Cresce 66% o total de crianças sem alfabetização no Brasil; desigualdades sociais e étnicas se refletem nos dados
Quando avaliados os domicílios ricos do país, o índice é de 16,6%. Já entre o lares mais pobres, o número salta para 51%.
Por: Alexandre Paes
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O número de crianças de seis e sete anos no Brasil que não sabem ler e escrever cresceu 66,3% de 2019 para 2021, o que já expõe um dos efeitos da pandemia de Covid-19 no ensino brasileiro. A análise foi divulgada pela organização Todos Pela Educação nesta terça-feira (8/2), e esse percentual tem base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A nota técnica “Impactos da pandemia na alfabetização de crianças”, divulgada pela organização, declara que “a situação é preocupante em diversas dimensões”. O documento ainda aponta que o aumento expressivo no número de crianças não-alfabetizadas no país tem impacto mais grave entre alunos negros e pobres.
“Os dados reforçam o impacto da pandemia na educação, com o aumento do número de alunos fora da escola por abandono ou evasão, queda na aprendizagem e aumento das desigualdades no recorte raça e cor e condições econômicas”, afirmou Ivan Gontijo, coordenador de políticas educacionais do Todos pela Educação.
Houve ainda crescimento das desigualdades entre as crianças que residem em áreas mais ricas na comparação com as que moram em regiões mais pobres do país de 2019 a 2021. Segundo a pesquisa, o percentual das que não sabiam ler nem escrever aumentou de 33,6% para 51% entre as mais pobres. Já entre as crianças mais ricas, o impacto na alfabetização foi menor, ainda assim passou de 11,4% para 16,6% no período.
As desigualdades sociais e étnicas do país se refletem nos dados. Ao todo, 47,4% das crianças pretas não estão plenamente alfabetizadas; entre as pardas o índice é 44,5%. Já entre crianças brancas, o número atual é de 35,1%. Quando avaliados os domicílios ricos do país, o índice é de 16,6%. Já entre os pobres, o número salta para 51%.
“Os dados já eram ruins em 2019, a pandemia agravou os desafios e trouxe outros novos. Os números aumentaram por causa do fechamento das escolas por muito tempo no Brasil e o impacto teria sido menor se o ensino remoto tivesse funcionado melhor, mas não chegou para todos, menos ainda para os pobres, pretos e pardos”, revela o coordenador.
Os números demonstram que a situação fica ainda mais preocupante em relação às crianças que se encontram em maior vulnerabilidade econômica. Elas nem sempre tiveram acesso à internet, computadores e faltou até treinamento aos professores.
O percentual de crianças de 6 e 7 anos que não foram alfabetizadas passou de 25,1%, em 2019, para 40,8%, em 2021. Expressivamente o número subiu de 1,4 milhão, em 2019, para 2,4 milhões.
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