Quaresma: a experiência transformadora e a abstinência de carne

A Igreja recomenda a abstinência da carne vermelha nos 40 dias que antecedem a Páscoa, data que marca a ressurreição de Cristo

Postado em: 21-03-2023 às 08h06
Por: Lanna Oliveira
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A Igreja recomenda a abstinência da carne vermelha nos 40 dias que antecedem a Páscoa, data que marca a ressurreição de Cristo | Foto: Divulgação

A três semanas da Páscoa, reflexões cristãs se fazem presentes, principalmente no que se diz respeito aos costumes da Quaresma. Talvez a mais notável, o fato é que a Igreja recomenda a abstinência da carne vermelha nesses 40 dias que antecedem a data que marca a ressurreição de Cristo. Sim, hoje a edição de gastronomia traz, além de receitas, informações sobre como se deu essa tradição. E já te adianto, a penitência é uma forma de recordar o amor de Cristo, que na crença católica morreu na Cruz por nós.

Quantas pessoas você conhece que se privam de comer carne na Quaresma? Imagino que muitas, já que o Brasil é um País essencialmente cristão. Talvez, alguns, nem saibam que o costume tenha origem na religião. Durante o período de 40 dias, a recomendação da Igreja é que o fiel não coma carne. Mas quando fala em ‘carne’, o Código de Direito Canônico da Igreja Católica não diz ‘carne de boi’ ou libera carne de outros animais, no entanto, diz que o fiel pode se abster de carne ou outro alimento, desde que isso signifique um pequeno sacrifício a ele.

É o que se tem pensado nos últimos anos: a carne, não necessariamente tem a ver com o alimento em si, mas com sacrifícios. Ou seja, a Quaresma faz uma alusão ao processo de reverenciamento e de autocrítica. Talvez seja um momento propicio para se livrar de condutas que invalidem sua conexão com Deus. Além de abster de alimentos, pense em cessar as lamúrias, julgamentos, injúrias, mal humor, avareza, incompreensão, intolerância, preconceitos, entre muitas coisas.

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Para o saudoso Missionário Redentorista padre Luiz Carlos de Oliveira, muitos fiéis faziam abstinência de carne pensando que, evitando-a, seria mais fácil vencer os vícios: “Jesus criticou muito o jejum feito para aparecer, sem uma vida coerente de justiça e caridade. O jejum tem um sentido espiritual e não somente uma prática de tratamento do corpo, o que pode ser beneficiado. O jejum religioso é prática antiga entre os judeus e os cristãos. Não adianta tirar a comida se não tiramos a gordura que pesa nosso coração”, afirmou.

Por que peixe sim?

Para os cristãos, o período litúrgico tem a intenção de viver de forma simples, praticar o jejum, a abstinência, a reflexão espiritual e a penitência. Mas, também é o período de trocar o Big Mac por um McFish. Mesmo que peixe também seja carne. Desde a antiguidade, a carne vermelha é símbolo de celebração. Por isso, consumi-la durante a Quaresma não faria jus às práticas humildes da época. Mesmo assim, isso não responde por que apenas carnes vermelhas e aves são proibidas, enquanto peixe é liberado. E é aqui que entram Paulo e São Tomás de Aquino. 

Na primeira carta de Paulo aos Coríntios, ele escreveu: “Nem todas as carnes são iguais: uma é a dos homens e outra a dos animais; a das aves difere da dos peixes” (15:39). A distinção foi possivelmente tirada das próprias restrições alimentares do judaísmo, que separam os próprios peixes em dois grupos, de ‘permitido’ e ‘proibido’. O peixe para a dieta judaica só é um alimento considerado ‘limpo’ e adequado se tiver barbatanas e escamas. É o caso do atum e do salmão, mas não de tubarões, bagres e enguias, por exemplo.  

Mas nada disso tinha ligação com a Quaresma, em si. Vamos então ao século XIII, quando a separação de carne versus peixe se estabeleceu de vez. São Tomás de Aquino dá outra explicação, em seu texto ‘Suma Teológica II’. Segundo ele, a regra tinha a ver com evitar prazer e sexo. Eles acreditavam que comer refeições com carne vermelha, não só eram mais gostosas, como aumentavam a produção masculina de sêmen. E esse aumento levaria a uma libido maior (o que, vale lembrar não é verdade, era apenas o entendimento religioso da época).

Nem tanto sacrifício assim

Diminuir ou cortar o consumo da carne vermelha durante os 40 dias da Quaresma não é sinônimo de uma alimentação pobre em nutrientes. Afinal, a cozinha sem carne pode ser variada e nutritiva. É hora de inovar na cozinha e se aventurar em um cardápio que não deixa a deseja em nada, Além da tradicional substituição por peixes, principalmente o bacalhau, você vai adorar conhecer algumas receitas que não levam carne vermelha na preparação, mas que atraem pelo sabor, aroma e praticidade.

