BNDES já era mais eficiente que seus concorrentes, mostra estudo

Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Quinta-feira (25/3) | Foto: Reprodução

Postado em: 25-03-2021 às 07h45
Por: Sheyla Sousa
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Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Quinta-feira (25/3) | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

Mesmo
antes do desmonte a que tem sido submetido, obrigado a se descapitalizar para
cobrir rombos do Tesouro e pagar parcelas da dívida pública interna, o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já era mais eficiente e
lucrativo do que os principais bancos de desenvolvimento do mundo. Parece
paradoxal? Explica-se: o desmonteiniciado no governo de Michel Temer e continuado
no desgoverno atual tem como pretexto central tornar o banco mais enxuto e
“eficiente”. Mas o estudo “Uma análise comparativa de indicadores financeiros
do BNDES e de bancos de desenvolvimento internacionais entre 2015 e 2019”
mostra que a instituição conseguia extrair melhores resultados dos
investimentos e empréstimos que realiza anualmente do que os bancos de fomento
da China, Alemanha, Coreia do Sul e França.

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Para
melhor entender, aquele desmonte envolve um enxugamento na capacidade de
financiamento do BNDES, o que tem significado forte retração dos desembolsos (e
2020 foi exceção por conta da pandemia e do socorro providenciado pela
instituição para pequenas e médias empresas). Além da redução em marcha nas
contratações, o custo dos empréstimos foi aumentado com a adoção da Taxa de
Longo Prazo (TLP) a partir de 2018. A nova gestão do banco passou a adotar uma
política de “desinvestimento”, envolvendo a venda de ações mantidas em carteira
pelo BNDES. No ano passado, apenas como referência, quase 68,0% do resultado
líquido histórico de R$ 20,7 bilhões (17,0% maior do que em 2019) vieram da
venda de ações da Petrobrás, Suzano Papel e Celulose e Vale. O desmonte inclui
ainda a devolução acelerada dos recursos injetados nos anos anteriores pelo Tesouro
e que haviam permitido a expansão dos empréstimos do banco de fomento ao setor
privado, numa política destinada a contrabalançar os efeitos da crise internacional
a partir de 2009.

Retorno maior

Em
2015, como mostra o trabalho de Luana Paula de Souza Barros, contadora do
BNDES, mestre em ciências contábeis pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj), o BNDES registrou um lucro líquido de US$ 8,0 bilhões, em
grandes números, assegurando um retorno sobre o patrimônio líquido de 20,2%.
Isso significa dizer que o banco conseguiu alcançar um lucro de US$ 20 a cada
US$ 100 investidos, assegurando um retorno mais elevado para seus acionistas do
que todos os demais bancos que entraram na comparação. De acordo com Luana, que
também é certificada em IFRS (International Financial Reporting Standards) pelo
Instituteof Chartered Accountants in Englandand Wales (ICAEW) e professora do
Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-RJ), os bancos de
desenvolvimento da China, da Alemanha, da Coreia e da França alcançaram
retornos de 11,7%, 6,1%, 5,3% e de 3,7% respectivamente, também em 2015.

Balanço

O
artigo, que apresenta uma análise comparativa e a evolução dos principais
indicadores de rentabilidade, eficiência operacional e da carteira de crédito
entre 2015 e 2019, contempla, além do BNDES, as instituições China Development
Bank (CDB); KfWBankengruppe (KfW); KoreaDevelopment Bank (KDB) e Banque
Publique D’Investissement (Bpifrance).

Ao
longo daquele período, o banco brasileiro foi o único a experimentar redução em
seu ativo total, que encolheu perto de 24,0%, saindo de US$ 238,0 bilhões em
2015 para US$ 181,0 bilhões em 2019 (na comparação com 2016, o BNDES perdeu um
terço de seu ativo). Luana atribui a queda, sobretudo, à “retração da demanda
por desembolsos” (quer dizer, pelos empréstimos e financiamentos providos pela
instituição) e às “devoluções antecipadas (de recursos) ao Tesouro Nacional”.

A
venda de ativos também ajudou a engordar os resultados, numa visão mais de
curto prazo, embora possa vir a comprometer o desempenho futuro do banco, ao
reduzir sua capacidade de prover recursos para a economia. O lucro líquido
aumentou 225,0% até 2019, para US$ 26,0 bilhões, diante de altas de 25,8% para
o banco de fomento chinês, de 16,7% para o banco alemão e 3,4% no caso coreano.
O banco francês manteve os lucros nos mesmos níveis em todo o período, em torno
de US$ 4,0 bilhões.

Mas
o BNDES conseguiu um retorno sobre o patrimônio líquido de 19,2% (levemente
abaixo da taxa observada em 2015), diante de um índice médio de 4,5% para os
demais bancos analisados. Comparado ao ativo médio total, o resultado líquido
representou 2,3% ainda no banco brasileiro de desenvolvimento, expressando em
parte a queda no valor de seus ativos (assim como o incremento do resultado).

Para
comparar, o banco chinês obteve um retorno sobre os ativos de 0,7% (com os
demais apresentando indicadores entre 0,1% e 0,3%). Isso significa que o BNDES
demonstrou maior eficiência na geração de lucros para seus acionistas (no caso,
a própria União).

Em
outra medida da capacidade gerencial do BNDES, a relação entre despesas
administrativas e seu ativo total médio manteve-se ao redor de 0,3% em 2019,
pouco acima das taxas observadas na China e na Alemanha (0,1% e 0,2%) e
inferior aos números dos bancos coreano e francês (0,6% e 1,0%, pela ordem). Os
gastos administrativos da instituição brasileira representaram algo como 11,0%
de seu resultado operacional, equiparando-se ao similar chinês, mas distante
das taxas observadas nos demais países da amostra (43,0% na Alemanha; 57,0% na
Coreia do Sul; e 70,% na França).

A
comparação entre crédito líquido (descontadas as provisões para empréstimos
duvidosos) e ativo total retrata o enxugamento a que o BNDES tem sido
submetido. Enquanto os demais bancos de fomento mantiveram ou até aumentaram
aquela relação, no banco brasileiro o índice baixou de 75,0% para 61,0% – o que
se compara com o índice médio de 71,0% observado para as demais instituições
analisadas. “Os indicadores de eficiência em custos”, afirma Luana, “foram
significativamente melhores no BNDES”.

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