Quinta-feira, 28 de março de 2024

O espetáculo ‘Conto de Cativeiros’ do espaço Orum Aiyê Quilombo Cultural, busca exaltar o protagonismo negro nas produções culturais

A produção ajuda na formação pessoal por meio da afirmação da negritude sobre uma perspectiva cultural

Postado em: 10-06-2022 às 09h55
Por: Lanna Oliveira
Imagem Ilustrando a Notícia: O espetáculo ‘Conto de Cativeiros’ do espaço Orum Aiyê Quilombo Cultural, busca exaltar o protagonismo negro nas produções culturais
A produção ajuda na formação pessoal por meio da afirmação da negritude sobre uma perspectiva cultural | Foto: Divulgação

O protagonismo negro é uma busca constante do espaço Orum Aiyê Quilombo Cultural e a sua primeira produção cênica reforça esse compromisso. ‘Conto de Cativeiros’ é um solo encenado pelo artista Marcelo Marques e dirigido por Renata Caetano. Trata-se de um espetáculo circense afro-diaspórico que é apresentado hoje (10), e segue nos dias 11, 12, 18, 19, 25 e 26 de junho, sempre às 20h, no Residencial Nossa Morada. A entrada custa R$10 inteira e R$5 meia para estudantes e pessoas negras.


A artista visual goiana Raquel Rocha e Marcelo Marques, que acumula mais de 30 anos de caminhada de circo, são fundadores do espaço de resistência Orum Aiyê Quilombo Cultural. O projeto nasceu da vontade de enfatizar a importância do negro na produção cultural e assim, contribuir para a construção de uma consciência identitária. O espetáculo circense ‘Conto de Cativeiros’ materializa esse desejo, trazendo a negritude das margens para o centro das discussões culturais.


O espetáculo, que tem a coreografia de Juliana Jardel, cenário e figurino de Raquel Rocha, é protagonizado, dirigido e coreografado somente por artistas negros. “Estamos em tempos cujo a necessidade de atitudes afirmativas em relação a história e a cultura negra estão cada vez mais pungentes”, comenta o artista Marcelo Marques sobre a urgência de uma produção feita por essa equipe. Movimentações como esta também dizem respeito a união em meio a dias de luta, já que nos últimos dois anos extremismos potencializaram essa discussão.

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Em meio ao difícil cenário social, político e econômico, que coloca as pessoas negras em uma situação ainda mais marginal às políticas públicas e no centro de crescentes ataques racistas, o projeto oportuniza a igualdade por meio da arte. Atravessa paradigmas que permanecem enraizados na sociedade e afirma que o negro tem que protagonizar as mais diversas atividades e manifestações culturais. Seja no palco, ou na plateia, os negros se reconhecem no espetáculo em uma posição de destaque e aprendem um pouco sobre sua história não contada.


O espetáculo tematiza uma história que retrata os caminhos percorridos pelo povo preto brasileiro desde a diáspora africana. Essa história é narrada pelo olhar de um preto velho simpático e de fala doce, trazendo para cada cena um recorte com foco na sabedoria, nas vitórias e expertises trazidas da África para o Brasil. Assuntos quase nunca abordados em produções culturais, a África deixa um legado a ser exaltado. Os contos trazem as alegrias, a resiliência e a fé negra.


A montagem pesquisa a mistura das linguagens corporais, do circo com a dança afro e a capoeira, além de outros elementos da cultura negra brasileira. “’Contos de Cativeiro’ é por sua essência uma ação regada ao Axé da resistência negra por ter em seu pilar a voz e protagonismo preto entremeado em sua construção e narrativa, trazendo em sumidade a cultura negra que vem sido historicamente perseguida desde o período do Brasil colônia”, comenta a cenógrafa e co- fundadora do Orum Aiyê Raquel Rocha.


O espetáculo também conscientiza sobre o quão fundamental é as relações identitárias na formação e na autoestima de jovens e crianças. “É nesta faixa etária em que o jovem consolida sua personalidade e, por isso, as referências que afirmam positivamente seu lugar social são enriquecedores. Diante desse olhar, ter espetáculos culturais protagonizados, produzidos e gestados por pessoas pretas colaboram na afirmação da identidade juvenil num lugar potente”, finalizam Marcelo Marques e Raquel Rocha.

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