Ouro no sangue e na raça

Aluta por um sonho ou uma conquista é uma expressão comum no esporte. Poucos atletas, contudo, de fato batalham por um título. Claro, muitos competem em alto nível desde os treinos, mas briga mesmo, nem todos. Robson Conceição precisou lutar muito, no sentido literal da palavra, para vencer o francês Sofiane Oumiha, por decisão unânime (30-27, 29-28 e 29-28), e levar o primeiro ouro do Brasil na história do boxe nos Jogos Olímpicos.
Robson superou o drama de derrotas nas estreias de Pequim 2008 e Londres 2012, avançou na competição mesmo não sendo o favorito e terminou no lugar mais alto do pódio. Antes de bater Sofiane, também passou por Anvar Yusunov, do Tajiquistão – o adversário sentiu lesão no ombro e desistiu –, nas oitavas, venceu o uzbeque Hurshid Tojibaev na fase seguinte e derrotou o cubano Lazaro Jorge Alvarez na semifinal – as duas últimas por decisão unânime.

A luta
Os primeiros momentos de combate foram quentes. Ambos atletas tentavam dominar o centro do ringue e trocavam golpes de forma franca. Tanto Robson quanto Oumiha encaixavam bem, mas sem maior destaque para qualquer deles. A partir da metade do round, no entanto, o brasileiro passou a ser mais dominante. Apesar de ter o supercílio esquerdo aberto, Conceição trabalhava bem a esquiva e evitava a maioria dos ataques do rival.
O segundo round começou semelhante ao fim do primeiro. O baiano tinha boa movimentação de cabeça e dificultava a ação do francês. Ambos atletas, já mais desgastado, clincharam algumas vezes, mas nada que estragasse o ritmo da luta. Robson seguia mais efetivo e Sofiane foi ao chão em dado momento, mas o árbitro considerou apenas escorregão e não abriu contagem.
O brasileiro venceu os seis primeiros minutos, tinha 20 a 18 no placar, e podia se dar ao luxo de administrar o combate no round final para garantir a primeira medalha de ouro do boxe olímpico brasileiro. O europeu precisaria de um nocaute para vencer.
Abusando da esquiva e da movimentação nas laterais do ringue, Conceição marcou o jab adversário e não sofreu grandes riscos. De forma inteligente, ele amarrava a luta, se aproveitava dos clinches e chegou a ser advertido pelo árbitro para manter a cabeça alta. Oumiha caçava o adversário e dominava o centro, mas mesmo quando encurralava o baiano nas cordas, não conseguia causar dano suficiente para levar Robson à lona.
No minuto final, já bastante cansado, o brasileiro rodou no ringue. A torcida, ciente de que só um milagre salvaria o francês, já fazia a festa na arena e cantava “É campeão!”. O golpe salvador não veio e o ouro ficou com Conceição.