Alta dos combustíveis responde por quase 49% da inflação de fevereiro

Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Sexta-feira (12/3) | Foto: Reprodução

Postado em: 12-03-2021 às 08h25
Por: Sheyla Sousa
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Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Sexta-feira (12/3) | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

Os
mercados iniciaram há dias uma “mobilização” para pressionar a autoridade
monetária, agora autônoma, a retomar a política de aumentos nos juros básicos,
tomando como pretexto a elevação dos índices inflacionários nas últimas semanas.
Diante do poder de fogo desse pessoal, pode-se mesmo esperar alguma
movimentação do Banco Central (BC) na direção pretendida pelo setor financeiro na
reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) prevista para os próximos dias
16 e 17. O cassino dos juros adoraria ver uma alta da taxa básica para 3,0% ao
ano, saindo dos 2,0% que vigoram desde agosto do ano passado. Os mais realistas
esperam um acréscimo de meio ponto de porcentagem.

Os
juros básicos ainda continuariam em níveis historicamente baixos e inferiores à
inflação, caracterizando a permanência de taxas negativas, mas com tendência a
sofrer novos aumentos, a depender da capacidade de convencimento dos mercados.
Essa perspectiva de correções sequenciais no custo do dinheiro gera ou deveria gerar
preocupação, já que os mercados apostam numa taxa básica de 5,0% no final deste
ano, o que seria desastroso para o lado real da economia, que já enfrenta
aumento nos custos de insumos. Seja como for, o BC autônomo, portanto, parece
já ter traçado seu destino imediato e tende a entregar pelo menos parte do que
pedem os tais “agentes” dos mercados.

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A
despeito das pressões de custos experimentadas pela economia em geral, diante
de aumentos nos preços das commodities (destacadamente no caso do petróleo, que
ontem atingiu US$ 69,53 o barril nos mercados futuros, acumulando aumento de
13,7% em 30 dias) e das oscilações característicasno mercado de dólar, a piora
galopante da pandemia em todo o País ao menos deveria ser levada à reunião dos
representantes dos donos do dinheiro como um fator ao menosa ser ponderado.O
agravamento da crise humanitária, com o número de mortes já superando o número
macabro de 2,0 mil pessoas, deveria pelo menos causar alguma comoção nos
mercados, já que os efeitos diretos sobre a atividade econômica tendem a ser
muito mais severos do que se o País não enfrentasse um desgoverno e tivesse
conseguido planejar e organizar uma reação conjunta contra a pandemia, contendo
o avanço do Sars-CoV-2 e, portanto, das mortes.

Aceleração


dúvidas se o aumento dos juros produzirá efeitos de fato sobre o nível da
inflação no País, já que o avanço recente das taxas inflacionárias não parecem
ter a menor relação com pressões de demanda (que, ao contrário, tem dado
mostras de retraimento neste começo de ano). No mês passado, o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aferido pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), atingiu 0,86%, depois de ter avançado 0,48% nas
quatro semanas encerradas no dia 15 de fevereiro – o que demonstra forte
aceleração em apenas uma quinzena, de fato. Em janeiro, o índice havia
registrado 0,25% (acumulando, portanto, incremento de 0,61 pontos em 30 dias).
A taxa de variação dos chamados “preços livres” subiu também, de 0,44% em
janeiro para 0,57% no mês seguinte, numa variação muito mais contida (0,13
pontos).

Balanço

Na composição do IPCA de fevereiro, o peso dos
combustíveis foi determinante. Por culpa da política de transmissão quase
automática dos aumentos do petróleo no mercado internacional, adotada pela
Petrobrás desde 2016, como se o País fosse integralmente dependente de
importações nesta área.

Naquele mês, em conjunto, os preços da gasolina e do
óleo diesel experimentaram altas de 7,11% e de 5,40%, com o etanol subindo
8,06% (por influência dos preços mais altos da gasolina, sua concorrente
direta, e pela entressafra da cana, que reduziu a oferta doméstica). Essas
altas levaram a um aumento conjunto de 7,09% para os combustíveis, o que, por
sua vez, foi responsável por 48,8% do IPCA de fevereiro.

A contribuição dos aumentos naquela área sobe para
praticamente 52,8% se considerada a variação de 2,98% sofrida pelo gás de
botijão. Descontados esses aumentos, os demais preços experimentaram variação
de 0,41% aproximadamente, ainda assim acima da taxa de 0,25% registrada em nos
30 dias terminados na segunda semana do mês passado (igualmente com a exclusão
de combustíveis e gás).

No acumulado dos primeiros dois meses deste ano, com
o IPCA alcançando 1,11%, os preços dos combustíveis e do gás de botijão
subiram, pela ordem, 9,37% e 6,27%. Somados, aqueles dois itens foram responsáveis
por 56,41% da inflação geral, o que significa dizer que todos os demais preços
experimentaram elevação de 0,48%. Com a aceleração recente, o IPCA subiu 5,20%
em 12 meses, diante da meta inflacionária de 3,75% fixada para este ano, com
margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima (ou seja, a
inflação poderá flutuar entre 1,75% e 4,75% nos 12 meses deste ano).

Ainda no índice de fevereiro, o grupo educação
pressionou a taxa para cima em função da retirada de descontos concedidos pelas
escolas às famílias de alunos durante a pandemia (como se a pandemia tivesse se
encerrado em dezembro passado). No cálculo geral, o custo da educação aumentou
2,48% em fevereiro, respondendo por 17,1% do índice geral. Portanto, a soma das
contribuições dos combustíveis e da educação explica 70,0% do IPCA do mês
passado.

Os cursos regulares (pré-escola, ensino fundamental,
médio e superior), com elevação de 3,08%, foram responsáveis pela maior pressão
dentro do grupo educação. Descontadas as variações de combustíveis e cursos
regulares, apenas como exercício, a variação dos demais preços atingiu 0,30%
(mas foi o dobro da alta verificada entre a quinzena final de janeiro e a
primeiro de fevereiro, que havia sido de 0,15%).

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