Novos empréstimos caem abaixo dos níveis anteriores à pandemia

Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Terça-feira (30/3) | Foto: Reprodução

Postado em: 30-03-2021 às 08h00
Por: Sheyla Sousa
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Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Terça-feira (30/3) | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

As
concessões de empréstimos e financiamentos pelos bancos a empresas e famílias
caíram em fevereiro deste ano para níveis inferiores até mesmo àqueles
verificados nos meses anteriores à pandemia, num enxugamento que veio
acompanhado por forte redução nas emissões de moeda – que haviam contribuído
para assegurar alguma forma de sustentação à atividade econômica a partir de
abril do ano passado. Foram as emissões que ajudaram a financiar o auxílio
emergencial, pago entre abril e dezembro de 2020 às famílias mais vulneráveis,
e ainda parte do socorro oferecido às empresas mais atingidas pelas medidas de
isolamento social (muito embora essas medidas tenham sido sempre parciais no
País, o que ajuda a explicar o cenário atual de descontrole e caos no sistema
de saúde).

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Organizados
em séries trimestrais pela coluna, as concessões de novos empréstimos aos
tomadores de crédito em geral saíram de R$ 1,037 trilhão entre dezembro de 2019
e fevereiro de 2020 para R$ 1,012 trilhão nos três meses encerrados em
fevereiro deste ano, num recuo de 2,37% em termos nominais. Como o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou variação de 5,20% nos 12
meses encerrados em fevereiro passado, a queda real no valor das concessões
aproximou-se de 7,2%.

No
trimestre imediatamente anterior, ou seja, entre setembro e novembro de 2020, o
sistema financeiro havia contratado concessões de R$ 1,101 trilhão ao lado real
da economia, algo próximo a R$ 1,129 trilhão em termos reais, considerando-se o
IPCA de 2,48% acumulado entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano. Na
passagem do trimestre finalizado em novembro último e igual período encerrado
em fevereiro do novo ano, as concessões sofreram queda de 8,1% em termos
nominais, num tombo de 10,3% quando descontada a inflação. Tomadas em valores
não corrigidos, as empresas foram mais afetadas pelo enxugamento, com retração
de 10,8% (ou -13,0% em termos reais) naquela mesma comparação, enquanto as
concessões de novos créditos para as pessoas físicas encolheram 5,7% (com baixa
de 8,0% quando considerados valores atualizados com base na inflação).

Trajetória
preocupante

Segundo
o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), fevereiro
marcou o terceiro mês consecutivo de redução das concessões de crédito às empresas
nas operações livremente pactuadas com o sistema financeiro, tomando como base
para comparação iguais períodos do ano anterior, igualmente em valores
corrigidos pelo IPCA. O comportamento parece configurar uma tendência em meio a
um agravamento dramático, mas totalmente previsível, da pandemia.“Na ausência
dos programas emergenciais e diante do endurecimento das medidas restritivas a
partir de março, esta trajetória sinaliza para possíveis complicações no
financiamento corporativo nos próximos meses”, aponta o instituto.

Balanço

As
concessões de crédito a juros livremente cobrados pelos bancos, ainda entre os
trimestres encerrados em novembro do ano passado e em fevereiro deste ano, baixaram
pouco mais de 5,6%, com perdas de 6,1% para pessoas físicas e de 5,1% para as
empresas. No segmento de crédito direcionado, ou seja, que tem suas condições
de juros e prazos definidos por políticas do setor público, o cenário neste
começo de ano parece mais aterrador.

Sempre
em números corrigidos com base no IPCA, o mercado registrou um tombo de 37,6%
na saída do trimestre finalizado em novembro de 2020 para os três meses
imediatamente posteriores. Para as pessoas físicas, a queda chegou a 19,6%. Mas
o volume das novas contratações para as empresas ficou reduzido a menos da
metade, numa retração de 56,4%.

O
enxugamento radical na oferta de empréstimos novos ao setor real da economia, a
demora na aprovação de medidas de socorro a famílias vulneráveis e às empresas
de pequeno e médio portes, mais afetadas pela crise pandêmica, e a lentidão na
imunização podem trazer consequências severas para o futuro imediato da
atividade econômica. Sem mencionar o custo duríssimo em vidas perdidas, com
famílias inteiras destroçadas pela Covid-19.

O
enxugamento completa-se com a redução acelerada, desde novembro do ano passado,
das emissões de moeda, que, conforme já anotado, cumpriram papel relevante na
contenção dos danos da pandemia sobre a economia. Apenas para relembrar, o
saldo da base monetária (que inclui as emissões de dinheiro e depósitos dos
bancos no BC) chegou a experimentar salto de 39,1% entre o final de março e
outubro, o que correspondeu à injeção de R$ 120,26 bilhões na economia.

Desde
novembro, no entanto, o BC passou a recolher o dinheiro que havia entrado em circulação
nos meses anteriores. Até fevereiro deste ano, esse enxugamento havia atingido
R$ 39,031 bilhões, ou quase um terço das emissões realizadas nos sete meses
anteriores. Isso significou uma redução de 9,1% na base monetária e menos
dinheiro em circulação. O enxugamento ocorre principalmente por meio da venda
de títulos públicos federais ao mercado. Apenas nessas operações, o BC retirou
do mercado, em quatro meses, perto de R$ 55,657 bilhões, bem acima dos R$
22,728 bilhões em papel moeda emitido para cobrir rombos do Tesouro Nacional.

Para
comparação, entre abril e novembro do ano passado, o BC havia emitido R$
668,169 bilhões para permitir que o Tesouro financiasse o seu déficit e retomou
do mercado R$ 547,427 bilhões com a colocação de títulos da dívida federal,
deixando o restante em circulação como forma de ofertar dinheiro na veia da
economia. Obviamente, o enxugamento operado agora terá efeitos inversos àqueles
colhidos até novembro de 2020.

Em
situação normal, o que notoriamente não é o caso, a economia trataria de prover
recursos suficientes para compensar a atuação do BC, por meio de crescimento
dos negócios, do emprego e da renda. Sem esses elementos, a mão pesada da
autoridade monetária tende a agravar a crise.

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