Após ser espancado por 15 minutos, jovem congolês é morto em quiosque na Barra da Tijuca

Conforme informações, os espancamentos começaram depois que o rapaz cobrou o recebimento do salário

Postado em: 31-01-2022 às 16h24
Por: Maria Paula Borges
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Conforme informações, os espancamentos começaram depois que o rapaz cobrou o recebimento do salário | Foto: reprodução

Um jovem congolês chamado Moise Mugenvi Kabagambe, de 25 anos, foi morto na última terça-feira (25/1) no quiosque Tropicália, onde trabalhava como atendente. O quiosque fica localizado no posto 8 da Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio de Janeiro, e segundo informações do primo do rapaz, ele foi espancado por mais de 15 minutos com golpes de mata leão, socos, chutes, madeirada e chegou até a ter as mãos e pés amarrados por um pedaço de fio.

Segundo Yannick Iluanga Kamanda, primo de Moise, ele assistiu a um vídeo que foi obtido por policiais civis da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) no local do crime. Além disso, de acordo com familiares da vítima, ao menos cinco pessoas participaram do espancamento.

O primo do rapaz contou que, num primeiro momento, Moise é visto reclamando porque queria receber e explica o que aconteceu em seguida. “Em determinado momento, os ânimos se acirraram e o gerente pega um pedaço de madeira. O meu primo corre para se defender com uma cadeira. O gerente vai embora e em seguida volta com cinco pessoas e pegam o meu primo na covardia. Um rapaz dá um mata-leão nele e os outros quatro se revezam em bater”, conta.

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De acordo com Yannick, a vítima apanhava e havia um revezamento para espancá-lo. “Não satisfeitos, eles amarraram os braços e as pernas dele e continuaram batendo. O meu primo ficou desacordado e mesmo assim eles espancavam ele. Só depois de um tempo, eles viram que ele estava desacordado e deixaram ele jogado na areia”, explica.

Conforme informações, oito pessoas foram ouvidas por investigadores até agora e um familiar do congolês afirma que duas já haviam sido identificadas como agressoras.

Uma nota foi divulgada por líderes da comunidade congolesa no Rio de Janeiro, repudiando “veemente a morte” do jovem. O comunicado ainda define o ato como brutal e que “não somente manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, mas claramente demonstra a xenofobia dentro das suas formas, contra os estrangeiros”. Além disso, o documento afirma que a “comunidade congolesa não vai se calar” e que os autores do crime e o dono do estabelecimento respondem pelo crime.

Por parte dos familiares, foi solicitada uma apuração rigorosa da morte do trabalhador, o caso é investigado pela Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro.

A família afirma ainda que o responsável pelo estabelecimento estava devendo dois dias de pagamento ao jovem e que, quando ele foi cobrar, foi espancado. “Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é vergonha. Morreu no Brasil. Quero justiça”, afirma Ivana Lay, mãe da vítima.

Além disso, foi feito um protesto no último sábado (29/1) por parte da família, pedindo informações e denuncia que os órgãos da vítima foram retirados do Instituto Médico-Legal (IML). A revolta familiar se deu por saberem da morte apenas quase 12 horas após o crime, e se intensificou durante o reconhecimento do corpo.

“Quando a notícia chegou até nós, fomos no IML na terça de manhã e a gente já encontrou ele sem órgão nenhum, sem autorização da mãe, nem autorização dele de ser doador de órgão. Onde estão os órgãos? Nós não sabemos. Em menos de 72h ele foi dado como indigente. Infelizmente, a gente vive aqui, mas estamos na insegurança”, diz a prima Faida Safi.

Entretanto, a Polícia Civil, responsável pelas investigações, negou que os órgãos da vítima tenham sido retirados no IML.

O corpo do jovem foi enterrado no Cemitério do Irajá no último domingo (30/1), sob protesto e com música e dança em um ritual africano.

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