Bolsonaro menospreza impactos da Ômicron e sugere que a variante é “bem-vinda” no Brasil

Em entrevista ao site Gazeta Brasil, presidente afirmou que a variante possui baixa letalidade e voltou a se opor à vacinação infantil

Postado em: 12-01-2022 às 15h25
Por: Maria Paula Borges
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Em entrevista ao site Gazeta Brasil, presidente afirmou que a variante possui baixa letalidade e voltou a se opor à vacinação infantil | Foto: reprodução

O presidente Jair Bolsonaro (PL) menosprezou os impactos da variante do coronavírus, Ômicron, no Brasil. Segundo Bolsonaro, em entrevista ao site Gazeta Brasil nesta quarta-feira (12/1), apesar da capacidade alta de difundir, a variante possui pequena letalidade. Além disso, o presidente sugeriu que a Ômicron é “bem-vinda”.

“A Ômicron, que já espalhou pelo mundo todo, como as próprias pessoas que entendem de verdade dizem: que ela tem uma capacidade de difundir muito grande, mas de letalidade muito pequena. Dizem até que seria um vírus vacinal. Deveriam até… segundo algumas pessoas estudiosas e sérias – e não vinculadas a farmacêuticas – dizem que a Ômicron é bem-vinda e pode sim sinalizar o fim da pandemia”, afirma Bolsonaro.

Na ocasião, Bolsonaro alegou ainda que a variante “não tem matado ninguém” e que o registro de óbito em Goiás seria uma pessoa que já tinha “problemas seríssimos”. O registro era de um paciente de 68 anos, em Aparecida de Goiânia, hipertenso e com doença pulmonar obstrutiva crônica.

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Segundo o presidente, ele determinou ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a divulgação de casos de efeitos colaterais causados por imunizantes. Apesar das afirmações de Bolsonaro, especialistas destacam que, mesmo que aparente ser menos letal, a Ômicron traz riscos de nova sobrecarga aos sistemas de saúde.

No Brasil, os últimos dias tem sido marcados pela alta procura de testagem e diversos registros de pessoas infectadas pela variante, ainda que vacinadas. Um dos cenários, mas não o único avaliado por epidemiologistas, é a hipótese que a variante represente o declínio da pandemia. Segundo os especialistas, o vírus pode sofrer mutações e não se sabe se elas tornarão a doença mais grave.

A nova cepa já fez com que o mundo registrasse números próximos a 2 milhões de casos por dia, sendo esta uma quantidade superior à das ondas anteriores. Além disso, uma das explicações para a aparente menor letalidade da variante é o avanço da vacinação.

Apesar de a vacinação ser comprovadamente eficaz, Bolsonaro ainda questiona a eficácia e garante que não vai se imunizar. O presidente se opõe também à expansão da vacinação para crianças de 5 a 11 anos. Inclusive, na entrevista ao site Gazeta Brasil, ele voltou a criticar a vacinação infantil, que deve começar ainda em janeiro.

De acordo com Bolsonaro, um número muito baixo de crianças foi a óbito em decorrência da Covid-19 no Brasil. “Quase zero. Esse número pequeno ainda tinha o fato de crianças com comorbidade”, defende o presidente.

Diante das declarações, a entrevistadora ressaltou que mais de 300 crianças morreram pela doença, entretanto, Bolsonaro manteve a oposição à imunização. Então, o presidente determinou que Queiroga divulgue casos de efeitos colaterais registrados pela imunização.

“Tudo bem, não vou questionar. Vamos partir do princípio que os números estão certos. Justifica a vacinação? Eu cobrei ontem do ministro Queiroga, da Saúde, a divulgação das pessoas com efeito colateral. Quantas pessoas estão tendo reações adversas no Brasil pós-vacina? Quantas pessoas estão morrendo também por outras causas que são creditadas à Covid?”, questiona.

Covid e Influenza

O Brasil tem sofrido com a quantidade de casos de Covid-19 e influenza nas últimas semanas. Com isso, o número de atendimentos médicos a distância, fornecidos por meio da telemedicina, dobrou a cada 36 horas, conforme informações da Saúde Digital Brasil. A associação reúne 90% do mercado do setor no país.

Segundo a organização, os teleatendimentos semanais para casos das duas doenças saíram de 7 mil para 15 mil, no período entre o Natal e o Ano Novo, sendo que nos primeiros dias de janeiro chegou a cerca de 50 mil consultas. De acordo com Guilherme Weigert, do Conselho Administrativo da Saúde Digital Brasil, a teleconsulta traz benefícios para o paciente.

Com o objetivo de facilitar o acesso aos profissionais da saúde, a teleconsulta foi autorizada durante a pandemia, porém, a prática precisa ser regulamentada pelo Congresso Nacional.

De acordo com Erick Barreto, professor de urgências clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, a teleconsulta trouxe benefícios no contexto da pandemia, mas ressalta que ela não é um substituto completo para visitas presenciais. Segundo ele, o mecanismo traz prejuízo em relação à interação afetiva e emocional entre médico e paciente, além de não ser acessível a toda a população.

Variante Ômicron

De acordo o especialista em doenças infecciosas, Anthony Fauci, a variante Ômicron infectará “quase todo mundo”, independente de vacinação. De acordo com ele, que é conselheiro da Casa Branca, as pessoas vacinadas tendem a responder melhor às infecções.

Ao jornal Estado de S. Paulo, Fauci detalhou que pessoas imunizadas “muito provavelmente evitarão hospitalização e morte”. As previsões para quem ainda não está imunizado, segundo o infectologista, é que estão 20 vezes mais propensos a morrer, 17 vezes mais propensos a serem hospitalizados e 10 vezes mais propensos a serem infectados, se comparados aos vacinados.

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