Desemprego afeta mais pessoas jovens e de baixa escolaridade

Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Quinta-feira (15/4) | Foto: Reprodução

Postado em: 15-04-2021 às 07h45
Por: Sheyla Sousa
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Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Quinta-feira (15/4) | Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

Jovens
com idades entre 18 e 24 anos e de 25 a 39 anos, além de trabalhadores com
formação incompleta no ensino médio, foram os mais atingidos pelo avanço do
desemprego no ano passado, em função da pandemia, segundo relatório liberado
ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A série de dados
trabalhados pela instituição levam em conta estimativas mensais não oficiais
baseadas nos números apurados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNADC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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A
taxa média de desocupação no País, conforme já divulgado, atingiu 13,9% no
quarto trimestre de 2020, saindo de 11,0% em igual período de 2019 – uma
elevação de 2,9 pontos de porcentagem. O trabalho do Ipea, que se ocupou da
desagregação daquele indicador por região, gênero, faixa etária e nível de
formação, mostra que a taxa de desemprego das pessoas com 18 a 24 anos, que já
era muito elevada, rondando a faixa dos 23,8% no final de 2019, saltou para
29,8% (seis pontos a mais). Na faixa seguinte, que reúne trabalhadores de 25 a
39 anos, o desemprego avançou 3,6 pontos, passando de 10,3% para 13,9%. A
desocupação para aqueles com ensino médio incompleto elevou-se de 18,5% para
23,7% (mais 5,2 pontos de porcentagem).

Na
“ponta da pirâmide” do ensino, a realidade tem sido um pouco diferente, mas o
surto do Sars-CoV-2 também deixou algum estrago. Segundo o Ipea, “chama a
atenção o fato de que a ocupação dos trabalhadores com ensino superior continua
se expandindo, apesar da crise”. No último trimestre de 2020, o número de
pessoas ocupadas com escolaridade mais elevada chegou a crescer 4,7% frente ao
mesmo período do ano anterior. Mas o avanço não foi suficiente para gerar
empregos para todos aqueles trabalhadores com formação superior que
desembarcaram no mercado ao longo do período. Essa massa de novos candidatos a
um emprego experimentou crescimento de 6,9%.

O
resultado desse arranjo foi um incremento na taxa de desemprego dos
trabalhadores com formação superior, ainda que em proporção mais modesta do que
aquela observada para o total de desempregados. No caso, a taxa saiu de 7,3%
para 9,2% e manteve-se ainda muito abaixo do desemprego médio observado para
todo o restante da população.

Mulheres, as
mais atingidas

Também
proporcionalmente, o desemprego continuou afetando mais drasticamente as
mulheres, que viram a taxa de desocupação subir de 13,1% para 16,4% (3,3 pontos
a mais). Entre os homens, o desemprego, que já era mais baixo,
proporcionalmente, atingindo 9,2% no quarto trimestre de 2019, chegou ao final
do ano passado em 11,9% (em alta de 2,7 pontos, levemente abaixo do aumento
geral). O mercado sustenta, assim, a discriminação histórica contra as
mulheres, que continuam penalizadas por taxas de desemprego sempre acima da
média e muito superior àquela infligida aos homens.

Balanço

Os
dados trabalhados pelo Ipea mostram, ainda, que o interior do País conseguiu
sustentar taxas de desemprego proporcionalmente mais baixas, mas igualmente em
elevação frente ao ano anterior. A desocupação fora das regiões metropolitanas
passou de 9,7% para 11,7% entre o último trimestre de 2019 e o mesmo período e
2020, ou seja, dois pontos de porcentagem a mais.

Nas
regiões metropolitanas, em média, a taxa de desocupação aumentou em 4,3 pontos,
avançando de 12,5% para 16,8%, situando-se 2,9 pontos acima da taxa de
desemprego total (13,9%, como se recorda).

Num
horizonte mais longo, tomando novembro de 2019 como base, período em que o
total de ocupados alcançou seu nível mais elevado, em números absolutos, o
número de pessoas com alguma forma de ocupação em todo o País encolheu 9,7% até
janeiro deste ano. Os dados do Ipea mostram que esse contingente foi reduzido
de 94,715 milhões para 85,543 milhões de trabalhadores, com a destruição de
9,712 milhões de empregos.

Naquele
mesmo intervalo, o total de desempregados saltou nada menos do que 30,1% ao
passar de 11,255 milhões para 14,646 milhões de pessoas. O detalhe é que esse
número cresceu mesmo nos períodos em que houve alguma reação do emprego, em
geral sustentada pelo aumento da informalidade e de curtíssima duração. Isso
mostra que o mercado de trabalho continua fragilizado pela crise do novo
coronavírus e incapaz de absorver o número histórico de pessoas sem qualquer
ocupação.

Essa
taxa, no entanto, poderia ser muito mais elevada caso o número de pessoas fora
do mercado fosse mais baixo, vale dizer, retornasse aos níveis anteriores à
crise. Em janeiro deste ano, apenas 51,7% do total de pessoas com 14 anos ou
mais estavam ocupadas ou desocupadas, mas em busca de emprego. Essa proporção
havia sido de 61,7% em fevereiro do ano passado.

Caso
a mesma relação fosse observada em janeiro deste ano, o total de pessoas na
força de trabalho (que soma trabalhadores com emprego e os desempregados que se
mantinham na busca por colocação) subiria de 100,19 milhões para 109,07
milhões. Diante desse aumento no número de pessoas em busca de emprego, a taxa
de desocupação saltaria para 21,6%. E o número de desocupados seria mais do que
o dobro daquele registrado em novembro de 2019, superando 23,5 milhões (quer
dizer, praticamente 12,3 milhões a mais do que em 2019).

Na
visão do Ipea, “o crescimento da subocupação e do desalento corrobora esse
cenário desfavorável. No último trimestre móvel (de 2020), quase 6,0 milhões de
pessoas em idade de trabalhar estavam fora da força de trabalho por motivos
associados ao desalento, repercutindo os efeitos da crise”. Houve uma migração
de desempregados para o desalento, assim como a passagem direta de
trabalhadores “condição de ocupados para a de inativos, sem nem passar pela
desocupação”.

O
descontrole da pandemia deverá agravar o cenário e, de acordo com o Ipea, ainda
que a economia consiga retomar algum crescimento no segundo semestre (hipótese
até aqui pouco provável), “as vagas geradas não devem ser suficientes para
abarcar não apenas os desocupados, mas também os trabalhadores que devem sair
da inatividade – em busca de uma nova colocação no mercado– com o fim do
auxílio emergencial”. A desocupação “deverá seguir elevada, principalmente nos
segmentos mais vulneráveis”.

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