadas). Em julho e agosto, a
massa havia experimentado crescimento real de 3,9% e de 3,5%, respectivamente,
na comparação com o mês imediatamente anterior. Em setembro e outubro, essa
taxa foi reduzida para algo entre 1,7% e 1,8% ao mês e, em novembro, houve
virtual estagnação, com variação desprezível de 0,2%, para R$ 183,472 bilhões.

Papel
essencial

O
pagamento do auxílio vinha sendo fundamental para preservar e até incrementar a
renda e, portanto, a capacidade de consumo das famílias socialmente mais
vulneráveis. Para comparação, entre maio e novembro, enquanto a massa de
rendimentos habitualmente recebidos encolheu 2,6%, saindo de R$ 199,314 bilhões
para R$ 194,176 bilhões (uma redução equivalente a R$ 5,138 bilhões), a massa
dos salários efetivamente recebidos saltou 12,9%, passando de R$ 162,512
bilhões para R$ 183,472 bilhões (ou seja, um acréscimo correspondente a R$
20,960 bilhões). O número sugere a importância do auxílio para a sustentação daquelas
famílias.

Balanço

·  
Nos últimos meses, no entanto, não apenas os valores
recebidos por conta do auxílio têm sofrido queda, mas o número de beneficiados
foi igualmente reduzido. Em julho, perto de 30,182 milhões de domicílios
abrigavam pelo menos uma pessoa que havia recebido o auxílio, representando
44,0% do total de domicílios. Em novembro, o total de domicílios favorecidos
pelo socorro havia caído para 28,109 milhões (-6,7%), passando a representar
41,0% de todos os domicílios. Houve a exclusão, portanto, de 2,029 milhões de
domicílios.

·  
Numa estimativa baseada nos dados da PNAD Covid-19, a
soma de todos os benefícios pagos aos domicílios favorecidos pelo auxílio
emergencial registra uma redução de R$ 12,1 bilhões desde julho, quando se aproximou
de R$ 27,8 bilhões, antes de desabar para R$ 15,7 bilhões em novembro – uma
retração de 43,5%. O benefício, que respondeu por 16% da massa de rendimentos
efetivamente recebidos em julho, reduziu sua participação quase pela metade em
novembro, para 8,5%.

·  
O número de pessoas ocupadas avançou 3,9% entre
julho, quando havia alcançado sua pior marca nos meses da pandemia (até o
momento), e novembro, crescendo de 81,484 milhões para 84,661 milhões. Foram
criados, portanto, 3,177 milhões de novas ocupações no período. Mas perto de
4,962 milhões de trabalhadores voltaram a procurar alguma colocação no mesmo
período, fazendo o total de pessoas na força de trabalho sair de 93,737 milhões
para 98,699 milhões. Ou seja, a economia não conseguiu criar empregos em número
suficiente, o que fez o total de desempregados aumentar 14,6% de julho para
novembro, de 12,253 milhões para 14,038 milhões.

·  
A taxa de desocupação, que já havia subido de 10,7%
em maio, quando o IBGE passou a divulgar a PNAD Covid-19, para 13,1% em julho,
atingiu 14,2% em novembro. A desocupação pode avançar ainda mais, porque,
naquele mês, 24,068 milhões de pessoas ainda se encontravam fora do mercado,
mas gostariam de trabalhar. Somando os dois contingentes, o desemprego poderia
avançar para 38,106 milhões de pessoas (ou seja, 171% mais do que o total
registrado pela pesquisa). Isso elevaria a taxa de desocupação para 31,0%.

·  
Adicionalmente, o incremento da ocupação de julho
para novembro, com aqueles 3,177 milhões de empregos a mais, foi sustentado em
boa parte pelo aumento dos ocupados nas atividades de serviços e vendas e pelo
grupo classificado como “ocupações elementares” pelo IBGE. No primeiro caso, o
total de empregados saiu de 13,527 milhões para 14,981 milhões (mais 1,454
milhão de vagas, num salto de 10,8%). No segundo, foram abertas 553,0 mil
ocupações (de 11,413 milhões para 11,966 milhões de pessoas, variando 4,3%).
Somados, os dois segmentos responderam por 63,1% de todos os empregos criados
no período.

 

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