Arquiteto Paulo Mendes da Rocha deixa legado

O professor e arquiteto Paulo Mendes da Rocha deixa um legado de segura racionalidade, essencialidade das soluções construtivas, intransigência no emprego dos materiais e o desprezo pelo supérfluo | Foto: Reprodução

Postado em: 25-05-2021 às 08h47
Por: Lanna Oliveira
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O professor e arquiteto Paulo Mendes da Rocha deixa um legado de segura racionalidade, essencialidade das soluções construtivas, intransigência no emprego dos materiais e o desprezo pelo supérfluo | Foto: Reprodução

“Depois de projetar tantos edifícios em concreto e aço, meu pai foi projetar galáxias com as estrelas!”, escreveu o filho do arquiteto Paulo Mendes da Rocha nas redes sociais. Referência mundial na arquitetura, morreu aos 92 anos em São Paulo na madrugada deste domingo (23). A informação foi confirmada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR) e por familiares. O também professor foi premiado internacionalmente e contribuiu para a formação da cultura arquitetônica e urbanística brasileira e mundial.

Famoso por suas obras que já garantiram prêmios no mundo todo, bem como por sua filosofia sobre a arquitetura como ferramenta pública para a cidade, o arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha já recebeu prêmios como Leão de Ouro na Bienal de Veneza, Prêmio Imperial de Artes do Japão, Medalha de Ouro do RIBA e o Pritzker em 2006. Se você mora ou conhece São Paulo, com certeza já esbarrou em algum dos projetos do famoso arquiteto, apesar de já ter assinado projetos em outros estados e até foram do país.

Nascido em Vitória, em 25 de outubro de 1928, Rocha se formou em 1954 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e, ao longo dos anos, foi se destacando no cenário contemporâneo da Arquitetura. Diversas foram as obras projetadas no país e no mundo, tais como a recuperação da Pinacoteca de São Paulo, SESC 24 de Maio (SP), Museu dos Coches (Portugal), Museu da Língua Portuguesa (SP), Reforma Estação da Luz (SP), Praça do Patriarca (SP), MUBE (SP), Casa do Quelhas (Lisboa), entre outras.

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Para a diretora da Mackenzie, Angélica Alvim, Paulo Mendes representou ao longo de quase 70 anos dedicados à profissão “a arquitetura brasileira de uma maneira exemplar, contribuindo expressivamente para a sua internacionalização, marcada por inúmeros prêmios”. Ela continua: “Um arquiteto e amigo que nos deixa órfãos, pois com ele aprendemos muito sobre arquitetura e a própria vida. Um grande defensor da vida citadina, das relações e das dinâmicas urbanas e da solidariedade com a qual a arquitetura poderia sempre contribuir”.

Uma de suas primeiras criações após a graduação foi a ‘Poltrona Paulistano’, uma peça de mobiliário que compõe a coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) desde 2009, e que é distribuída e vendida em todo o mundo. Aos 29 anos, Mendes da Rocha venceu o concurso para fazer o projeto do Ginásio do Clube Atlético Paulistano, em São Paulo, junto a João de Gennaro. Pelo ginásio, ganhou o Grande Prêmio Presidência da República na 6ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1961.

Obras primorosas de sua carreira

Com uma arquitetura bastante moderna que se destaca no centro urbano de São Paulo, entre as ruas 24 de Maio com a Dom José de Barros, o Sesc foi um projeto de Mendes da Rocha concluído em 2017 e uma de suas principais obras, reconhecida internacionalmente. O espaço é contemplado por um revestimento de cimento aparente que ocupa quase todo o prédio. Uma dica para quem pretende conhecer o espaço é visitar o espelho d’água, que fica no andar inferior ao da piscina.

Apesar de ter sido projetado no século XIX pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o prédio da Pinacoteca de São Paulo passou por uma reforma nos anos 90 feita por Mendes da Rocha. Uma das manobras adotadas para o projeto foi a rotação do eixo principal de visitação por meio de um cruzamento sutil das pontes com os espaços vazios, como os pátios internos, o que contribuiu para uma relação mais profunda da edificação com a cidade. A reforma garantiu ao arquiteto o Prêmio Mies van der Rohe de Arquitetura Latino-Americana, em 2000.

Apesar da forte influência do brasileiro para a arquitetura paulistana, o seu trabalho não ficou restrito e o Museu dos Coches é um belo exemplo disso. Localizado em Lisboa, Portugal, o museu conta com um pavilhão principal em que acontecem as exposições e um anexo com as partes administrativas e de lazer. Novamente, vale exaltar o potencial minimalista das obras de Paulo Mendes da Rocha, que contemplam uma atmosfera em concreto simplista, mas com soluções funcionais de um bom projeto de urbanismo de caráter atemporal.

O projeto Praça do Patriarca é uma verdadeira intervenção urbana localizado próximo ao Viaduto do Chá em São Paulo. O conceito usado neste trabalho, de contribuição com a com a sociedade e de parceria entre a arquitetura e a urbanização, era o que ele acreditava. O estilo futurista da construção contrasta com os prédios antigos do centro de São Paulo. A passagem de pessoas acontece de forma fluida e livre. O projeto propõe uma verdadeira mudança no tráfego viário, bem como das paradas dos ônibus na região.

Apesar de sua forte influência em arquitetura e urbanismo, Mendes da Rocha também se aventurou em projetos residenciais. A Casa Gerassi foi construída para um casal com duas filhas e utilizou uma estrutura pré-fabricada de concreto aramado, o que garantiu agilidade, modernidade e custo moderado ao resultado final do projeto. No interior, ele investiu em móveis sofisticados, como uma poltrona de couro. Além disso, o espaço ficou bastante aberto, espaçoso e arejado para que os moradores tirassem máximo proveito da entrada de luz natural.

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