Dívida do mundo supera 355% do PIB e passa de US$ 281,5 trilhões

Os dados do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que acompanha uma amostra de 61 países, entre desenvolvidos e emergentes, mostram que a dívida global avançou 8,6% | Foto: reprodução

Postado em: 17-02-2021 às 23h59
Por: Sheyla Sousa
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Os dados do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que acompanha uma amostra de 61 países, entre desenvolvidos e emergentes, mostram que a dívida global avançou 8,6% | Foto: reprodução

Lauro Veiga 

Governos,
empresas, famílias e todo o setor financeiro aumentaram suas dívidas ao longo
do ano passado, numa das consequências da pandemia, que
somente deverá ser contida no momento em que a vacinação vier a atingir números
mais relevantes ao redor do planeta – cenário que deverá demorar um pouco mais
para se realizar por aqui diante do descaso prevalente. Os dados do Instituto
Internacional de Finanças (IIF), que acompanha uma amostra de 61 países, entre
desenvolvidos e emergentes, mostram que a dívida global avançou de US$ 257,4
trilhões para US$ 281,5 trilhões entre 2019 e o ano passado, crescendo 8,6%.
Conforme o instituto, o acréscimo de US$ 24,1 trilhões entre um ano e outro
respondeu por um quarto do crescimento acumulado pelo endividamento do globo em
toda a década passada.

A
dívida passou a ser mais de quatro vezes e meia superior a toda a “riqueza”
produzida por todos os países em 2020, em mais um recorde explicado pela
necessidade de assegurar algum apoio à economia e aos mais vulneráveis, cobrir
gastos recordes com saúde, pelo lado dos governos, e financiar a sobrevivência
dos negócios e o sustento das famílias. Como proporção do Produto Interno Bruto
(PIB) global, a dívida saiu de 321% para algo acima de 355%, o que significou
uma elevação de praticamente 35 pontos de porcentagem (no dado apresentado pelo
Monitor da Dívida Global, da IIF). Para comparar, em 2008 e 2009, durante a
crise financeira mundial (a mais severa desde os anos 1930), a dívida do mundo
havia sofrido alta de 25 pontos.

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Nem tão ruim
assim

Antes
de prosseguir na apresentação das estatísticas do endividamento do globo, o
relatório divulgado ontem pelo IIF deixa claro como cristal que todos os países
(e seus governos) estão diante de dívidas muito mais elevadas do que antes da
pandemia. Não parece haver muitas dúvidas em relação a esse ponto. Mas o
acompanhamento feito regularmente pela entidade mostra ainda que o Brasil,
embora tenha também apresentado alta em sua dívida, ficou apenas na 26ª posição
quando se considera o avanço dos índices de endividamento de empresas não
financeiras, famílias e o governo geral, ou seja, a variação do endividamento
em relação ao PIB em pontos percentuais. No caso da dívida dos governos, o País
ocupa a 12ª colocação, sob o mesmo critério de avaliação (e foi apenas o oitavo
quando se consideram apenas os países emergentes da amostra).

Balanço

·  
Se
considerada em valores relativos, os governos no Brasil passaram a dever algo
em torno de 101,8% do PIB (a estatística do Banco Central brasileiro, que segue
outros critérios, aponta uma relação de 89,3%) – a sexta mais alta entre as
seis dezenas de países acompanhados pelo IIF. Em 2019, aquela dívida
representava 88,7% do produto (74,3% na contabilidade do nosso BC) e já era a
sexta mais elevada no mundo. A comparação internacional apenas reforça o fato
de que todos os países e governos sairão da crise muito mais endividados do que
antes – e o Brasil não seria exceção.

·  
Considerando
todos os setores da economia, incluindo as empresas financeiras e não
financeiras, famílias e governos, a dívida total no Brasil saiu de 204,3% para
247,1% do PIB entre o quarto trimestre de 2019 e o mesmo período do ano
seguinte. Mas 58,8% do endividamento concentram-se fora dos governos, que
responderam por 41,2% da dívida total em 2020. A relação era até mais
desfavorável para os governos no País em 2019, ano em que participaram de 43,4%
da dívida total.

·  
Os
governos foram responsáveis ainda por menos de um terço do crescimento da
dívida total do Brasil (30,6%), cabendo ao setor financeiro uma contribuição de
49,5%. O endividamento ali saiu de 41,2% para 62,4% do PIB (dos quais menos de
um quinto estava representado por moedas estrangeiras, com destaque inequívoco
para o dólar).

·  
Famílias
e empresas passaram a dever o equivalente a 82,9% do PIB, diante de 74,4% em
2019. No grupo, a fatia maior, próxima a 48,9% do PIB, ficou para as empresas
não financeiras, em alta de cinco pontos diante de 2019 (43,9%). Um dado
preocupante aqui, diante das turbulências no mercado de câmbio no País, é que
47,6% da dívida daquelas empresas estão contratados em moeda estrangeira, com o
dólar representando 90,0% do endividamento externo do segmento.

·  
Em
outro ponto óbvio, o IIF observa que o ritmo da vacinação difere
substancialmente entre os diferentes países acompanhados e que dificuldades
nesta área tendem a retardar a recuperação da economia e a promover novos
avanços para o endividamento global.

·  

em sua parte final, o relatório do instituto adverte que a retirada prematura
de medidas de apoio do governo às empresas e às famílias poderá significar um
surto de falências e uma nova onda de calotes em empréstimos e financiamentos,
“com implicações financeiras para a estabilidade do setor bancário”.

·  
Como
um clube dos maiores bancos mundiais, as preocupações do IIF parecem limitadas
pelo horizonte dos interesses de seus sócios. Faltou acrescentar ali que a
retirada prematura dos mecanismos e políticas de apoio do governo às empresas e
famílias, numa fase de recrudescimento da pandemia, poderá significar aumento
no contágio e nas mortes, além de um surto ainda mais severo de desemprego, com
mais e mais famílias jogadas na miséria.

 

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