‘Chaves’ continua relevante para a cultura pop latino-americana
Falecido em 2014, Roberto Gómez Bolaños criou, dentre vários personagens, o Chaves, menino que trouxe para a TV uma realidade segregada
Um seriado que mostrou que a simplicidade é a chave e que os verdadeiros amigos bastam apesar das dificuldades, sim, completa-se 50 anos do primeiro episódio de ‘Chaves’. Um vilarejo típico dos bairros populares da Cidade do México daquela época, foi pano de fundo para situações de um menino de rua muito pobre, que passava grande parte de seu tempo em um barril, cujo um dos seus maiores desejos era um simples sanduíche de presunto. Essa história criada por Roberto Gómez Bolaños ganhou o mundo e se tornou um grande sucesso.
Atravessando gerações, ‘Chaves’ foi lembrada neste domingo (20) no México, 50 anos após a sua estreia na TV. Sem homenagens presenciais, devido à pandemia, a família do lendário ator e escritor mexicano Roberto Gómez Bolaños, que morreu aos 85 anos, comemorou nas redes sociais as cinco décadas do lançamento da série, tirada do ar no ano passado. “Celebremos esses 50 anos aplaudindo o criador e a família da vizinhança de ‘Chaves’”, disse Roberto Gómez Fernández, filho do ator, em um vídeo publicado no Instagram.
Apesar de a série ter sido exibida ininterruptamente na TV mexicana por 49 anos, foi tirada do ar em todos os canais em agosto passado. Segundo a imprensa mexicana, a família do ator e a rede Televisa não chegaram a um acordo sobre os direitos do programa até então. “Lembro perfeitamente quando ele começou a ser uma parte importante da TV, até se tornar o programa mais importante do continente”, diz Gómez Fernández no vídeo, sem fazer comentários sobre o futuro da série. “Que volte às TVs de todo o mundo!”, pediu uma seguidora.
Programa mais visto da TV mexicana, a atração foi dublada em 50 idiomas, segundo a Televisa, emissora que originalmente o transmitia. No Brasil, ‘Chaves’ é exibido há mais de 33 anos pelo SBT. Na TV paga, também fez parte da programação do Cartoon Network. Após a morte de Bolaños, em 2014, a revista ‘Forbes’ estimou que Chaves havia proporcionado à Televisa 1,7 bilhão de dólares até então. O sucesso foi tanto que a série foi transmitida também na Tailândia, China, Japão e Grécia.
Em outubro de 2019, o Chespirito Group anunciou os planos de produzir vários programas de televisão com os personagens criados por Bolaños. A revista especializada ‘Hollywood Reporter’ informou que o novo universo de Chespirito começará com uma série biográfica, que será seguida de desenhos animados, remakes e filmes, entre outros produtos de entretenimento. Os projetos seguem em desenvolvimento. “É um projeto que meu pai só poderia imaginar em sonhos”, declarou Roberto Gómez Fernández, filho do criador de ‘Chaves’.
Os sonhos de um garoto de 8 anos
A série ‘Chaves’ se passa em uma vizinhança comum no México dos anos 1970 e conta a história de um menino pobre de oito anos que vive em um barril. Além de Chaves, o programa cintava com Seu Madruga, um homem de meia-idade, desempregado, trapaceiro e que custava a pagar o aluguel. A Bruxa do 71, quero dizer, dona Clotilde, uma senhora idosa, solteira e sem filhos. Chiquinha, uma criança astuta e inteligente. Kiko, uma criança que se gabava de ter os melhores brinquedos embora bastante carismático.
Também fazia parte do enredo, Dona Florinda, uma mãe solteira que não gostava tanto de viver em um lugar que acreditava não estar à sua altura. Professor Girafales, o professor das crianças e pretendente de Dona Florinda. Senhor Barriga, o dono da vila e que cobrava o aluguel, pai de Nhonho, criança da elite e que brincava com os meninos da vila. A história do sucesso de ‘Chaves’ surpreende, às vezes, os próprios mexicanos, os próprios dizem que ainda hoje o programa faz sucesso entre os países da América Latina.
Mas embora o conteúdo e o tipo de humor do programa possam ser questionados e até criticados, o impacto que Chavo del Ocho, o nosso Chaves, e os demais personagens de Chespirito, o pequeno Shakespeare, tiveram na criação e recriação na identidade cultural e da América Latina ao longo de seus anos de exibição, não podem ser questionados. Os envolvidos deixaram um legado inestimável para a sociedade latina e os corações aquecidos com a simpatia do pequeno Chaves.