Indústria até cresce no fim de 2020, mas fecha ano em queda e com dúvidas

O setor começa o novo ano sob incertezas e diante da perspectiva de um primeiro trimestre negativo, sob influência da redução adicional da demanda esperada a partir do final do auxílio emergencial | Foto: Reprodução

Postado em: 03-02-2021 às 06h30
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Indústria até cresce no fim de 2020, mas fecha ano em queda e com dúvidas
O setor começa o novo ano sob incertezas e diante da perspectiva de um primeiro trimestre negativo, sob influência da redução adicional da demanda esperada a partir do final do auxílio emergencial | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

A
produção industrial veio acima do que esperavam os mercados no final do ano
passado, mas não conseguiu escapar do vermelho no acumulado em todo o período,
alcançando o segundo ano de perdas, geradas por deficiências estruturais
enfrentadas pelo setor e, no ano recém-encerrado, pelos impactos da pandemia,
como já se sabe. O setor começa o novo ano sob incertezas e diante da perspectiva
de um primeiro trimestre negativo, sob influência da redução adicional da
demanda esperada a partir do final do auxílio emergencial.

Além
do fim do auxílio, que retira da economia algo próximo a R$ 32,6 bilhões
mensais (considerando a média do benefício pago entre abril e dezembro do ano
passado), dois outros fatores que contribuíram para o resultado de dezembro da
produção industrial, como lembra o economista José Francisco Gonçalves de Lima,
do Banco Fator, não deverão mais influenciar no desempenho do setor daqui para
frente. Na sua visão, “parte da recuperação (em dezembro) se deveu à
recomposição de estoques (bastante afetados nos meses de paralização quase
total da produção, em alguns setores estratégicos) e à retomada de obras
demandantes de bens de capital (um dos segmentos que mais influíram nos números
da indústria em geral no encerramento de 2020, depois de bens intermediários)”.

Continua após a publicidade

Nos
dois casos, acrescenta Gonçalves, “os movimentos são temporários” e, portanto,
não teriam capacidade, isoladamente, para sustentar um ciclo de recuperação
mais longo e de maior fôlego. Até porque, o restante da conjuntura econômica
continua pouco favorável, o que parece estar por trás da queda recente do indicador
de confiança da indústria, aferido mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV). Em janeiro, aquele índice sofreu baixa de 3,6% em relação a dezembro,
com quedas tanto para a avaliação do empresariado industrial em relação à
situação atual (-3,6%) como para o índice de expectativas (-3,3%). A nova onda
de contágios e mortes causados pelo Sars-CoV-2 limitará ainda mais as
perspectivas de uma retomada da economia como um todo nestes primeiros meses de
2021, processo agravado pela lentidão e desorganização do governo na vacinação
contra o vírus.

Desaceleração
em curso


um dado adicional a ser considerado. Ainda que o resultado de dezembro tenha
superado as expectativas do mercado, com variação de 0,9% em relação a
novembro, já com os tais ajustes sazonais (que permitem eliminar a influência
de fatores que se repetem em meses específicos do ano e que podem distorcer a
comparação mensal), diante de previsão de um recuo de 0,4%, os indicadores
confirmam uma tendência de desaceleração no semestre passado. Sempre na
comparação com o mês imediatamente anterior, a produção havia avançado 9,6% em
junho e 8,6% em julho, com a taxa baixando nos meses seguintes para 3,5%, 2,8%,
1,0% e 1,1% já em novembro.

Balanço

·  
Em
relação a dezembro de 2019, a produção avançou 8,2% (diante de uma previsão
média de alta de 5,5%) e dois terços desse crescimento ficaram concentrados em
quatro setores – veículos (+22,6%), máquinas e equipamentos (+37,4%),
metalurgia (+28,9%) e produtos de metal (+23,6%).

·  
O
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela
pesquisa mensal da produção industrial, destaca um salto de fato
impressionante, ao ser analisado isoladamente, de 41,8% acumulado nos oito
meses até dezembro de 2020. O fato, no entanto, é que a reação veio sobre uma
base muito deprimida pelas medidas mais duras de distanciamento adotadas pelos
governos nas primeiras semanas da pandemia. E não foi suficiente para evitar a
queda de 4,5% nos 12 meses do ano passado, na sequência do recuo de 1,1%
registrado em 2019.

·  
A
análise do desempenho trimestral da produção, os dados da pesquisa mostram
baixas de 1,7%, de 19,4% e um recuo adicional de 0,4% no primeiro, segundo e
terceiro trimestres do ano passado, respectivamente, comparados a idênticos
períodos de 2019. Bens de consumo foram a categoria mais afetada, com destaque
para produtos semi e não duráveis (segmento que inclui setores de primeira
necessidade, como alimentos, por exemplo).

·  
Na
sequência, por trimestre, a produção de bens de consumo caiu 4,0% no primeiro,
desabou 27,5% no segundo, para recuar 4,1% e 0,6% nos dois trimestres
seguintes. A produção de bens semiduráveis e de não duráveis já vinha de um
resultado já negativo no primeiro trimestre, quando baixou 3,2%, e despencou
16,6% no segundo trimestre, caindo 3,1% e 1,1% no terceiro e quarto trimestres.
Em todo o ano, a produção murchou 5,9%.

·  
Além
de setores básicos, sob o ponto de vista do consumo familiar, a produção de
álcool e de gasolina, seguindo a mesma ordem, experimentou baixas de 4,5%, de
17,1%, de 9,6% e de 8,0%. A indústria de laticínios fugiu do padrão e registrou
perdas mais severa logo no primeiro trimestre de 2020, ao desabar 13,5%.
Seguiram-se quedas de 2,2%, de 0,7% e de 5,3%, sinalizando um agravamento da
crise no setor no trimestre final do ano passado.

·  
O
setor de bens de capital, um sinalizador importante do ritmo dos investimentos
na economia, sofreu perdas de 2,3% no primeiro trimestre, despencou 38,5% no
segundo e mais 10,3% no terceiro, para saltar 14,8% no quatro trimestre. A alta
mais destacada no período veio da produção de bens de capital para a
agricultura (+36,4%) e para o setor de construção (26,5%) – apenas lembrando
que a produção de bens de capital para o segmento havia desabado 40,4% no
segundo trimestre.

 

Veja Também