Perda de renda derruba vendas de supermercados, roupas e calçados

Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, deste fim de semana (13 e 14/3) | Foto: Reprodução

Postado em: 13-03-2021 às 08h25
Por: Sheyla Sousa
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Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, deste fim de semana (13 e 14/3) | Foto: Reprodução

Lauro Veiga

O
setor de super e hipermercados, incluindo alimentos, bebidas e cigarros,
amargou em Goiás o sexto mês consecutivo de perdas, num tombo acumulado no
período próximo de 14,4%. Os números mensais nesta área não têm sido nada
lisonjeiros e mostram um dos lados mais duros da crise, que não deverá
registrar melhoras diante dos efeitos dramáticos da pandemia observados desde o
começo do ano e agravados de forma descontrolada nas primeiras semanas deste
mês. Na comparação com igual período de 2020, os supermercados reduziram suas
vendas em 11,0% em janeiro, depois de desabar 21,5% em novembro e mais 12,1% em
dezembro, encerrando o ano que passou em baixa de 3,9%.

No
varejo tradicional, as perdas foram mais intensas para o setor de tecidos,
vestuário e calçados, que sofreu perda de 11,1% no primeiro mês deste ano,
saindo de queda de 3,4% em dezembro, e também para papelarias, num tombo de
nada menos do que 44,7% em relação a janeiro do ano passado. O varejo amplo,
que inclui negócios com características do segmento atacadista, registrou baixa
de 9,4% nas vendas de veículos, motos e autopeças, mas elevação de 8,6% para as
vendas de materiais de construção (o nono mês consecutivo de crescimento).

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O
desempenho mais negativo verificado nos setores mais dependentes da
disponibilidade de renda das famílias parece relacionado exatamente à redução
na massa de rendimentos recebidos pelos trabalhadores. No Estado, conforme
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNADC), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a massa de rendimentos
efetivos das pessoas ocupadas (ou seja, a soma de todos os rendimentos do
trabalho de fato recebidos pelas famílias) experimentou retração de 12,2% entre
o primeiro e o quarto trimestres de 2020, encolhendo de R$ 8,024 bilhões para
R$ 7,042 bilhões (uma perda de R$ 982,0 milhões). Devem ser considerados ainda
os impactos da pandemia sobre o mercado de trabalho, que levou a um incremento
do desemprego e a uma precarização ainda maior do emprego.

Acima da média

Os
dados gerais do varejo convencional apontam estragos mais duros para o setor em
Goiás, acumulando o quinto resultado negativo na comparação com o mês
imediatamente anterior (com três meses de baixas para o varejo amplo no mesmo
tipo de comparação). Em janeiro, as vendas recuaram 0,7% no varejo restrito,
comparadas a dezembro (quando já haviam sofrido queda de 3,1% – o que significa
dizer que houve certa moderação no ritmo da retração), mas encolheram 5,1% em
relação a janeiro do ano passado. O varejo amplo anotou recuo de 0,3% na
passagem de dezembro para janeiro e tombo de 5,5% frente ao primeiro mês de
2020. Na média de todo o País, as perdas no mesmo setor foram de 2,9% (com
recuo de 0,3% para o varejo tradicional, também em relação a janeiro do ano
passado).

Balanço

O
fraco comportamento da renda das famílias, agravado neste primeiro trimestre do
ano com o fim do auxílio emergencial, e as incertezas agravadas pelo ritmo das
mortes e dos casos de contágio tendem a determinar novas perdas para o comércio
no Estado e no restante do País nos primeiros meses deste ano e provavelmente
nos seguintes, a depender do andamento da vacinação.

O
pagamento do auxílio mitigado, provavelmente a partir de abril, com valor médio
ao redor de R$ 250, não deverá alterar esse quadro fundamentalmente. Mais uma
vez, o dado definitivo será a capacidade de o País tocar a campanha nacional de
imunização de forma célere, o que permitiria uma melhoria nos indicadores da
pandemia e, portanto, o retorno mais rápido das
atividades econômicas (como já vem ocorrendo nos países que têm alcançado maior
sucesso na vacinação).

Por
isso mesmo, combater as medidas de isolamento e de distanciamento social, a
esta altura, com as falhas notórias no processo de imunização da população,
será condenar a economia a uma crise mais alongada e todo o País a um período
ainda mais tenebroso. A bem da verdade, embora a palavra venha sendo utilizado
de forma até abusiva, o País jamais experimentou um “lockdown” real – o que
houve foram intervalos curtos de paralisação parcial de atividades não
essenciais e um distanciamento social relativo e jamais absoluto.

Ainda
olhando o desempenho da massa salarial efetiva, que considera rendimentos do
trabalho de fato recebidos pelas pessoas ocupadas, a PNADC registrou queda real
de 10,0% em todo o País na comparação entre o último trimestre de 2020 e igual
intervalo de 2019, o que significou uma perda de R$ 23,369 bilhões no período.
Já atualizada com base na inflação, a massa baixou para R$ 210,825 bilhões.

Os
dados do Banco Central (BC), que calcula a massa salarial ampliada disponível,
mostram tendência semelhante, embora em valor nominais (quer dizer, sem
correção pela inflação). Abre parêntese: a massa salarial disponível considera
os salários pagos, pensões, aposentadorias e benefícios sociais e desconta o
Imposto de Renda recolhido na fonte e as contribuições à Previdência. Fecha
parêntese. Nos 12 meses de 2019, a massa disponível havia alcançado R$ 3,419
trilhões, em valores arredondados, valor reduzido para R$ 3,291 trilhões no ano
passado – uma redução nominal de 3,73%. Parece pouco? Em valores, as famílias
deixaram de receber R$ 127,599 bilhões.

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