Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Os berços do futebol goiano

Fauzi Jaber, presidente do conselho deliberativo, na frente do Estádio Waltrudes Cunha, do Campinas FC - Foto: Felipe André

Postado em: 24-10-2019 às 14h05
Por: Raphael Bezerra
Imagem Ilustrando a Notícia: Os berços do futebol goiano
Fauzi Jaber, presidente do conselho deliberativo, na frente do Estádio Waltrudes Cunha, do Campinas FC - Foto: Felipe André

Felipe André

Quando se fala em futebol em Goiânia, quatro clubes são os
mais lembrados pelos torcedores: Atlético, Goiás e Vila Nova, que estão nas
principais divisões do campeonato brasileiro e o tradicional Goiânia que voltou
neste ano para a primeira divisão estadual. Entretanto o esporte começa pelas
categorias de base e quando o assunto é com a “molecada”, Campinas, Ovel e
Monte Cristo tem muita experiência na área.

Fundado em abril de 1964, o Campinas Futebol Clube tem em
sua lista de revelações jogadores como Felipe Menezes, que já atuou no Goiás e
Benfica e atualmente está no CRB, Tom Tom que defendeu o Santos, Juninho que se
destacou com a camisa do Atlético Goianiense. Dos jogadores mais recentes,
Mateus Anderson, que pertence ao Vila Nova e está emprestado ao Cuiabá, ainda
guarda muito carinho pelo clube.

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“O Campinas foi o clube onde eu comecei, cheguei em 2012 para
jogar a Taça Mané Garrincha, onde fomos vice-campeão e eu fui o artilheiro. O clube
me ajudou muito na evolução na base, me deu uma oportunidade de jogar um
campeonato e foi onde eu me destaquei. Já estava com uma idade avançada, estava
com 18 anos, mas graças a Deus eu fiz uma grande temporada e então surgiu a
oportunidade de ir para o Vila. Sou muito grato ao Campinas. Até hoje tenho
contato com o pessoal, principalmente o Robson Jaber (presidente do conselho
executivo), que é uma pessoa que sou muito grato a Deus por ter colocado na
minha vida, sempre me ajudou, e que me dá conselhos até hoje”, relembrou Mateus
Anderson.

Captação de jovens

O Campinas está trabalhando atualmente com o que é chamado
de “pré-equipe”, que são categorias sub-10, sub-12 e sub-14. O clube se baseia
muito em sua “rede de contatos”, com parcerias com escolinhas de futebol,
esteve sob o comando da Asefut (Associação das Escolas de Futebol de Goiás),
mas que retornou para a Federação Goiana de Futebol. Algumas peneiras ainda são
realizadas ao longo do ano para abrir oportunidade para que novos adolescentes
tentem entrar na vida do futebol.

O Campinas recentemente decidiu encerrar as atividades com
as categorias sub-13, sub-15 e sub-17, e fato está ligado ao Flamengo. “Estávamos
com muitos problemas em relação ao alojamento, tivemos visitas do Ministério
Público, vigilância sanitária principalmente depois do episódio fatídico com o
Flamengo, eles bateram muito doído na gente que não tem tanta estrutura quanto
os grandes. Queriam que a gente oferecesse em relação a estrutura o mesmo tanto
que o Goiás oferece. Não tem como”, lamentou Fauzi Jaber Neto, presidente do
conselho deliberativo do Campinas.

Para ter um “alívio” nas questões financeiras, o Campinas
decidiu apostar em um “projeto ousado”, trocou toda a grama do seu estádio, o
Waltrudes Cunha, por um gramado sintético. Cerca de seis anos atrás, o clube
tomou a decisão e durante os dias da semana, à noite, aluga o gramado – que é
divido em quatro campos – para ser alugado para quem quiser jogar, e essa é
apenas uma das formas de manter o clube “vivo” financeiramente.

“Nós trabalhos com porcentagem, com percentual de formação,
mas a maioria é em relação a parceria, ficamos com alguma porcentagem combinada
com o clube. Hoje temos várias fontes de renda, como a escolinha, o Society,
alugamos o salão de festas, não são apenas os jogadores não”, ressaltou Fauzi
Jaber.

Quase na Itália

O Campinas quase emplacou uma de suas maiores negociações em
2017. O modesto clube que tem sua sede na Vila Santa Helena esteve próximo de
negociar um atleta diretamente com a poderosa Juventus, da Itália. Cristhyan
Noto, ainda com 16 anos, embarcou para Turim, quase 700km da capital Roma, e
ficou em uma semana de testes. O jovem agradou os dirigentes que pediu para que
ele retornasse para outra semana de testes, mas sua cabeça continuou no Brasil.

