CPI: ‘Rebanho se aplica a animais, e fomos tratados dessa forma’, diz médico da Fiocruz

Claudio Maierovitch, da Fiocruz, criticou a tese da imunidade de rebanho, na qual a pandemia chegaria ao fim quando um grande número de pessoas fosse infectado.

Postado em: 11-06-2021 às 15h53
Por: Alice Orth
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Claudio Maierovitch, da Fiocruz, criticou a tese da imunidade de rebanho, na qual a pandemia chegaria ao fim quando um grande número de pessoas fosse infectado. | Foto: Reprodução

O médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Cláudio Maierovitch, prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 nesta sexta-feira (11/06). Em declaração, ele criticou a tese da imunidade de rebanho, em que se acredita que quando uma grande quantidade da população for infectada, não haverá mais contaminações devido à “imunidade natural”.

“Nós não somos rebanho, e não existe nenhum coletivo da palavra ‘pessoa’ ou ‘gente’ que seja traduzido como rebanho. Rebanho se aplica a animais, e fomos tratados dessa forma. Acredito que a população brasileira tem sido tratada dessa forma ao se tentar produzir imunidade de rebanho às custas de vidas humanas”, disse o médico.

Segundo ele, o governo federal “se manteve na posição de produzir imunidade de rebanho para a nossa população, em vez de adotar as medidas reconhecidas pela ciência para enfrentar esta crise”. A tese foi defendida pelo presidente Jair Bolsonaro em 2020, quando afirmou que o Covid-19 seria uma “chuva” que deveria molhar 70% da população brasileira.

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Maierovitch sustentou que não houve um plano de coordenação para a pandemia no Brasil, e que “esta aparência de inexistência do plano talvez revele muito mais. Talvez Revele a existência de um plano, de um plano que parou em março de 2020, quando alguns, felizmente poucos, líderes internacionais acreditaram que o melhor caminho para vencer a crise era que a doença se espalhasse rapidamente, e que quem tivesse que morrer, morreria, e quem sobrevivesse continuaria tocando a economia, como se diz. Morreriam provavelmente os mais frágeis, desonerando a previdência, desonerando serviços de saúde, ou seja, do ponto de vista econométrico, poderia ter-se até um acontecimento positivo”, declarou.

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