Garimpeiros usam armas e bebidas para recrutar jovens indígenas e explorar Terras Yanomami

Segundo relatório "Yanomami Sob Ataque", jovens homens são aliciados para trabalharem nos garimpos como seguranças, em troca de cachaça, comida e até armas de fogo.

Postado em: 19-04-2022 às 09h43
Por: Ícaro Gonçalves
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Segundo relatório "Yanomami Sob Ataque", jovens homens são aliciados para trabalharem nos garimpos como seguranças, em troca de cachaça, comida e até armas de fogo | Foto: Reprodução

A Terra Indígena Yanomami, no estado de Roraima, extremo-norte do país, constitui uma região há anos explorada por garimpeiros, que buscam minérios como ouro e cassiterita, usada na fabricação do estanho. Estima-se que cerca de 20 mil invasores estejam infiltrados no território, número que cresceu nos últimos anos com as flexibilizações na vigilância sobre a ação dos garimpeiros. A exploração das terras indígenas pelo garimpo têm deixado marcas irreparáveis nas terras, mas também na vida dos indígenas.

Conforme denúncia feito pelo programa Fantástico, da Rede Globo, é comum na região a exploração sexual de mulheres e meninas ianomâmi, que são coagidas pelos garimpeiros em troca de comida. Em outros casos, os jovens homens são aliciados para trabalharem nos garimpos como seguranças, em troca de cachaça, comida e até armas de fogo.

Essas e outras formas de violência contra os Yanomami foram catalogadas no documento “Yanomami Sob Ataque”, divulgado pela Associação Hutukara (HAY) no último dia 11. Para o vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, a entrega de armas e cachaça aos indígenas é um “plano do garimpo” para provocar conflitos internos.

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Jovens indígenas ganham armas para trabalharem nos garimpos | Foto: Reprodução

“Com essas armas e com a cachaça, os parentes ficam se matando. Isso eu julgo estratégico, é um plano. Dá muitas armas, dá muitos cartuchos, dá muitas pistolas e depois eles mesmo [os yanomami] ficam se matando”, afirma Dário. Segundo o relatório, o subgrupo ianomâmi Sanöma, natural região do Aracaçá, deixou de abrir roças e hoje vive em situação de dependência da alimentação oferecida pelos garimpeiros em troca de serviços, como carregar combustível e realizar pequenos fretes de canoa.

“Cria-se uma situação de insegurança alimentar. Muitas pessoas acabam atraídas por essas facilidades oferecidas pelo garimpo e acabam se desinteressando pelo trabalho da roça, que é desgastante”, explicou Paulo Cesar Basta, médico e pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em entrevista ao portal G1.

Exploração sexual

Para Dário Kopenawa, o aliciamento de jovens indígenas ainda coloca em risco a vida de mulheres e meninas nas aldeias. Com a presença de garimpeiros e a oferta de cachaça, elas se tornam alvos de abusos sexuais.

Comida e cachaça são usados pelos garimpeiros como moeda em troca de favorecimento sexual | Foto: Reprodução

“Aonde tem garimpo por perto, não tem como as mulheres e as meninas andarem, mesmo a comunidade delas sendo muito próximo de garimpos ilegais. Os garimpeiros oferecem cachaça e resto de comida, aliciando as mulheres. Essa é a realidade. Quando os garimpeiros dão cachaça, e a mulher está bêbada e caída, eles se aproveitam e elas são estupradas”, afirma Kopenawa.

Assim como a atuação do garimpo na Terra Yanomami, os relatos de estupros e submissão de jovens indígenas ao trabalho escravo, não são uma novidade. Em 2014, por exemplo, casos como esses, já foram denunciados ao poder público.

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