Programação Goiânia Mostra Curtas traz representatividade

18ª Goiânia Mostra Curtas começa nesta terça-feira (2) com vasta programação

Postado em: 02-10-2018 às 12h00
Por: Sheyla Sousa
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18ª Goiânia Mostra Curtas começa nesta terça-feira (2) com vasta programação

Guilherme Melo*

Considerado um dos festivais de curtas-metragens mais expressivos do País, a programação  18ª Goiânia Mostra Curtas é composta por cinco mostras competitivas: Curta Mostra Brasil, Curta Mostra Goiás, Curta Mostra Animação, Curta Mostra Cinema nos Bairros e 17ª Mostrinha. A última, em especial, é voltada ao público infanto-juvenil e geral interessado – que articula a rede pública de ensino do estado e município. A mostra começa nesta terça-feira (2) e vai até  domingo (7). 

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O evento conta também com vasta programação paralela como lançamentos literários, palestras, debates, atividades de formação, painéis, mesas-redondas e oficinas que são essenciais para a formação, qualificação e amadurecimento das produções e dos profissionais participantes.

O festival continua cumprindo seu inquestionável papel na democratização, difusão, estímulo à produção e profissionalização do audiovisual goiano e nacional.

Programação 

Nesta edição, a mostra está com o foco na discussão de gênero, tema recorrente nos festivais de cinema do mundo, como Internacional de Berlim (Berlinale), Festival de Cannes (na França), Festival de Veneza, Festival Internacional de Cinema de Bogotá e Festival de Sundance (EUA). Na 18ª Goiânia Mostra Curtas não seria diferente. Sob a curadora geral de Maria Abdalla, a programação começa, nesta terça (2), no Teatro Goiânia, com a homenagem para a atriz MaeveJinkings, que participou de filmes como O Som ao Redor, Big Jato, Boi Neon, Aquarius, além de curtas-metragens expressivos como A Terra Treme e Loja de Répteis e Estátua!. Maeve Jinkings é um dos fortes nomes do cinema brasileiro atual. Na TV, ela fez sua estreia em 2015 na novela A Regra do Jogo, da Rede Globo, com uma personagem de forte apelo social e popular. Em 2018, integrou o elenco da super série Onde Nascem os Fortes, dirigida por José Luiz Villamarim.   

Outra homenageada da noite será Silvia Cruz, que é a fundadora da Vitrine Filmes, empresa dedica à distribuição de filmes sobretudo brasileiros. Fundada em 2010, a empresa já possui mais de 130  títulos de longas-metragens, em seu catálogo, e tem mais de 50 títulos já fechados para os próximos três anos. É também presidente da Associação Nacional dos Distribuidores do Audiovisual Independente (Andai), associação que fundou em 2017. Formada em Administração de Empresas com Enfase em Marketing pela ESPM, antes de fundar a Vitrine filmes passou por empresas como Pandora Filmes, Europa Filmes, pela produtora Coração da Selva e pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. O filme que abre a vasta seleção da mostra é o recente Estátua!, dirigido por Gabriela Amaral. O enredo conta a história da babá Isabel, está no sexto mês de gestação e mal pode esperar para ser mãe. Até conhecer Joana. 

Durante a semana, a programação continua com as oficinas de documentário e de produção com alguns curtas. Segundo a diretora geral, a escolha da programação é voltada para todo o público, mas as mulheres têm um lugar especial na mostra.

Curta Especial

Em consonância com temáticas relevantes do cotidiano e que refletem diretamente na indústria cinematográfica, a Mostra Curta Especial, em 2018, promove a discussão sobre a mulher e o cinema brasileiro. Com o tema Gênero e Invenção: Tornar-se Mulher no Cinema de Curta-Metragem Contemporâneo, a diretora, roteirista e antropóloga Maíra Bühler, curadora da Curta Mostra Especial, elegeu 12 curtas-metragens, dividido em duas partes, que propõe uma reflexão sobre o papel feminino. O foco está no tornar-se mulher, como ato performativo, no contra-fluxo da visão de gênero que vai além da essência e na direção de uma proposta política em sua abertura criativa. O programa, que faz parte da 18ª Goiânia Mostra Curtas, será exibido nos dias 6 e 7 de outubro.

