Roda de Samba Macumbb traz a celebração dos tambores para Goiânia

Em entrevista ao Jornal O Hoje, a cantora Beaju compartilha sua missão de resgatar a influência religiosa no repertório da Roda de Samba Macumbb

Postado em: 15-12-2023 às 10h45
Por: Tathyane Melo
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Em entrevista ao Jornal O Hoje, a cantora Beaju compartilha sua missão de resgatar a influência religiosa no repertório da Roda de Samba Macumbb | Foto: Mayara Varalho

Em Goiás, onde os tambores ecoam entre os toques de música e a cultura ressoa nas batidas vibrantes do samba, emerge um evento que vai muito além de melodias envolventes: a 7ª Edição da Roda de Samba Macumbb – ‘Ventou na Cachoeira’. No próximo domingo (17), a partir das 12h, o Quintal do Keké se transforma em um palco de celebração à ancestralidade, à alegria e à resistência, onde os tambores religiosos do Axé se encontram com os ritmos do samba para uma experiência única. Este evento, que se consagra como um resgate histórico e uma manifestação cultural, oferece mais do que música, é um tributo às raízes e um combate à intolerância.

Dentre as influências musicais que formaram o samba – ritmos como batuque, chorinho e lundu -, encontra-se a ancestralidade dos tambores das religiões de matriz africana. Curiosamente, apesar dessa conexão profunda entre o samba e as práticas religiosas, o panorama atual evidencia um tratamento muito distinto. Mesmo com essa ligação histórica entre o samba e os tambores das religiões do Axé, o cenário é ainda sobre uma distinção: enquanto as manifestações do samba são não apenas toleradas, mas também celebradas como patrimônio cultural do Brasil, em que os ritmos trazem a dança, socialização e a celebração em conjunto, as religiões de matriz africana ainda passam por diversos momentos em que a desinformação e julgamentos amplos ficam em evidência.

O samba, considerado um dos maiores patrimônios culturais do Brasil e celebrado globalmente, principalmente por meio do evento festivo anual, o Carnaval, tem sua origem marcada na casa da mãe de santo baiana, Tia Ciata. Lá, após eventos religiosos com os tambores, surgiam as rodas musicais que fundiam os ritmos religiosos com outros estilos trazidos pelos músicos e frequentadores, gerando a essência do samba.

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A Roda de Samba Macumbb emerge como uma iniciativa destinada a resgatar o samba às suas raízes, aos tambores religiosos do Axé, combatendo a intolerância por meio da arte, alegria e entretenimento. Com sua primeira edição realizada ainda este ano no mês de abril, o sucesso do evento se expandiu e em sua sétima edição, intitulada ‘Ventou na Cachoeira’, a homenagem recai sobre duas divindades do culto iorubá: Oxum, a senhora dos rios e cachoeiras e Iansã, senhora dos ventos e tempestades. Essa comemoração coincide também com os cinquenta anos da cantora, compositora, poetisa e responsável pela criação do projeto Beaju. Praticante de religião de matriz africana, Beaju é celebrada pelo público por interpretar grande parte do vasto repertório de samba dedicado aos tambores do Axé.

A produção cultural do evento é assinada por Ju Bianchi, a direção musical pela musicista Maximira Luciano e o apoio e espaço físico cedido pelo empresário Kennedy Oliveira, a famosa casa de cultura conhecida por Quintal do Keké, um dos berços do samba goianiense. Os ingressos custam R$70 e podem ser adquiridos pelo Instagram oficial do evento – macumbb.

Em entrevista ao Jornal O Hoje, a cantora Beaju compartilha sua jornada musical de mais de duas décadas dedicadas ao samba, revelando sua conexão e estudo profundo das origens desse gênero musical. Ao destacar sua relação com o candomblé, ela ressaltou seu desejo de trazer essa influência para sua Roda de Samba Macumbb, onde todas as letras têm a temática voltada para essas religiões, ampliando o repertório com músicas que abordam entidades e orixás, dando ênfase a um repertório vasto e diversificado que abarca cerca de 60 músicas.

“Eu tive essa ideia de fazer a roda de samba, cujo 100% do repertório fosse voltada a essas religiões de matrizes africanas. O samba já é isso. E eu comecei a pesquisar para aumentar o repertório e com isso consegui formar o set musical. São muitas horas de samba no evento, são três horas e meio de roda de samba e eu canto por duas horas e meia. Então foi um longo tempo de pesquisa para criar tantas horas com músicas neste tema”, conta Beaju.

Além disso, a artista enfatiza a distinção de sua roda de samba, garantindo que embora cante alguns pontos – músicas religiosas das religiões do axé -, o evento prioriza a experiência do samba, deixando os pontos reservados para os terreiros, promovendo, assim, a celebração e a homenagem a essa rica herança cultural.

“Ter a chama de uma das origens mais incríveis do samba acesa nos palcos artísticos dos projetos públicos é empoderar as culturas que mais sofrem preconceito nesse país, é reverberar a alegria e o balanço do samba, ijexá, afoxé, da MPB – é vibrar a mais potente energia que une um povo, que enfraquece a violência, que empodera minorias, que faz ecoar o grito contido de amor à música, à cultura e à arte que habita o mais resistente íntimo de qualquer alma brasileira”, pontua Beaju.

A música da Roda de Samba Macumbb ressoa com elementos percussivos intensos, amalgamando instrumentos tradicionais do samba com congas, atabaques, agogôs, afoxés, ganzás e berimbaus, remetendo às origens tribais de cultos e entretenimentos. Seu público alvo é destinado a todas as idades, todos envolvidos e contagiados pelos ritmos vibrantes e ecoantes dos tambores. Restaurar a chama das origens do samba nos palcos artísticos locais é um dos meios de fortalecer as culturas e reafirmar a alegria e a arte presentes na alma do goianos.

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