Com desemprego alto, informalidade responde por 64% dos novos empregos

Mercado de trabalho continuava derrapando nos meses finais de 2020, com taxa de desemprego em níveis historicamente elevados e retorno lento, gradual e impreciso do emprego | Foto: Reprodução

Postado em: 28-01-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
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Mercado de trabalho continuava derrapando nos meses finais de 2020, com taxa de desemprego em níveis historicamente elevados e retorno lento, gradual e impreciso do emprego | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

Ainda
sem os efeitos da recaída dramática da pandemia no País, o mercado de trabalho
continuava derrapando nos meses finais de 2020, com taxa de desemprego em
níveis historicamente elevados e retorno lento, gradual e impreciso do emprego,
com ampla predominância das ocupações informais – padrão, de resto, que já
vinha sendo observado nos anos seguintes à recessão de 2015/16. Apostar numa
melhoria sustentada da atividade econômica diante da ausência de reação do
mercado de trabalho e, mais recentemente, do agravamento exponencial dos casos
de contágio pelo Sars-CoV-2, diante do surgimento de novas cepas com maior
poder de contaminação, parece não só uma atitude de alto risco, mas de
alheamento total em relação à realidade. Bom, nada do que já não seja o padrão
dominante entre analistas, consultores e economistas “de mercado”.

As
perspectivas para o emprego e para todo o restante da economia nos meses
iniciais deste ano, portanto, serão ditadas pela crise sanitária, pelo fim do
auxílio emergencial e das demais medidas adotadas entre abril e dezembro do ano
passado em apoio às empresas, num quadro em que já se observava, desde o final
de 2020, uma nítida desaceleração da economia. Na análise do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), “com os sinais de acomodação
do crescimento econômico na virada do ano e o fim do auxílio emergencial, que
leva as pessoas a buscarem uma vaga no mercado de trabalho, é de se esperar que
a taxa de desemprego permanece pressionada neste início de 2021”.

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Os
dados da edição de novembro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD),
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cobrindo o trimestre
encerrado naquele mês, reforçam ainda mais o alheamento entre a realidade e a
posição sustentada por uma parte dos diretores do Banco Central (BC) na mais
recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), já comentada neste
espaço na edição de quarta-feira, 27. A pesquisa registra 14,023 milhões de
desocupados, o número mais elevado para o período desde o começo da atual série
histórica, em 2012, correspondente a uma taxa de desemprego de 14,1%. O índice
havia saído de 14,4% no trimestre junho-agosto para 14,6% no período
julho-setembro, períodos em que o total de pessoas sem emprego atingiu 13,794
milhões para 14,092 milhões. Em 2019, a taxa de desocupação havia se limitado a
11,2% no trimestre setembro-novembro, com 11,863 milhões sem emprego (o que
significa dizer que houve um salto de 18,2% em 12 meses, com mais 2,160 milhões
de trabalhadores desempregados).

Desemprego
“real”

Os
números do desemprego, conforme o conceito adotado pelo IBGE e aceito
internacionalmente, no caso atual, não reflete integralmente a situação do
mercado de trabalho em tempos de pandemia, diante do número altíssimo de
trabalhadores que deixaram de procurar emprego por falta de esperanças
(desalento) e de oportunidades, incluídos na “força de trabalho potencial”
(quer dizer, que poderiam trabalhar se lhes fosse dada uma chance). Esse
contingente atingiu 11,426 milhões no trimestre encerrado em novembro passado,
dos quais metade (5,723 milhões) encontrava-se em situação de desalento. Somado
ao total de desocupados, o número sobe para 25,449 milhões de trabalhadores, o
que fatia a taxa de desemprego saltar para praticamente 23,0%.

Balanço

·  
Essa
taxa havia sido maior nos três meses finalizados em agosto, aproximando-se de
25,1%. Mas ainda permanece muito acima dos 17,2% observados na média entre
setembro e novembro de 2019. Esse continua sendo o caráter mais perverso da
crise atual, ao privar milhões de famílias de um emprego digno e de seu sustento.
O fim do auxílio emergencial, como tem sido reforçado pela coluna, vai
contribuir para jogar essas famílias ou parte delas na miséria, minando as
possibilidades de uma retomada da economia no curto prazo caso não ocorra uma
mudança na política econômica (alternativa altamente improvável, a depender
exclusivamente do Palácio do Planalto e do Ministério da Economia).

·  
A
PNADC desmonta ainda a tão alardeada “recuperação” do emprego, um dos
indicadores apontados pela equipe econômica para sustentar sua decisão de
manter o fim das medidas de socorro às famílias e às empresas. De fato, o total
de pessoas ocupadas no País avançou de 81,666 milhões entre junho e agosto do
ano passado para 85,578 milhões no trimestre imediatamente seguinte, uma alta
de 4,3% com a abertura de 3,913 milhões de novas colocações no mercado.

·  
O
número, de qualquer forma, continuava 9,4% abaixo de igual período de 2019,
quando o total de ocupados chegava a 94,414 milhões. Em 12 meses, portanto,
haviam sido jogados no olho da rua perto de 8,838 milhões de trabalhadores.

·  
E
a tal “recuperação”? Bom, o aumento no número de trabalhadores informais, sem
direitos e nem garantias, respondeu por pouco mais de dois terços do incremento
observado para o total de ocupados entre os trimestres junho-agosto e
setembro-novembro. Na conta feita pela coluna, o número de informais inclui
ainda os trabalhadores sem carteira no setor público, categoria que não entra
na estimativa do IBGE para aferir os níveis da informalidade no País. Assim, o
total de trabalhadores sem direitos e nem garantias avançou de 33,338 milhões
para 35,856 milhões entre aqueles dois trimestres, mostrando evolução de 7,5%.

·  
O
número de informais, assim, registrou acréscimo de 2,445 milhões, o
correspondente a 64,3% das 3,913 milhões de novas ocupações abertas no período
analisado. Esse contingente foi também responsável por 63,2% das ocupações
encerradas na comparação com o trimestre setembro-novembro de 2019. O dado
apenas confirma o estrago mais severo da crise sanitária sobre trabalhadores em
situação mais frágil no mercado.

·  
Não
surpreende, ainda, o fato de que praticamente 77,0% entre os que perderam o
emprego naqueles 12 meses estavam entre trabalhadores do setor de serviços e do
comércio. Da mesma forma, os dois segmentos responderam por 69,5% do aumento
observado entre junho-agosto e setembro-novembro, com o número de ocupados
naquelas áreas saindo de 57,641 milhões para 60,180 milhões (quase 6,8 milhões
a menos do que os 66,978 milhões ocupados entre setembro e novembro de 2019). 

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