“Muito do que conhecemos, hoje, sobre a história do cinema brasileiro vem de um recorte masculino, que ainda se mantém. Ao trilhar esse caminho por uma perspectiva única – a do homem branco –, a indústria cinematográfica reforça padrões nocivos, deixando as mulheres em desvantagem. Embora, nos últimos anos, a temática sobre a representação feminina no cinema venha ganhando foco, ainda é preciso percorrer um caminho longo e árduo até alcançarmos a paridade de gênero”, afirma Maria Abdalla.

A primeira parte, que será exibida no dia 6 de outubro, terá como mote Criar, Emancipar, Denunciar e exibirá seis curtas. Fazem parte as produções Mini Miss, de Rachel Daisy Ellis; Quem Matou Eloá?, de Lívia Perez; Sweet Heart, de Amina Jorge; Latifúndio, de Érica Sarmet; Estado Itinerante, de Ana Carolina Soares, e Trans*lucidx, de Miro Spinelli. Já na segunda parte, que será apresentada no dia 7 de outubro, o lema Denunciar, Criar, Emancipar apresenta outras seis produções: A Boneca e o Silêncio, de Carol Rodrigues; K-Bela, de Yasmin Thayná; Outras, de Ana Júlia Travia; Tailor, de Calí dos Anjos; No Devagar Depressa dos Tempos, de Eliza Capai, e Peripatético, de Jéssica Queiroz.

“A ideia apresenta a desconstrução crítica de uma imagem de ‘mulher’ estável e estereotipada, dando lugar a emergência narrativa e subjetividades que colocam as relações de gênero em termos de performatividade”, explica a curadora da mostra. A a seleção de filmes faz um recorte temporal, concentrando-se nas produções realizada a partir de 2013 que, para Maíra, é um ano chave na emergência de importantes debates políticos na agenda do País, dentre eles, os que tangem a condição feminina e as relações de gênero.

A programação da Curta Mostra Especial ainda traz um debate sobre os desafios da desconstrução e da criação da imagem da mulher no cinema – com a presença da antropóloga Silvana Nascimento, a cineasta Ana Carolina Soares, a diretora e roteirista Carol Rodrigues e a atriz, roteirista e realizadora transexual Julia Katharine. Além disso, a Mostra Curtas Especial homenageia dua mulheres importantes para a cena. Yasmin Thayná é cineasta, diretora e fundadora da Afroflix, plataforma criada para divulgar filmes dirigidos, protagonizados e produzidos por negros. Juliana Vicente é diretora, produtora e fundadora da Preta Portê Filmes.  Dirigiu o curta Cores e Botas, exibido mundialmente em mais de 50 festivais, sobre uma menina negra que quer ser Paquita.

Representatividade

De acordo com dados do Informe sobre Diversidade de Gênero e Raça no Cinema em 2016, divulgado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), que leva em consideração produções comerciais, chegaram às telas daquela ano apenas 25 produções brasileiras com direção exclusivamente feminina, representando apenas 16% dos longas. Onze filmes tiveram direção mista, enquanto os homens estiveram à frente de 124 longas-metragens, 77% do total. Os filmes lançados por mulheres também tiveram menos espaço, sendo lançados em uma média de 65,4 salas, enquanto os feitos por homens chegaram a 83,1 espaços de exibição, em média. Os dados ainda revelam que o recorte racial é ainda mais desfavorável, já que apenas 2% das direções foram feitas por homens negros e nenhum filme dirigido por mulher negra chegou às salas de cinema em 2016.

Na contramão das estatísticas que mostram que o cinema brasileiro é majoritariamente masculino e branco, a Curta Mostra Especial é composta por curtas realizados, em maioria, por mulheres, brancas e negras, e tem por objetivo ampliar o debate sobre relações de gênero no cinema. “Neste caso, não existe apenas uma mulher, existem múltiplas mulheres que não são objeto de contemplação do outro – sacralizadas, disciplinadas, controladas, maternais, fatais, frágeis, férteis ou naturais –, mas invenções pautadas por si mesmas”, complementa Maíra.

Confira a programação completa no site: www.goianiamostracurtas.com.br 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE  

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