Cidade do Amazonas determinou medida de restrição no consumo de peixes após surto de ‘Doença da Urina Preta’

Cidade de Itacoatiara concentra maior número de casos e já registrou uma morte em decorrência da doença

Postado em: 02-09-2021 às 17h22
Por: Maria Paula Borges
Imagem Ilustrando a Notícia: Cidade do Amazonas determinou medida de restrição no consumo de peixes após surto de ‘Doença da Urina Preta’
Itacoatiara concentra maior número de casos e já registrou uma morte em decorrência da doença | Foto: Reprodução

A secretaria estadual de Saúde do Amazonas recomendou a restrição temporária do consumo de peixes que possam estar associados aos casos de rabdomiólise, conhecida popularmente como “doença da urina preta”. Nesta quarta-feira (01/09), foi divulgado que a medida durará 15 dias e vale para a população da cidade de Itacoatiara, que concentra o maior número de casos e registrou uma morte em decorrência da doença.

Até terça-feira (32/08), o estado já tinha 44 casos da doença, sendo 34 no município de Itacoatiara. Os peixes que não devem ser consumidos são pirapitinga, pacú e tambaqui de origem da pesca de rios e lagos.

A secretaria estadual de Saúde informou que está trabalhando articulada com as unidades de saúde do Amazonas na construção do “fluxo regulado de referência e contra referência dos casos suspeitos e confirmados por rabdomiólise, com a garantia de suporte técnico de acesso e assistência em tempo oportuno para manejo de casos em adultos e crianças”.

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Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, a doença da urina preta é uma síndrome clínico-laboratorial que decorre da lesão muscular com a liberação de substâncias intracelulares para a circulação sanguínea.

“Ocorre normalmente em pessoas saudáveis, na sequência de traumatismos, atividade física excessiva, crises convulsivas, consumo de álcool e outras drogas, infecções e ingestão de alimentos contaminados, que incluem o pescado. O quadro clínico da doença pode incluir elevações assintomáticas das enzimas musculares séricas (creatinina-fosfoquinase – CPK), complementou a fundação.

Doença da Urina Preta

A doença, conhecida desde a década de 1920, está relacionada a uma toxina que é encontrada em peixes e crustáceos. Justamente essa substância que provoca as lesões nos músculos e pode até danificar seriamente os rins.

Os primeiros relatos são de 1924 na região litorânea Könisberg Haff, próxima ao mar Báltico. Na época, os médicos que trabalhavam no local descreveram um quadro de início súbito com ‘rigidez muscular, frequentemente acompanhada de urina escura’. Após a publicação dos primeiros relatos, foram registrados novos casos no local durante os próximos nove anos, com um fator em comum: o consumo de pescados.

No Brasil, os primeiros casos foram identificados em 2008 e 2009, porém em 2017 o país apresentou o momento de maior gravidade, quando a Bahia contabilizou 71 pacientes com a doença, sendo 66 deles em Salvador.

Os principais incômodos são dores musculares poucas horas após o consumo de peixes ou crustáceos, mas alguns pacientes também apresentam dor no peito, falta de ar, dormência, náusea, tontura e fraqueza. “Geralmente nós vemos essa dor muscular se concentrar na região do trapézio, dos ombros e do pescoço”, diz o médico Luis Filipe Miranda, do Serviço de Nefrologia do Hospital Português da Bahia, em Salvador.

Outro sintoma característico é a urina escura, originando daí o nome popular, que se assemelha à cor do café. Acredita-se que o causador do distúrbio seja alguma toxina encontrada nos animais aquáticos, mas os cientistas ainda não identificaram qual é. “Desde os primeiros casos em 1924 tenta-se descobrir que substância é essa, mas até o momento não se encontrou nada específico”, reforça o médico.

Ao que se sabe, todas as repercussões no corpo têm a ver com a rabdomiólise, a destruição progressiva das fibras que compõem os músculos esqueléticos. Com o passar do tempo, o conteúdo dessas células é despejado no sangue, causando muitas vezes a insuficiência renal. Isto acontece porque um dos componentes das células musculares é a mioglobina, enzima tóxica para os rins.

O indicado é que o paciente que sentir os sintomas procure ajuda profissional para que seja diagnosticado o mais breve possível. Quando o enfermo fica internado, um dos principais tratamentos é a hidratação reforçada. Além disso, segundo Miranda, também é suspendido o uso de medicação que pode lesionar os músculos e rins.

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