Brasil está entre os 3 países no ranking de maiores inflações; entenda expectativa para 2022

Cenário brasileiro se agravou principalmente pela moeda desvalorizada e insegurança fiscal

Postado em: 10-11-2021 às 15h37
Por: Maria Paula Borges
Imagem Ilustrando a Notícia: Brasil está entre os 3 países no ranking de maiores inflações; entenda expectativa para 2022
Cenário brasileiro se agravou principalmente pela moeda desvalorizada e insegurança fiscal | Foto: Reprodução

A inflação no Brasil ganha destaque no ranking de maiores inflações do mundo, ocupando o terceiro lugar. Apesar de não ser uma realidade apenas brasileira, uma vez que as principais economias mundiais também sofrem os efeitos da pandemia no bolso, o cenário do Brasil é agravado principalmente devido ao câmbio desvalorizado e insegurança fiscal.

A crise atinge a todos, e não apenas os mais pobres, mesmo que esses sofram mais com a disparada dos preços. Entretanto, toda a cadeia produtiva foi afetada, seja no preço de combustível, que acumula alta de mais de 70%, na energia elétrica, que acumula alta de 25%, no supermercado ou na compra de insumos, sendo os dois primeiros os principais responsáveis, visto que afetam toda a cadeia produtiva atingindo diretamente o consumidor.

No ranking de maiores inflações mundiais, o Brasil fica atrás da Argentina, que vive uma das suas piores crises inflacionárias, e da Turquia, que é um dos países que mais sofre com o câmbio durante a pandemia. Segundo Roberto Dumas, professor de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), o choque da pandemia atingiu o mundo todo, mas que o Brasil de fato ganha destaque. “O choque de oferta causado pela pandemia de Covid-19 atingiu o mundo inteiro, mas o Brasil teve a forte desvalorização da sua moeda, um componente a mais para que a inflação acelerasse”.

Continua após a publicidade

Além disso, Dumas ressalta que o cenário atual é preocupante. “Em um contexto de aumento do risco fiscal, os investidores tendem a retirar seu capital do país e o dólar deve subir ainda mais ante o real”, diz.

De acordo com o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), André Braz, a desvalorização do câmbio não resulta apenas de incertezas fiscais intensificadas, mas que o cenário vem sendo desenhado desde 2020, com as primeiras políticas sanitárias impostas para combater o vírus. “O governo federal adotou uma postura com o surgimento da Covid, como a recomendação do uso de cloroquina, de não estimular o uso de máscaras e do distanciamento social, o que gera uma incerteza doméstica muito grande. Esse discurso segue até hoje e difere dos que os governadores e prefeitos têm feito, o que contribui para a manutenção deste cenário de dúvidas”, afirma.

Como estratégia para frear a disparada de preços, o Banco Central vem elevando o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) em um ciclo de aperto monetário que começou ainda em 2020, quando a taxa básica havia atingido a mínima de 2% ao ano. Hoje, o cenário visto é uma Selic chegando a dois dígitos em 2022.

A ideia de aumentar a taxa básica de juros é a principal ferramenta monetária para controlar os preços, mas funciona melhor em uma economia aquecida, em que o encarecimento do crédito deixa os consumidores mais contidos. Entretanto, os preços pressionados atualmente vêm menos da atividade aquecida e mais de fatores que não podem ser controlados artificialmente.

Além disso, Dumas alerta que a política monetária demora uma média de 6 à 7 meses para surtir efeito, portanto o tempo é fundamental para que os juros sensibilizem a inflação. Porém, a acelerada descontrolada nos preços seria um cenário muito pior, como destaca Braz. “O problema dos juros é que eles levam a um baixo crescimento econômico. A economia encolhendo não vai gerar emprego nem renda, mais um problema para 2022”, diz.

A inflação juntamente com Selic alta leva a revisão de expectativa para a economia em 2022. Uma das mais recentes foi a do Goldman Sachs, em que a empresa rebaixou a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2022 de 1,5% para 0,8%. O banco alertou ainda para o cenário de inflação aquecida, condição monetária mais apertada e crescente risco político-fiscal doméstico.

Foi divulgado no início de novembro pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que a alta do preço da energia reduz o PIB em 0,11% em 2021 e 0,19% em 2022. Um índice do Bank of America para atividade econômica no país apresentou queda em outubro, pelo sexto mês consecutivo.

Veja Também