Sítio Roberto Burle Marx é reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco

A propriedade também guarda um acervo museológico de mais de três mil itens, que inclui um grande repertório da produção artística de Burle Marx

Postado em: 28-07-2021 às 09h28
Por: Lanna Oliveira
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A propriedade também guarda um acervo museológico de mais de três mil itens, que inclui um grande repertório da produção artística de Burle Marx | Foto: Reprodução

Que o Brasil tem belas paisagens e grande valor cultural todos sabem, mas quando isso é reconhecido mundialmente, é um grande orgulho para os brasileiros. Apesar de todas as mazelas incontestáveis do País, é preciso exaltar as qualidades que encontra-se aqui, principalmente nos dias de hoje. Sem dúvidas, o Sítio Roberto Burle Marx é uma delas, ele ganhou o título de Patrimônio Mundial da Unesco esta semana. O espaço é um laboratório de experimentações botânicas e paisagísticas que sintetiza a obra de Burle Marx.

O Brasil acaba de receber mais um título de Patrimônio Mundial.  Realizada em Fuzhou, na China, a 44ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu o legado do paisagista brasileiro que criou o conceito de jardim tropical moderno, Roberto Burle Marx. Com a nova chancela, o Brasil passa a ter 23 bens inscritos na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, registro dos bens considerados como portadores de valor universal excepcional para a cultura da humanidade.

O processo de construção de candidatura começou com a inscrição na lista indicativa brasileira a Patrimônio Mundial, em 2015. Desenvolvido pelo Iphan com a contribuição de muitos parceiros, o dossiê final do Sítio Burle Marx foi entregue à Unesco em janeiro de 2019. O documento defende o valor da propriedade como laboratório botânico e paisagístico. No segundo semestre de 2019, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) realizou a ‘missão de avaliação’ no Sítio, parte importante do processo de candidatura.

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O título da Unesco cria um compromisso internacional de preservação do local. Um dos próximos passos será a formalização de um plano de gestão para o Sítio e seu entorno, na perspectiva do patrimônio mundial, envolvendo diversas instituições governamentais e atores da sociedade civil e definindo a matriz de responsabilidades de todos os parceiros. O plano mapeará riscos e apontará ações para minimizar possíveis ameaças ao valor universal excepcional do SRBM.

O ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, destaca que o Sítio Roberto Burle Marx é um importante Patrimônio Cultural brasileiro tombado pelo Iphan, e a sua inscrição como Patrimônio Cultural Mundial reforça a sua importância também para o mundo. “A chancela aumenta os compromissos com a sua proteção, conservação e gestão, o que deve atrair ainda mais visitantes para conhecer este, que é um dos mais importantes registros da influência e da obra do artista Roberto Burle Marx”, disse Machado Neto.

Mais de três mil espécies

Em 1949, Roberto Burle Marx e seu irmão Guilherme Siegfried compraram o imóvel com a finalidade de abrigar coleção botânica, testar novas associações de plantas e cultivar mudas. A partir de então, a casa foi sucessivamente reformada e ampliada; foram construídos a Loggia, o Salão de Festas (conhecido como Cozinha de Pedra), a Casa de Pedra, o Prédio da Administração e o Ateliê; a Capela de Santo Antônio da Bica, do século XVII, foi restaurada e mantida em uso pela comunidade. No ano de 1985, Burle Marx doou o Sítio ao governo federal.

Burle Marx foi pioneiro na luta pela conservação da natureza e ferrenho defensor do ambiente. Compreendendo desde cedo o potencial estético e a importância científica da flora tropical, introduziu o uso de espécies nativas em seus projetos paisagísticos, criando o conceito de jardim tropical moderno, alinhado ao movimento moderno na arquitetura e nas artes, que produziu grande impacto no campo mundial do paisagismo. Claudia Storino explica que há camadas de conhecimento científico que precedem e permeiam os jardins.

Localizado na Barra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), o Sítio tem 405 mil metros quadrados de área e abriga uma coleção botânica com mais de 3.500 espécies de plantas tropicais e subtropicais, cultivada em viveiros e jardins. Por isso, ele foi reconhecido na categoria de Paisagem Cultural, na qual se enquadram bens que referenciam a interação entre o ambiente natural e as atividades humanas, resultando em uma paisagem natural modificada. O que o precursor nesse modelo fazia muito bem.

“O Sítio é uma obra de arte, onde as paisagens são o elemento de maior destaque, ligando todo o conjunto com poderosa personalidade. Os espaços ajardinados se materializam tanto nos princípios paisagísticos da obra de Burle Marx quanto nos processos de análise, cultivo e experimentação que impulsionaram a criação do paisagismo tropical moderno. A vegetação organizada em diálogos de forma, cor e volume que permeiam todos os ambientes, mas também se articulam e interagem com a mata nativa”, ressalta a diretora do SRBM, Claudia Storino.

Para a presidente do Iphan, Larissa Peixoto, este título é motivo de orgulho para o Brasil, o Iphan e toda a população brasileira. “A chancela estabelece um compromisso para manter os valores excepcionais que tornam esse lugar de importância para toda a humanidade. Temos a missão de preservar para as futuras gerações este espaço de aprendizado e de fomento ao conhecimento sobre natureza, paisagismo, arte e botânica”, destaca. Jardins, viveiros de plantas, sete edificações e seis lagos integram este espaço singular.

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