Após 2 anos de covid, pesquisa aponta que mais da metade dos médicos dizem estar esgotados

Levantamento escutou 3517 profissionais de saúde que se queixaram ainda de deficiências que dificultam o tratamento da doença

Postado em: 03-02-2022 às 17h52
Por: Maria Paula Borges
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Levantamento escutou 3517 profissionais de saúde que se queixaram ainda de deficiências que dificultam o tratamento da doença | Foto: reprodução

Uma pesquisa feita pelas associações Médica Brasileira (AMB) e Paulista de Medicina (APM)foi feita com profissionais da saúde de todo o país. Os resultados do levantamento, divulgados nesta quinta-feira (3/2), apontam que 57% dos médicos se queixam de deficiências que dificultam o tratamento dispensado aos pacientes com covid-19, colocando em risco inclusive a integridade dos profissionais.

Entre os entrevistados, 45% responderam que faltam profissionais para atender aos pacientes com o vírus nas unidades em que trabalham, resultado superior ao registrado em fevereiro de 2021. Além disso, muitos se queixaram da falta de equipamentos como máscaras, luvas, aventais, medicamentos e até mesmo de leitos de internação em unidades regulares ou em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Ainda 51% dos entrevistados afirmaram estar esgotados ou apreensivos diante do aumento de casos, decorrentes da disseminação da variante Ômicron que, segundo especialistas, possui subvariantes mais infecciosas.

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O estudo foi além, questionando sobre a situação de colegas de trabalho. Neste quesito, 64% dos entrevistados disseram haver, em seu ambiente profissional, colegas com claros sintomas de estarem sobrecarregados e 62% afirmaram que observaram colegas estressados, além de 57% afirmarem que os profissionais estão ansiosos, 56% próximos à exaustão física ou emocional, e 37% com algum distúrbio relacionado ao sono.

Para chegar aos resultados, 3517 médicos que trabalham tanto em estabelecimentos particulares como em unidades públicas de saúde foram ouvidos, entre os dias 21 e 31 de janeiro.

Outro dado observado pelo levantamento é que 96% dos profissionais afirmaram que o número de casos da doença tinha aumentado em comparação ao último trimestre de 2021, mas 59,5% disseram não observar tendência de alta no número de mortes.

Na última quarta-feira (2/2), o Ministério da Saúde contabilizou o total de 893 mortes em 24 horas, com isso o número de óbitos pelo vírus subiu para 628.960. A pasta confirmou também mais 172.903 novos casos de pessoas infectadas.

Diante da realidade, 87% dos entrevistados relataram que eles mesmo, ou colegas de trabalho próximos, receberam diagnóstico positivo para a doença nos últimos dois meses. Entretanto, 81% dizem que a ocupação das UTIs ainda era menor que nos momentos mais críticos do ano passado.

Vacinação e reprovação

A maioria dos entrevistados, 75%, destacou que a forma como o Plano Nacional de Operacionalização de Vacinação contra a covid-19 vem sendo executada é positiva. Até a noite de quarta-feira, ao menos 164 milhões de brasileiros já tinham recebido ao menos uma dose do imunizante para combater o coronavírus. Em relação aos brasileiros que receberam as duas doses ou dose única totalizam 151,2 milhões, e a dose de reforço foi aplicada em 37 milhões de brasileiros.

Apesar de alguns considerarem positiva a forma como o sistema brasileiro tem lidado com a pandemia, 72% dos médicos ouvidos disseram reprovar a atuação do Ministério da Saúde. Destes, 34,4% consideram que a gestão ministerial da crise é péssima, 16,6% consideram ruim e 21% consideram regular. Entretanto, apenas 18,9% consideram boa e 6,3% avaliam como ótima.

No que se refere a postura das secretarias estaduais de Saúde, a avaliação melhora, tendo em vista que 52,6% dos médicos aprovam a gestão dos seus estados.

Segundo José Luiz Gomes de Amaral, presidente da Associação Paulista de Medicina, a maior falha observada é me questão das recomendações. ‘Do ponto de vista da estratégia, de informações, o ministério deixa muito a desejar. E, certamente, onde a falha é maior, é nas recomendações”, afirma.

De acordo com Amaral, enquanto 65% dos entrevistados afirmaram buscar referências para o tratamento de pacientes junto às associações e sociedades médicas, apenas 14,6% responderam consultar documentos produzidos pelo Ministério.

O presidente da AMB, César Eduardo Fernandes, observa que o ministério envia sinais conflitantes à população, colocando em dúvida a segurança das vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e distribuídas pela pasta. Entretanto, Fernandes não foi o único a ressaltar a observação, 68,7% dos médicos também reprovaram o trabalho de orientação à população a respeito da importância da vacinação.

“Parece-me uma dubiedade. Fala uma coisa em um momento, e outra em outro momento. Um exemplo foi a vacinação infantil, postergada através de uma consulta pública desnecessária para, no fim, o próprio ministro comemorar a chegada dos imunizantes”, disse Fernandes.

Apesar da contaminação em torno do debate das estratégias de enfrentamento ao vírus, a população tem demonstrado ser favorável à vacinação. Entre os entrevistados, 81% disseram que a maioria dos pacientes atendidos já tomaram ao menos duas doses dos imunizantes. Apenas 0,2% dos profissionais afirmaram ter contato com pessoas que se negam ser vacinados.

No levantamento, 71% dos entrevistados afirmaram acreditar que a maioria dos pais ou responsáveis levará as crianças para tomar vacina, contra 12% que acreditam que os adultos não o farão.

Sequelas pós-covid

Sete em cada dez médicos ouvidos pela pesquisa confirmaram que tem atendido pacientes com sequelas. 50% disseram que as sequelas mais vistas são dor de cabeça incessante, fadiga ou dores no corpo; 39% perda do olfato ou paladar; 23% problemas cardíacos e trombose, entre outras.

Outro fator observado foi que metade dos profissionais disseram conhecer alguém que deixou de buscar atendimento para outras doenças pelo medo de serem infectados pelo vírus, tendo seus quadros clínicos agravados. O fator foi visto principalmente em pacientes com câncer, diabetes, doenças cardíacas e hipertensão.

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