Cresce 66% o total de crianças sem alfabetização no Brasil; desigualdades sociais e étnicas se refletem nos dados

Quando avaliados os domicílios ricos do país, o índice é de 16,6%. Já entre o lares mais pobres, o número salta para 51%.

Postado em: 08-02-2022 às 16h11
Por: Alexandre Paes
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Quando avaliados os domicílios ricos do país, o índice é de 16,6%. Já entre o lares mais pobres, o número salta para 51%. | Foto: Reprodução

O número de crianças de seis e sete anos no Brasil que não sabem ler e escrever cresceu 66,3% de 2019 para 2021, o que já expõe um dos efeitos da pandemia de Covid-19 no ensino brasileiro. A análise foi divulgada pela organização Todos Pela Educação nesta terça-feira (8/2), e esse percentual tem base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A nota técnica “Impactos da pandemia na alfabetização de crianças”, divulgada pela organização, declara que “a situação é preocupante em diversas dimensões”. O documento ainda aponta que o aumento expressivo no número de crianças não-alfabetizadas no país tem impacto mais grave entre alunos negros e pobres.

“Os dados reforçam o impacto da pandemia na educação, com o aumento do número de alunos fora da escola por abandono ou evasão, queda na aprendizagem e aumento das desigualdades no recorte raça e cor e condições econômicas”, afirmou Ivan Gontijo, coordenador de políticas educacionais do Todos pela Educação.

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Houve ainda crescimento das desigualdades entre as crianças que residem em áreas mais ricas na comparação com as que moram em regiões mais pobres do país de 2019 a 2021. Segundo a pesquisa, o percentual das que não sabiam ler nem escrever aumentou de 33,6% para 51% entre as mais pobres. Já entre as crianças mais ricas, o impacto na alfabetização foi menor, ainda assim passou de 11,4% para 16,6% no período.

As desigualdades sociais e étnicas do país se refletem nos dados. Ao todo, 47,4% das crianças pretas não estão plenamente alfabetizadas; entre as pardas o índice é 44,5%. Já entre crianças brancas, o número atual é de 35,1%. Quando avaliados os domicílios ricos do país, o índice é de 16,6%. Já entre os pobres, o número salta para 51%.

“Os dados já eram ruins em 2019, a pandemia agravou os desafios e trouxe outros novos. Os números aumentaram por causa do fechamento das escolas por muito tempo no Brasil e o impacto teria sido menor se o ensino remoto tivesse funcionado melhor, mas não chegou para todos, menos ainda para os pobres, pretos e pardos”, revela o coordenador.

Os números demonstram que a situação fica ainda mais preocupante em relação às crianças que se encontram em maior vulnerabilidade econômica. Elas nem sempre tiveram acesso à internet, computadores e faltou até treinamento aos professores.

O percentual de crianças de 6 e 7 anos que não foram alfabetizadas passou de 25,1%, em 2019, para 40,8%, em 2021. Expressivamente o número subiu de 1,4 milhão, em 2019, para 2,4 milhões.

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