Quer receber elogios sem perder muito tempo na cozinha? Então aposte em uma bacalhoada prática de forno. Além de ser um prato típico do catolicismo e muito saborosa, a bacalhoada leva poucos ingredientes e não demora muito tempo para ser preparada. Invista também em receitas com muito salmão, já que ele é um peixe versátil, saboroso e fácil de preparar. A versão assada no papilote com manteiga e minilegumes é bastante saudável e fica com uma apresentação digna de restaurante.

Nada como diferenciar aquele arroz básico do dia a dia com um risoto. O risoto de camarão é uma boa pedida para qualquer época do ano, mas na Quaresma, certamente, encantará sua família ou seus convidados. O falafel é um bolinho de grão de bico, típico da culinária de vários países do Oriente Médio. Muito simples de fazer, é um prato vegano e pode ser acompanhado pelo delicioso molho tarator. Acho que já ficou claro que mesmo se carne vermelha, seu prato não precisa ser sem sabor e sem criatividade. Aproveite!

Receitas

  • Bacalhoada

Ingredientes

800g de bacalhau em lascas

1 folha de louro

1/3 de xícara (chá) de azeite

1 pimentão verde e amarelo

2 cebolas

2 tomates

1/2 xícara (chá) de azeitona preta

Sal, pimenta-do-reino e salsinha a gosto

Modo de preparo

Deixe o bacalhau de molho na água dentro da geladeira por 24 horas. Lembre-se de trocar a água por três vezes. Escorra toda a água, coloque em uma panela com louro, cubra o bacalhau com água e cozinhe por cerca de 5 minutos. Depois, escorra novamente e reserve. Aqueça metade do azeite na panela, e refogue os pimentões, cortados em tiras e sem as sementes, e as cebolas, cortadas em fatias por cerca de 3 minutos. Adicione os tomates, cortados em tiras e sem as sementes, tempere com sal e pimenta e passe o refogado para uma assadeira. Disponha por cima as lascas de bacalhau, as azeitonas e a salsinha picada e despeje o restante do azeite por cima. Leve ao forno preaquecido em 250° por 10 minutos ou até dourar. Está pronto para servir! 

  • Salmão assado com legumes

Ingredientes

1kg de salmão com pele e cortado em postas

2 limões

Sal e pimenta-do-reino a gosto

1 tablete de manteiga sem sal

300g de tomates-cereja

300g de minilegumes (cenoura baby e miniespiga de milho)

Alecrim fresco

Papel alumínio

Modo de Preparo

Corte as postas em tamanho médio, com cerca de 200g cada. Deixe as postas marinando no suco de 2 limões e pimenta-do-reino por 15 minutos. Corte o papel-alumínio em quadrados suficientemente grandes para embrulhar as postas individualmente. Em cada folha, acomode uma posta de salmão e acrescente 1 colher (sobremesa) de manteiga, 4 tomates-cereja, 2 minilegumes de cada e um ramo de alecrim por cima do salmão. Salpique sal a gosto e embrulhe levemente cada posta. Leve ao forno médio preaquecido por aproximadamente 20 minutos. Depois, desembrulhe cada papilote com cuidado e monte no prato.

  • Risoto de camarão

Ingredientes

3 colheres (sopa) de azeite

1kg de camarão pequeno limpo

2 tomates médios

Sal e pimenta-do-reino a gosto

1 cubo de caldo de peixe

1 cebola média

1/2 xícara (chá) de salsão picado

2 e 1/2 xícaras (chá) de arroz arbóreo

1/2 xícara (chá) de vinho branco seco

1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado

2 colheres (sopa) de cebolinha picada

Modo de Preparo

Aqueça em uma frigideira em fogo médio a metade do azeite e refogue o camarão por 5 minutos. Adicione o tomate sem pele e sem sementes picado e refogue por mais 3 minutos. Tempere com sal e pimenta a gosto, desligue o fogo e reserve. Em uma panela, também em fogo médio, ferva 1 litro de água com cubo do caldo de peixe e reserve em outro recipiente. Na mesma panela, frite a cebola e o salsão até ficarem macios. Acrescente o arroz arbóreo e refogue por 2 minutos. Adicione o vinho e mexa até evaporar. Adicione 1 concha do caldo e deixe evaporar. Nessa etapa, mexa sem parar. Repita essa ação por mais 2 vezes e depois vá colocando o caldo aos poucos, sem esperar secar totalmente. Deixe o risoto cozinhar até o arroz ficar macio. Então, acrescente o camarão e misture. Desligue o fogo, adicione o parmesão e mexa até incorporar. Sirva, polvilhando a cebolinha picada por cima.

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