Cristhyan então não embarcou para Turim e pouco depois
assinou seu primeiro contrato profissional, com o Atlético Goianiense, onde tem
vínculo até agosto de 2020.  “Eu fiquei
por opção minha e da minha família. Me interessou bastante a proposta do Atlético.
O Campinas foi bastante importante, aprendi muita coisa, foi uma passagem de
bastante evolução, tanto técnica, como tática”, relembrou Cristhyan Noto.

“O nosso
objetivo é revelar jogadores”

Quando o assunto é revelar jogadores, o lema de Toninho,
como é chamado carinhosamente pelos jogadores, é de insistência. O Monte Cristo,
fundado em 1970, que disputa atualmente a terceira divisão do Campeonato Goiano
e só somou um ponto nas cinco primeiras rodadas, tem como prioridade a
revelação de jogadores.

“Buscamos jogadores jovens, colocar eles para jogar e dar
oportunidade concreta e não essa oportunidade de 10, 15 minutos. É colocar para
jogar, para treinar, as vezes ficar com ele um ano, dois anos, três anos,
porque pegamos jogadores jovens”, afirmou Toninho.

Assim como o Campinas, o Monte Cristo Esporte Clube também
apresenta dificuldades financeiras. O clube que teve John Lennon, atualmente no
Operário-PR, Jorginho camisa 10 do Atlético Goianiense, Francesco que está
jogando no mundo árabe, o Lucca que está no Bahia, mas talvez o principal nome
e que a diretoria pode ter o maior retorno financeiro é de Michael, do Goiás.

A diretoria não esconde que “torce” para que ele seja
negociado e pelo maior valor possível, já que o Monte Cristo entra na lista de
times que recebem 5% como clube formador, assim como o Goiânia e o Goianésia.

“Esse ano teve um empresário que colocou seis jogadores no
nosso elenco, em contrapartida ele nos ajudou com as despesas de viagem e
pagamento da arbitragem. Um jogo é muito caro, uma partida fica em torno de
quatro a cinco mil. Quando é o nosso mando, temos que pagar o ônibus para os
atletas que não é menos de R$ 1.500, todo o processo do jogo. Pagamos duas
enfermeiras que é quase R$ 200, três policiais que é R$ 200 cada um, pagamos a
ambulância que não é barato, ainda tem os maqueiros, o médico que para ficar no
banco é R$ 800 e as vezes nem entra em campo. Esse ano não pagamos o aluguel do
campo, o prefeito de Inhumas cedeu o estádio sem precisar pagar”, lamentou
Toninho.

Ovel

Berço que viu o nascimento de craques como Lucas Silva,
ex-Real Madrid e Cruzeiro, Dudu, atacante do Palmeiras, e Carlos Eduardo que
também está no Palmeiras e surgiu para o profissional no Goiás, a Ovel se
especializou em parcerias fora do estado. Através de seu site oficial, a equipe
anunciou que realizou uma peneira no Macapá-AP e que rendeu a aprovação de sete
jovens jogadores, nascidos entre 2002 e 2010.

A Ovel (Escola de Futebol Agremiação Esportiva) conta com
cerca de 430 Alunos e possui uma estrutura com mais de 50.000 mts². A
agremiação busca a formação do caráter do jogador, e tem como lema em seu site
“revelando grandes talentos”. Apesar das dificuldades, a Ovel mantém parceria
com escolas e associações de bairros das periferias, mantendo um índice de
alunos carentes através de doações de bolsas, trazendo jovens da periferia para
praticarem o esporte, para que possa afastar os mesmos da criminalidade e
incentivar aos estudos, já que o desempenho na escola é essencial para
continuar ganhando a bolsa.

“Lá foi a base de tudo onde me preparou para
grandes clubes e como ser humano. Estrutura de um grande clube formador de
talentos, disputávamos as competições regionais e a nível nacional onde sempre
também obtivemos grandes resultados”, contou o ex-jogador Alex Goiano, que se
aposentou aos 22 anos após uma sequência de lesões no joelho, mas que não impediu
de defender o Cruzeiro, Athletico Paranaense, Goiás e alguns clubes de São
Paulo e principalmente no Nordeste, ele também acumulou passagens pelo Chile e
por Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. 

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