Vírus mais comum no organismo humano pode ajudar no diagnóstico de Covid-19

A concentração de torquetenovírus (TTV) no organismo de pessoas infectadas pela Covid-19 apresentou correlação com o estado de intensidade ou recuperação da doença

Postado em: 22-09-2021 às 08h41
Por: Ícaro Gonçalves
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A concentração de torquetenovírus (TTV) no organismo de pessoas infectadas pela Covid-19 apresentou correlação com o estado de intensidade ou recuperação da doença | Foto: Divulgação/ Agência Fapesp

Um estudo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) sugere que a concentração de torquetenovírus (TTV) no organismo de uma pessoa infectada pelo coronavírus pode servir como marcador de intensidade e de recuperação da Covid-19. Os resultados foram divulgados na revista PLOS ONE.

O torquetenovírus é um dos mais frequentemente encontrados no organismo humano, comum também em macacos e animais domésticos, embora sua presença até hoje não tenha sido associada a nenhuma doença. Contudo, quando ele começa a se replicar demais, é sinal de que algo vai mal no sistema imune.

Essa correlação entre carga de TTV elevada e imunossupressão já tem sido usada na medicina em alguns contextos, por exemplo, para monitorar pacientes transplantados e que precisam tomar remédios para evitar a rejeição do órgão.

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“Analisamos amostras de 91 pacientes com infecção pelo SARS-CoV-2 confirmada por RT-PCR e de outras 126 pessoas com síndrome gripal que testaram negativo. Observamos que os títulos de TTV aumentaram nos infectados pelo novo coronavírus – quanto mais altos, mais tempo eles permaneceram doentes”, conta Maria Cássia Mendes-Correa, professora da Faculdade de Medicina (FM-USP) e uma das autoras do artigo.

A pesquisadora conta que todos os pacientes incluídos na pesquisa tiveram quadros leves ou moderados de Covid-19. A análise da carga viral – tanto do TTV quanto do SARS-CoV-2 – foi feita usando amostras de saliva. Por meio de um questionário aplicado aos participantes, foi possível constatar que nenhum deles era portador de doenças que causam imunossupressão, como câncer ou Aids.

“Acredita-se que a COVID-19, ao provocar um desequilíbrio imunológico, pode levar a certo grau de imunodepressão. E isso favorece a replicação do TTV”, explica Mendes-Correa.

O atual estudo foi desenvolvido no âmbito do Programa Corona São Caetano, uma plataforma on-line criada para organizar o monitoramento remoto de moradores com sintomas de COVID-19 por equipes de saúde e a coleta domiciliar de amostras para diagnóstico.

Apoio ao diagnóstico

Segundo a pesquisadora, não há uma aplicação clínica direta para a descoberta. Mas ela pode, no futuro, contribuir para aprimorar o diagnóstico e o prognóstico da Covid-19.

“Hoje todos buscamos meios para obter um diagnóstico rápido e preciso. Uma das possibilidades é desenvolver um kit capaz de dosar vários biomarcadores da doença ao mesmo tempo e depois avaliar os resultados com o auxílio de algoritmos. A medida da carga de TTV é um dos vários testes que podem ser incorporados nesses algoritmos para subsidiar o diagnóstico. É nessa direção que a medicina está caminhando”, diz.

Com informações da Agência Fapesp.

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