Quem é cacique Damião, líder indígena suspeito de receber milhões em esquema de corrupção

Cacique Damião Paridzané é conhecido como um dos principais líderes do povo Xavante, já tendo recebido prêmios e homenagens por sua defesa das terras indígenas de Marãiwatsédé, no Mato Grosso. Porém, sua imagem de ativista tem sido abalada nas últimas semanas, após a Polícia Federal iniciar investigação contra o cacique por suspeita de receber dinheiro em troca da concessão ilegal de áreas à fazendeiros.

Na quinta-feira (17/3), o cacique teve uma caminhonete Hillux SW4 apreendida em meio à Operação Res Capta. Damião havia dito que o veículo era dele, mas segundo os investigadores, o automóvel avaliado em mais de R$ 380 mil, estava no nome de um arrendatário e poderia ser um “presente”. Damião também é suspeito de receber R$ 900 mil por mês para autorizar fazendeiros a entrarem na terra.

Além do veículo, a Justiça Federal de Mato Grosso determinou o bloqueio de bens do cacique. A juíza da Vara Federal Cível e Criminal da Subseção Judiciária de Barra do Garças, Danila Gonçalves de Almeida, destacou que há indícios suficientes do recebimento de valores pelo cacique. Um pecuarista investigado afirmou que pagava diretamente ao cacique pelo arrendamento. Depósitos de outros fazendeiros foram identificados pela PF. Quinze proprietários rurais estão sendo investigados.

“Razão pela qual, com fulcro nos artigos 125 a 132 do CPP, determino o bloqueio de todos os valores depositados nas contas vinculadas a Damião Paridzané”, disse a juíza na decisão. Nas próximas etapas da Operação Res Capta, será feito o rastreio de todos os valores em posse de Damião pelo Sistema de Busca de Ativos do Poder Judiciário (Sisbanjud).

Histórico

Damião Paridzané foi a principal liderança na luta pela recuperação da Terra Indígena Marãiwatsédé. Os indígenas xavantes que historicamente habitavam a região foram retirados do local em 1966, por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Eles foram transferidos pela ditadura militar uma nova aldeia, a São Marcos. No local, Damião foi separado dos pai e permaneceu em um internato, onde permaneceu até se casar.

Dez anos depois, Damião decidiu ir atrás do povo de Marãiwatsédé para lutar pela reintegração de suas terras. Entre 1979 e 1980, Damião lutou politicamente junto do seu povo, conquistando a retirada dos fazendeiros invasores da área. Após isso, conseguiu junto a outras lideranças a homologação da Terra Indígena Parabubure.

Damião já se reuniu com lideranças no Congresso, foi palestrante nas conferências climáticas Eco-92 e Rio+20 para falar das invasões de sua terra e agraciado em 2014 com o Prêmio Direitos Humanos, entregue pela então presidenta, Dilma Rousseff.